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Gasolina mais eficiente com biocombustível

A adição do biocombustível, feito a partir do bagaço da cana e capim, chega a 20%


A busca pela redução da dependência do petróleo como fonte energética predominante do setor automotivo deu um passo relevante no curso de Mestrado em Química de Recursos naturais da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Na semana passada, a acadêmica Daniele Cristina Adão apresentou tese sobre a possibilidade de utilização de combustível elaborado com restos de agricultura em adição à gasolina.

Após dois anos de pesquisa, entre os laboratórios da UEL e Universidade de Campinas (Unicamp), o trabalho concluiu que o uso de 20% do biocombustível pode até melhorar a eficiência da gasolina. De quebra, ajudaria a diminuir a dependência dos combustíveis fósseis, que são finitos, a partir do uso de bagaço de cana e capim. A tese foi bastante elogiada pela banca examinadora composta pelo professor de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alexandre Leiras Gomes, o professor de Engenharia Química da Unicamp, José Dilcio Rocha, e pela orientadora do trabalho, Carmem Guedes, da UEL.

A mestranda contou à Folha que sua intenção inicial era pesquisar a utilização de bio-óleo - composto líquido obtido pela pirólise (processo controlado de aquecimento) de biomassa - em adição ao óleo diesel. O projeto foi frustrado porque o óleo diesel, que tem base no petróleo, não se misturou com o óleo de base vegetal. Porém, outros experimentos mostraram que o biocombustível - fração mais ácida do bio-óleo que é separada por reações químicas - pode se associar ao álcool, e dessa forma à gasolina. Numa hipotética escala comercial, significaria o advento de um combustível obtido a partir do bagaço da cana usada na produção do álcool, misturado ao próprio álcool que é adicionado na gasolina.

""O resultado final foi favorável, já que o biocombustível ajudou a elevar a octanagem da gasolina. Em tese, isso indica melhora da eficiência (do motor)"", contou a pesquisadora Daniele Adão. ""A partir daí, surgiu a proposta de aprofundar a pesquisa para utilização do biocombustível na gasolina A - que tem 20% de álcool"". A intenção da mestranda é prosseguir o trabalho em nível de doutorado.

A professora e orientadora, Carmem Guedes, ressaltou que um dos méritos da pesquisa foi o foco na biomassa descartada na atividade rural. Ao contrário do biodiesel e H-Bio, modalidades de biocombustível em experiência no Brasil baseadas em oleaginosas como soja e mamona, o biocombustível desenvolvido na Unicamp e usado na pesquisa da UEL utiliza rejeitos do campo.

""A pesquisa apresentada aqui abre possibilidades de melhoria do combustível, não só do ponto de vista tecnológico, mas ambiental. A oleaginosa usada para produzir biodiesel passa por um processo longo, que vai do plantio à colheita, e deixa de ser comercializada como alimento"", analisa. ""Já o biocombustível obtido do bio-óleo ajuda a dar destino final a substâncias que já não tinham mais serventia na agricultura"".

Petrobras - O processo de produção de biocombustível a partir de rejeitos da agricultura tem despertado grande interesse da Petrobras. Em 2004, a empresa criou um órgão de pesquisa, chamado Gerência de Gás a Líquido (GTL), que visa desenvolver, até 2011, combustível a partir de biomassa descartada na indústria sucroalcooleira.

O coordenador da GTL, o engenheiro químico da Petrobrás e professor da UFRJ, Eduardo Falabella de Sousa Aguiar, é um entusiasta do trabalho desenvolvido nesta área pelo curso de Engenharia Química da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Em junho deste ano, Souza Aguiar disse, em entrevista à Folha, que a Petrobras pode financiar a instalação de uma planta piloto em Maringá para produção de biocombustível a partir de bagaço de cana - medida que permanece em análise na direção da empresa, no Rio de Janeiro. A idéia visa aproveitar o potencial energético desperdiçado pela indústria sucroalcooleira das regiões norte e noroeste do Paraná.

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