Fundação de cooperativa melhora a vida de produtores baianos de pupunha
A entidade é formada basicamente por pequenos sitiantes
Alguns chegaram até a abandonar as suas terras. A mudança surgiu com a fundação de uma cooperativa, que se tornou modelo na região.
A região do baixo sul da Bahia é famosa pela natureza exuberante, com praias de areia clara, palmeiras e turistas.
No campo, o visual é da mata atlântica fechada, com rios sinuosos e cachoeiras como a que ganhou o nome de Pancada Grande. A região dos municípios de Igrapiúna e Ituberá fica a 200 quilômetros de Salvador.
O lugar também tem tradição na agricultura, com o colorido do cacau, cultivos de coco da Bahia, lavouras de dendê e muita seringueira para a produção de borracha.
Nascido e criado na região, Adalto dos Santos resolveu ganhar a vida com a pupunha, uma palmeira usada para a produção de palmito. O plantio começou em 1995, no sítio da família, em Igrapiúna.
Nativa da Amazônia, a espécie vai bem em várias regiões do Brasil com clima quente e úmido. Tem crescimento rápido e forma touceiras com muitas brotações, chamadas de perfílios. A Bahia é o Estado que mais produz pupunha no Brasil.
Adalto explicou que nos primeiros anos de trabalho a família não sabia grande coisa sobre pupunha. Sem orientação, a colheita era fraca. O pior é que na hora venda entravam em cena os atravessadores. Eles compravam a pupunha nos sítios por preço baixo e depois revendiam mais caro para as indústrias. "Ficava difícil. Era muito trabalho e pouca renda", avaliou.
Com tantos problemas na lavoura, a família passava apertado. Adalto mora no sítio, com a mulher, dona Elineis, e duas filhas. "Muita preocupação. É muito difícil cidadão chegar do trabalho e ver a criança chorar sem ter aquele recurso para saber onde vai buscar alimentação para aquela criança", disse.
"Chegava a faltar feijão, carne, sabão e o leite da criança", lembrou dona Elineis.
A situação começou a mudar em 2004. Foi quando alguns agricultores da região resolveram fundar a Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia, a Coopalm, sediada em Ituberá.
A entidade é formada basicamente por pequenos sitiantes, como Raimundo dos Santos. Com três hectares de pupunha, ele é o atual presidente da cooperativa. "Tinham muito abandono de terra. Muita gente indo embora para a cidade grande. A pupunha mudou a realidade", contou.
O seu Wanderley do Rosário, atual secretário de Agricultura de Ituberá, também foi um dos fundadores da cooperativa. Ele é produtor de pupunha e já trabalhou em várias associações e sindicatos rurais.
"Nós entendemos que isoladamente estaríamos sempre na mão dos atravessadores. Então, resolvemos criar essa cooperativa porque nós vamos ter mais força, uma produção maior. Nós vamos poder negociar melhor até com os comerciantes. E acreditamos que esse é o caminho mais correto para o pequeno produtor", explicou seu Wanderley.
No início, a entidade agrupou apenas 37 agricultores. Com o tempo, o número foi aumentando e o trabalho ganhando corpo.
Hoje, a cooperativa já soma 484 associados. Tem sede própria e uma equipe de administradores, técnicos e agrônomos. Enfim, uma estrutura profissional para apoiar as famílias de produtores.
Para ver na prática isso funciona, a equipe de reportagem saiu de Ituberá. Depois de duas horas em estradas de terra, chegaram ao destino: um assentamento de reforma agrária, no município de Igrapiúna.
O Assentamento Mata do Sossego foi criado oficialmente em 1997 numa antiga fazenda de cacau. Cada família recebeu um lote de 17 hectares e uma casinha, construída pelo Incra.
A Agrovila, organizada em torno de um pátio central, conta com luz elétrica, telefone e escola para as crianças. Setenta e duas famílias do lugar produzem pupunha e são filiadas a cooperativa. Sulânia, Aline, Alana, Daniel, Ezequiel, Rafael, Raissa e o pequeno Alan. Quase todos nasceram na Agrovila.
A dona Nilza e seu Zequinha convidam a equipe para conhecer a lavoura que fica há um quilômetro da agrovila. No lote, eles mantêm uma área de reserva e alguns produtos para o consumo da família, como mandioca, caju, mamão, cupuaçu e banana. O plantio comercial de pupunha ocupa um hectare e meio.
O seu Zéquinha e a dona Nilza contaram que a propriedade tem todas as etapas da produção da pupunha. O trabalho começa no viveiro de mudas. As plantas foram formadas com sementes compradas pela cooperativa para todos os produtores. Esse tipo de compra, em volumes maiores, garante preços mais baixos pras famílias.
Além de ir à escola todo dia, nos finais de semana Sulânia e Aline ajudam no serviço do viveiro. "A gente rega e tira os matos e as folhas secas da cobertura", disse Aline.
Conforme as plantas vão crescendo outro trabalho importante é fazer a seleção. As mudas com espinhos são descartadas e só as plantas com caule liso serão aproveitadas. Com sete meses de idade as mudas estão prontas para o plantio no campo.
O seu Zéquinha e a dona Nilza adotam espaçamento de 1,80 metro entre linhas e 75 centímetros entre plantas. Nos primeiros meses é importante fazer capina para controlar o mato e caprichar na adubação com NPK.
Para reduzir custos, o adubo também é comprado em grande quantidade pela cooperativa e depois rateado pelos agricultores. Em muitas áreas, os agricultores plantam a palmeira em consórcio com feijão carioquinha.
Com pouco mais de um ano de idade, as palmeiras já começam a formar corredores sombreados, bonitos. Em média, cada hectare concentra 7,2 mil touceiras de pupunha. Com um ano e oito meses, a lavoura chega ao ponto de colheita.