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Fazendeiros apostam em ‘planta imortal’ para combater o envelhecimento

Planta do curry, também conhecida como “imortal”, pode ser utilizada para a produção de óleos que ajudam a retardar o envelhecimento da pele


Zadar, Croácia – Por gerações, moradores de Zadar, uma idílica cidade na costa adriática da Croácia, usaram as hastes secas e fibrosas e as flores amarelas de uma variedade comum de margarida selvagem para acender o fogo, principalmente para queimar os pelos dos porcos que iam para o espeto.

Cerca de cinco anos atrás, porém, fabricantes de cosméticos e a indústria de óleos essenciais começaram a usar um extrato raro da flor – conhecida como a planta do curry por seu cheiro picante – como ingrediente principal de cremes, pomadas e tinturas de qualidade, vendidos por seus supostos poderes rejuvenescedores. 

Os porcos que tirem seus próprios pelos, decidiram os moradores locais, voltando a atenção à coleta de maços da erva, antes ignorada, na esperança de criar uma nova indústria local, para somar recursos a uma economia baseada principalmente na construção civil, no cultivo de frutas, no azeite de oliva e no turismo.

Por enquanto, eles não tiveram muito sucesso.

“Deveria começar a passar esse negócio no meu próprio rosto”, diz Nino Simunic, de 48 anos, ignorando a vista bucólica de iates e barcas que cruzam o canal de Zadar.

Em vez disso, ele vasculhou um terreno selvagem com seu trator, trançando por uma colina de calcário, atrás de sinais da planta do curry, também conhecida como “imortal”, por sua habilidade de sobreviver em terrenos secos e permanecer viva por muito tempo depois de ter sido colhida.
Da guerra para a planta do curry

Em 2015, Simunic, veterano da guerra de independência da Croácia do começo da década de 1990, terminou uma carreira tumultuada de 15 anos na política local e se uniu aos moradores atrás de algum tipo de melhora financeira por meio da planta do curry. Freiras beneditinas de um convento local se tornaram suas sócias, oferecendo-lhe quase cinco hectares da terra que ele está tocando em troca de uma parte dos lucros, conta. Se houver algum.

É a primeira colheita de Simunic, e ele não está muito esperançoso. “Se cobrir pelo menos alguns dos custos com combustível e com a comida, fico feliz”, afirma.

A busca por lucro da planta de curry é impulsionada pelos contínuos problemas econômicos da Croácia. A crise financeira global foi, em grande parte, responsável por uma recessão que dura seis anos. E o movimento do país para integrar a Comunidade Europeia em 2013, trouxe para as prateiras das lojas bens de outros países do bloco a preços competitivos, aumentando os problemas de setores agrícola e manufatureiro já em crise.

Hoje, a nação de 4,2 milhões de pessoas depende do boom do turismo, principalmente na costa do Adriático, com a temporada de verão responsável por quase um quinto da economia.

Assim, os agricultores do interior e de cidades como Zadar estão sempre procurando novas maneiras de ganhar dinheiro.

É aí que entra a imortal – que tem o nome científico de Helichrysum italicum.

Potencial de mercado

O potencial de mercado para a planta surgiu na virada do século quando empresas de cosméticos como a L-Occitane começaram a patentear fórmulas anti-idade que levavam a planta.

“Os óleos essenciais encontrados na flor ajudam a melhorar a habilidade da pele de lutar contra os efeitos das agressões do ambiente, que reconhecidamente aceleram o envelhecimento”, afirma Lucy Primrose, diretora de aprendizado e desenvolvimento organizacional da L-Occitane. A linha de produtos da empresa com a planta se tornou adorada pelos clientes, conta ela.

Mas os gigantes franceses dos cosméticos compram a imortal de fazendas na Córsega. E até agora os fazendeiros de Zadar não tiveram muita sorte para criar sociedades diretas com empresas de cosméticos ou de óleos essenciais. Em vez disso, vendem a colheita de planta do curry em forma bruta para destiladores próximos, que agem como uma ponte para os fabricantes que possuem relacionamentos com empresas maiores de cosméticos.

Vender a imortal para os destiladores é um pouco mais lucrativo; o óleo das plantas consegue até 2.500 euros por quilo.

Os fazendeiros de planta do curry de Zadar acham que a qualidade e a quantidade de suas plantações se tornarão muito grandes para serem ignoradas pela indústria de cosméticos. Sua esperança permanece tão resiliente quanto a imortal.
Mercado negro da planta imortal

O mercado negro também está esperançoso. Durante a temporada da colheita, as notícias locais estavam cheias de histórias da polícia descobrindo vans lotadas de plantas do curry roubadas.

No primeiro ano depois que os fabricantes se interessaram pela planta, muitos fazendeiros tentaram aumentar a produção da safra. Mas isso envolve técnicas de irrigação e fertilização que diluem a qualidade do óleo extraído. Os destiladores então abaixaram o valor oferecido pelas plantas em estado bruto.

“Essa é uma história clássica na agricultura da Croácia, do sucesso à falência”, afirma Mario Skelin, conservacionista de plantas local, que aponta para uma clara falta de unidade entre os vários fazendeiros de planta do curry na hora de negociar com os destiladores e fabricantes. “Ainda não chegamos à parte da falência.”

Skelin tentou unir os fazendeiros para conseguir alguma vantagem na negociação com os destiladores. Até agora, porém o individualismo continua, com os fazendeiros pretendendo construir suas próprias destilarias.

“O problema é que não há padrão industrial. Temos que trabalhar melhor com nossa marca”, afirma Skelin, mostrando uma foto de três tubos de teste com extrato de imortal – cada um com um tom diferente de amarelo. Ele diz que vários compradores dão o preço do óleo sem explicar o critério os as decisões.

Alguns fazendeiros não estão apostando ainda e investem em outras plantas negligenciadas.

Ivica Djurica, de 62 anos, teve um excesso acidental de produção de plantas de curry seis anos atrás, com um excedente de 800 mil mudas no momento em que os locais começaram a procurar pela imortal. Ele vendeu suas mudas para fazendeiros ambiciosos da região, tornando-se uma engrenagem involuntária da indústria local de plantas de curry.

Agora, ele e sua mulher, Mirna Djurica, de 47 anos, esperam expandir seus negócios, plantando lavanda, hissopo e outras ervas medicinais na propriedade. A ideia é uma operação completa de óleos essenciais e de aromaterapia.

O solo sob seus pés é árido e empoeirado, e ela anda por um campo onde as cigarras cantam, escondidas nos arbustos na colina.

“Uma vida dura é boa para as plantas de curry. E essa é a vida que queremos”, afirma ela, voltando para o pequeno bangalô de pedra no final do campo. 

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