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Indústria diz ter milho suficiente e tenta derrubar selo transgênico

Entrevista com Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileiras das Indústrias da Alimentação (Abia)


Apesar de poucas cooperativas e cerealistas estarem segregando milho transgênico, a chegada do produto ao mercado consumidor será tranquila. A avaliação é do presidente da Associação Brasileiras das Indústrias da Alimentação (Abia), Edmundo Klotz. Ele garante que não existe risco de falta de milho convencional e considera apressado o posicionamento da Associação Brasileira da Indústria de Milho (Abimilho), que tenta garantir 2 milhões de toneladas de cereal comum, ante uma produção nacional de até 50 milhões de toneladas ao ano.

No campo, a expansão do milho Bt tem sido bem mais rápida que a da soja RR. Legalizada comercialmente há quatro safras, a oleaginosa geneticamente modificada (GM) cobre mais de 50% das lavouras no Paraná. Plantado apenas em pequenos lotes no verão, o cereal transgênico chegou perto de 30% da safrinha. Os números são da Expedição Safra RPC, que consulta cooperativas e produtores duas vezes ao ano sobre o assunto. Os agricultores dizem que o cereal pode ultrapassar o índice da soja já na próxima safra. Detalhe: o plantio de verão e o de outono rendem 15 milhões de toneladas de milho no estado, 3 milhões a mais que a produção de soja, e ainda não há um sistema de segregação eficiente para o cereal.

Contudo, os estoques de milho do verão garantem fornecimento de grãos convencionais à indústria por enquanto, afirma Klotz. Além disso, ele sustenta que não há uma resistência aos transgênicos, mas apenas contra o triângulo amarelo que os alimentos que contêm milho Bt deverão carregar na embalagem. Leia a entrevista:

Como será a recepção do milho desta safra pela indústria?

Ainda existe bastante milho convencional no mercado. Evidentemente, ninguém vai correr para usar o milho transgênico, é uma questão de disponibilidade. Ainda que não haja milho convencional de sobra, pode-se importar. Mas essa situação não deve ser enfrentada agora. A expansão da nova tecnologia no Paraná não terá reflexo proporcional no Brasil, nem no mundo. As indústrias têm contratos de fornecimento em diversos estados que não plantam sementes geneticamente modificadas.

A cadeia produtiva deveria ter se preparado melhor para a chegada do milho transgênico?

A cadeia não se organizou ainda porque não há necessidade. O milho geneticamente modificado ainda não está tão difundido fora do Paraná. Não estamos percebendo essa premência de “ou compra transgênico ou paga preço adicional”. Ainda há tempo e cada indústria tem seu planejamento.

Quando a segregação será uma medida necessária do ponto de vista da indústria?

Eu tenho certeza que as indústrias de alimentos têm isso planejado. Elas precisam garantir fornecimento de matéria-prima. O momento em que a segregação será realmente necessária ainda não chegou. Pode chegar logo, na próxima safra, dependendo do uso da nova tecnologia.

Sem segregação, existe o risco de o milho transgênico ser usado como se fosse convencional?

O milho transgênico é detectável em qualquer tempo. Os testes podem ser feitos na cooperativa ou na própria fábrica. Se alguma empresa vende milho transgênico como convencional, na mesma hora recebe de volta. Não tem o menor perigo de alguém empurrar alimento geneticamente modificado. As indústrias terão todo o cuidado para receber milho a partir de agora.

Em relação à rotulagem, que medidas a indústria está propondo?

A rotulagem atual é inadequada. Existe um projeto de lei (o PL 4.148, de autoria do deputado Luiz Carlos Heinze, do PP gaúcho) que caminha no Congresso. O que nos incomoda é a exigência de informações técnicas que não esclarecem o consumidor e a impressão do triângulo amarelo com um T de transgênico (instituído pela Decreto 4.680/03 e pela Portaria n ° 2.658). É preferível escrever simplesmente que o alimento contém ingredientes transgênicos. Essa proposta ainda não foi votada (o PL de Heinze chegou a Plenário dia 17). Queremos identificar os produtos transgênicos, mas de uma forma mais correta.

O que existe de errado?

O triângulo amarelo não é esclarecedor, se parece com sinais de alerta do trânsito e inibe a venda. Além disso, o “T” no meio do triângulo não explica nada. É melhor informar se o alimento contém ou não transgênico – não temos nenhum problema com isso, o símbolo é o problema. Muitos consumidores não sabem o que o símbolo amarelo nos alimentos significa.

Houve redução no consumo dos alimentos que já têm o triângulo amarelo na embalagem?

Até hoje a rotulagem está confinada. Essa preocupação não atingia tantos setores. Nos alimentos que já usam o triângulo, não me parece que teve alguma reação muito forte. Mas o milho aumenta o número de alimentos que terão de ser identificados e esse problema pode ocorrer. Nós queremos rotular, sim, mas para deixar bem claro. Quem legislou até agora colocou um símbolo que não diz nada. Mas isso tudo é um primeiro momento. Os transgênicos prometem ser a saída para alimentar o mundo e, no futuro, serão vistos de outra forma.

A indústria da semente diz que o Bt polui menos, porque exige menor número de aplicações de inseticidas, e cresce mais saudável. A indústria de alimentos, no futuro, vai preferir o milho transgênico?

As máquinas não têm preferência. A transgenia não altera a produção dos alimentos, o produto final é o mesmo. As vantagens ao que parecem superam eventualmente alguma restrição. Não foi encontrado nenhum sinal negativo no alimento transgênico, que coloque em risco a saúde das pessoas, até o momento. Daqui a dez ou vinte anos, vai ser difícil imaginar o mundo sem essa tecnologia.

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