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EUA em foco

No campo o clima é de euforia com os resultados da safrinha. No mercado, é de cautela


Às vésperas do início da colheita de inverno, os produtores brasileiros estão em compasso de espera. Se no campo o clima é de euforia com os resultados da safrinha, no mercado o momento é de cautela. Com apenas uma pequena parcela da segunda safra de milho comercializada, eles aguardam uma definição sobre os rumos da próxima safra norte-americana para retomar as negociações. Uma ideia mais clara sobre como deve ser a próxima temporada nos Estados Unidos será divulgada nesta sexta-feira, quando o USDA, o departamento de Agricultura do país, divulga seu primeiro relatório de oferta e demanda para o ciclo 2013/14. 


As projeções iniciais do governo norte-americano mostram que o país pretende recuperar os prejuízos sofridos com a seca no ano passado semeando áreas recordes neste ano. Em março, o USDA estimou em seu relatório de intensão de plantio que o milho cobriria 31,2 milhões de hectares e que outros 39,4 milhões de hectares seriam destinados à soja. É a partir desses dados que o órgão calcula, agora em maio, o tamanho da safra de grãos do país. Considerando clima normal e produtividades na linha de tendência (49 sc/ha e 169 sc/ha, respectivamente), o potencial seria para mais de 90 milhões de toneladas de soja e 370 milhões de toneladas de milho.

Essas projeções, contudo, começam a ser postas à prova. Com apenas 2 milhões de hectares plantados até agora, o mercado questiona se os produtores terão tempo de semear toda a área planejada para o cereal. E, mesmo que consigam, não se sabe até que ponto o plantio tardio irá comprometer o desempenho das lavouras. De acordo com estudos das principais universidades de agronomia dos EUA, para evitar perda de potencial produtivo, o ideal é que as sementes estejam no solo até, no máximo, 20 de maio. Historicamente, perto de 15% do milho costuma ser semeado após essa data.

Neste ano, os EUA entraram no mês de maio com apenas 5% da área prevista para o cereal plantados, índice que não era visto desde 1984. Para dar conta dos 39,4 milhões de hectares que, segundo o USDA, são planejados para 2013/14, os produtores teriam que plantar quase 10 milhões de hectares por semana até o final do mês. E, ainda assim, terminariam a tarefa fora da janela ideal.

Em relatório divulgado ontem, a consultoria FCStone estimou que 20% das plantações serão implementadas após o período ideal – o que, em tese, significaria produtividades mais baixas e, consequentemente, produção menor. “Os impactos no desenvolvimento das lavouras ainda são incertos, todavia é de se considerar a hipótese de perda de 15 bushels/acre [940 quilos/ha] nestas áreas semeadas tardiamente, o que poderia reduzir o potencial de rendimento nacional em 12 bushels/acre [750 quilos/ha]”, afirma o documento.

“Vai demorara pelo menos mais duas semanas para que as sementes comecem a ir para o solo. Mesmo com clima bom durante o resto do ano, já espero queda de 10% a 15% na produtividade”, diz um produtor de Minnesota. “Plantamos 100 dos 600 acres [40 de 240 hectares] previstos antes da chuva começar e acho que vamos precisar replantar. Mas, mesmo se sair sol na metade da semana como está previsto, só vamos conseguir voltar para o campo em meados de maio”, conta outro produtor de Iowa.


Especialistas norte-americanos garantem, porém, que nem tudo está perdido. “Plantio tardio não significa, necessariamente, rendimentos reduzidos”, crava Rich Nelson, estrategista-chefe da consultoria Allendale. “Data de plantio obviamente não é o único fator que influencia a produtividade e provavelmente não é o mais importante”, reforça Darrel Good, professor do departamento de Economia Agrícola da Universidade de Illinois. Dados históricos do USDA comprovam a teoria. Em 1984, 35% das lavouras foram cultivadas fora da janela ideal. Ainda assim, a produtividade final do milho ficou 2% acima da média histórica, lembra Nelson.

Além disso, afirmam, com a tecnologia disponível nos EUA, os produtores têm condições de tirar o atraso rapidamente. Plantadeiras gigantes de até 16 linhas permitem que, com tempo bom, o plantio avance cerca de 30 pontos em apenas uma semana. A grande questão é se o clima irá possibilitar uma evolução dessa magnitude. As previsões mais recentes indicam que não. Apesar de apontar temperaturas em elevação nos próximos dias, os radares meteorológicos indicam que a chegada de uma nova frente fria no final de semana pode voltar a paralisar os trabalhos de campo na semana que vem.

Nesse caso, alguns produtores podem optar por remanejar para a soja áreas que inicialmente programadas para o milho. Porém, mesmo que todas essas variáveis negativas (área e menor e rendimento mais baixo) se confirmem, não devem colocar em xeque o abastecimento do mercado norte-americano. Simulação feita pelo Agronegócio Gazeta do Povo mostra que, mesmo que o plantio recue 5% em relação ao projetado pelo USDA em março e que a produtividade média das lavouras fique 7% abaixo da linha de tendência [cenário 9 na tabela abaixo] e que a demanda (consumo doméstico + exportações) cresça 10%, os EUA encerrariam a temporada 2013/14 com estoques 40% maiores que os do ciclo anterior.

“Acredito que haja uma possibilidade real de haver uma migração de área de milho pra soja em função da situação de clima que temos hoje. Mas não será uma área absurda, em torno de 2 a 3 milhões de acres [800 mil a 1,2 milhão de hectares], no máximo. Se você joga todas as projeções de rendimento dentro de uma área um pouco menor, os estoques norte-americanos ficam relativamente confortáveis.”, confirma Étore Baroni, analista da FCStone.

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