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Desafios e estratégias do agronegócio paulista para a safra 2025/26

Faesp debate crédito, rentabilidade e clima para a safra paulista 2025/26


Foto: Pixabay

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) realizou, em 16 de outubro, reunião conjunta das Comissões Técnicas de Grãos e de Política Agrícola para discutir o cenário do agronegócio paulista e nacional, os impactos econômicos sobre os produtores e as perspectivas para a safra 2025/26.

O presidente da Faesp, Tirso Meirelles, abriu o encontro destacando o momento delicado do setor após o tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, que reduziu em 75% as exportações ao país. Segundo ele, o cenário exige cautela e foco em gestão, diante das altas taxas de juros que desestimulam investimentos. Meirelles também defendeu a criação de uma comissão voltada a reunir dados e informações estratégicas para apoiar os produtores no planejamento e na busca por crédito.

Cláudio Brisolara, responsável pelo Departamento Econômico da Faesp, apresentou resultados de pesquisa com 263 produtores rurais paulistas. O levantamento mostrou que 53,4% não pretendem investir nesta safra, percentual que chega a mais de 70% entre os produtores de grãos. Já os de café e hortaliças demonstraram maior intenção de investir em infraestrutura e equipamentos.

A maioria dos entrevistados deve manter a mesma área plantada e o mesmo pacote tecnológico da safra anterior, reflexo dos juros altos e da baixa rentabilidade. Mais da metade apontou o crédito rural caro e a conjuntura desfavorável como principais entraves, enquanto 52,3% disseram ter interesse em seguro rural, mas enfrentam dificuldades com o custo dos prêmios e a falta de subvenção governamental. As Comissões concluíram que o atual modelo de seguro não atende às necessidades do produtor.

Brisolara também apresentou as projeções da Conab para a safra 2025/26. Nacionalmente, soja e sorgo devem crescer 3,6% e 8,4%, respectivamente, enquanto arroz, amendoim e milho tendem a recuar. Em São Paulo, o cenário é de estabilidade, com destaque para o sorgo, que deve crescer 21,8%. Ele reforçou que o crédito restrito, os custos elevados e as incertezas de mercado seguem como principais desafios do setor.

O comportamento dos preços também foi debatido. feijão e amendoim registram quedas e margens reduzidas; na cana-de-açúcar, o mercado é promissor, mas há dificuldades por conta da seca e do aumento dos custos. O boi gordo, por sua vez, vive momento positivo, com produtividade em alta e expectativa de expansão da demanda interna e externa.

Sobre o Plano Safra, Brisolara alertou que, apesar do aumento nominal de 1,6% nos recursos, o valor real caiu cerca de 3% devido à inflação. Além disso, parte significativa do montante é composta por Cédulas de Produto Rural (CPRs), que representam crédito privado, e não aporte público direto.

Convidado das Comissões, o gerente de mercado agronegócios do Banco do Brasil, Luis Gustavo Germano, abordou o tema do endividamento e informou que o banco estuda renegociar dívidas e ajustar o perfil de crédito dos produtores diante da elevação da inadimplência. Ele anunciou que o Banco do Brasil disponibilizará R$ 230 bilhões em crédito para a próxima safra, abrangendo custeio, investimento, comercialização e cadeia de valor.

As Comissões concluíram que a baixa rentabilidade é hoje o principal obstáculo dos produtores, comprometendo a capacidade de pagamento e novos investimentos. Apesar do otimismo quanto à produtividade, a incerteza econômica e a volatilidade de preços exigem gestão financeira rigorosa. “O produtor não define o preço que recebe, mas pode — e deve — administrar bem suas contas para evitar decisões equivocadas”, resumiu Tirso Meirelles.

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