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Finame 'disputa' financiamento de máquinas com o Moderfrota

Equipamentos: Linha de crédito com taxa de juros mais baixa ainda não foi regulamentada


São Paulo - Mudanças nas linhas de financiamento do BNDES voltadas ao agronegócio podem interromper, ainda que por tempo limitado, a tomada de crédito para a compra de máquinas agrícolas. Uma "disputa" entre as linhas Moderfrota e Finame tende a fazer com que os produtores posterguem a tomada do financiamento para a aquisição do maquinário, segundo representantes da indústria.

Na semana passada, o governo anunciou um pacote de barateamento de linhas para a compra de máquinas e equipamentos. O Finame agrícola, que tinha juros de até 12,5% ao ano, teve esse custo reduzido para 4,5% anuais. Como a linha ainda depende de portaria do BNDES para ficar disponível aos tomadores, e como os custos do Moderfrota, programa criado em 2000 para financiar a compra de máquinas agrícolas, ficaram superiores aos do "concorrente", a tendência é de que a tomada de crédito estanque.

"A redução dos juros do Finame agrícola foi ótima para o setor, mas o Moderfrota deverá ficar no limbo por um tempo", diz Milton Rego, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) para o segmento de máquinas agrícolas. "Uma linha tende a substituir a outra. O que deve ocorrer é o Moderfrota ser deixado de lado até dezembro". O BNDES informa que a portaria necessária para tornar disponíveis os produtos está em fase final de confecção. A previsão é de que seja concluída ainda nesta semana.

Lançado em março de 2000, o Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota) foi um dos responsáveis pelo salto de mais de 30% nas vendas de máquinas no mercado interno apenas dois anos depois. Seus juros atuais são de 9,5% anuais ou de 7,5% no caso do Moderfrota Proger, voltado a agricultores de porte pequeno ou médio.

Para o plano safra 2009/10, estão previstos R$ 3 bilhões nas duas versões do Moderfrota, a mesma quantia para a temporada 2008/09. A diferença entre uma safra e outra foi a divisão do bolo. Na safra passada, foram R$ 2,5 bilhões para o Moderfrota e R$ 500 milhões para o Moderfrota Proger; no ciclo 2009/10, serão R$ 2 bilhões para o primeiro e R$ 1 bilhão para o segundo.

Dinheiro até há, argumenta Milton Rego, da Anfavea, mas continua o problema do acesso a esses recursos. "O produtor endividado não consegue novos financiamentos nos bancos", diz. Até maio, haviam sido desembolsados 61,4% do total previsto para o Moderfrota para o ano-safra que terminou em junho. No Moderfrota Proger, o desempenho foi um pouco melhor: desembolso de 84,1% até maio.

O primeiro semestre foi de quedas indiscriminadas em quase todos os quesitos da indústria de máquinas agrícolas. A perspectiva de que a "disputa" entre linhas de financiamento ocorra, ainda que por tempo limitado, também não contribui para um otimismo generalizado, mas há sinais, ainda que tênues, para que se consiga vislumbrar dias um pouco menos nebulosos para o segmento.

Os preços das commodities agrícolas, por exemplo, permanecem em patamares elevados, mesmo que não mais naqueles registrados até a primeira metade de 2008. A diferença entre o ano passado e este é que, agora, os preços altos têm sido praticados sob um cenário de custos de produção mais reduzidos.

"A renda do agricultor está um pouco melhor. E a safra está com perspectiva boa de clima", afirma Flávio Crosa, diretor de marketing e vendas da Agrale. "Estamos apostando na direção de que as vendas de tratores devem crescer um pouco mais".

Programas de financiamento subsidiado para a compra de tratores lançados, separadamente, pelos governos federal, paranaense e paulista, fizeram com que a queda do desempenho da indústria não fosse ainda mais forte. A Agrale busca redirecionar sua atuação nos programas governamentais. "Primeiro nos posicionamos para vender tratores com potência de até 30 cavalos, mas a demanda foi por máquinas de potência um pouco maior" disse.

Também há perspectivas melhores nos negócios com a Argentina, principal importadora de máquinas agrícolas fabricadas no Brasil. "A Argentina teve uma seca que, lá, se tem dito que foi de proporções bíblicas. Isso não deve se repetir na nova safra, o que deve ajudar as vendas do mercado", diz Rasso Von Reininghaus, vice-presidente de marketing e vendas da AGCO para a América Latina.

"O ano tem sido atípico. Foi fraco no primeiro trimestre, mas houve crescimento no segundo. Existe possibilidade de melhora no segundo semestre. O último trimestre de 2008 já havia sido muito ruim. Isso vai pesar na comparação", diz Sérgio Ferreira, diretor geral da Case no Brasil.

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