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Inflação provavelmente ainda não atingiu o pico

A balança ainda pesa para uma aceleração da inflação americana nos próximos meses, mesmo com o maior ritmo de aperto monetário


Foto: Pixabay

Para atingir seus objetivos de política monetária a autoridade monetária deve ter credibilidade junto aos agentes de mercado para “ancorar” as expectativas inflacionárias, o que faz com que tanto suas ações quanto sua comunicação sejam relevantes na sua atuação. As informações abaixo são do relatório da hEDGEpoint Global Markets.

“Isso faz com que a narrativa do Fed seja extremamente relevante, e o atual discurso de seu presidente e diretores é de que atingimos um pico inflacionário. Apesar de vermos fundamentos que corroborem com essa narrativa, a balança ainda pesa para uma aceleração da inflação americana nos próximos meses, mesmo com o maior ritmo de aperto monetário”, afirma o analista de Grãos e Macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets, Alef Dias.

“Dentre os pontos que apontam para a continuidade da aceleração da inflação estão: o balanço apertado das commodities energéticas, aluguéis mais caros por conta das maiores taxas de hipoteca, aumento do custo do trabalho e PPI ainda em aceleração”, diz.

Novamente, a divulgação do CPI (índice de inflação ao consumidor) dos EUA assustou os mercados, com uma nova aceleráção mensal (1,3% Vs 1,0% no mês anterior) levando a um novo pico de 40 anos para a variação anual, em 9,7%. Além disso, a variação novamente ficou acima das expectativas dos analistas, que era de 8,8%. Como era esperado, a nova surpresa inflacionária levou a novas altas do índice Dólar (DXY) e dos juros (principalmente de curto prazo) dos títulos do governo  americano, e os contratos futuros atrelados politica monetária do Fed já apontam para uma expectativa de elevação de 1 ponto percentual da Fed Funds Rate - taxa básica de juros americana - na próxima reunião de política monetária do banco central americano.

Dada essa perspectiva de uma inflação ainda em aceleração, algumas autoridades monetárias e analistas têm defendido a visão de que chegamos em um pico"
inflacionário, ou seja, que a variação dos índices de preço deve ser menor nos próximos meses. Os principais pontos que corroboram com essa visão são: A desvalorização das commodities principalmente das agrícolas e metálicas - que vem ocorrendo desde a segunda metade de junho, e a redução da atividade econômica global por conta do aumento das taxas de juros nas economias centrais.

Esses são movimentos relevantes e devem reduzir parte da pressão inflacionaria recente nos EUA e demais economias desenvolvidas. Contudo, também vemos pontos relevantes contrários a essa visão de que atingimos um pico inflacionário, o que nos mostra que, mesmo com o aumento de 1 p.p. na reunião do FOMC (comitê de política monetária do Fed) o banco central americano pode seguir "atrás da curva"* Primeiramente, é interessante analisarmos a decomposição dos itens do CPI americano: os preços de energia e de habitação compõe mais de 40% do índice de preços ao consumidor americano, e os fundamentos destes componentes dificilmente contribuiram para uma desaceleração da inflação americana nos próximos meses.

Falando dos preços de energia  que tem um peso de 8.7% no CPI - os balanços de oferta e demanda das commodities energéticas seguem apertados, o que torna dificil quedas nos preços das mesmas - e novos movimentos de alta não podem ser descartados. A capacidade ociosa no lado da oferta segue extremamente baixa, e condições financeiras mais apertadas tendem a manter essa tendência. Com isso, a redução da demanda gerada pela desaceleração econômica tem de ser alta para compensar a oferta reduzida e levar a uma queda consistente dos preços.

Já com relação aos custos de habitação - que tem um peso de 32,3% no CPI a elevação desses preços tende a ser gerada pelo próprio Fed nos próximos meses. O aumento das taxas de juros tem elevado a taxas de hipotecas, o que tende a reduzir a aquisição de casas próprias e aumentar a demanda pelo aluguel de casas. Esse movimento leva a um aumento dos valores dos aluguéis e, consequentemente, a uma alta dos custos com habitação. Além dos preços de energia e habitação, o mercado de trabalho americano também segue sendo um fundamento inflacionário, dado que ele está apertado mesmo em meio à recente desaceleração da atividade econômica.

O que tem implicado em maiores salários e consequentemente maiores custos do trabalho para o produtor americano. E por último mas não menos importante, o PPI (índice de preços para o produtor americano) também mostrou uma aceleração em junho, apesar da redução do diferencial entre PPI e CPI nos últimos meses, ele segue em patamares historicamente elevados. Em outras palavras, os produtores americanos ainda devem seguir repassando custos aos consumidores nos próximos meses e seguir pressionando o CPI.

Em síntese

Para atingir seus objetivos de política monetária - que no caso do Fed é manter a estabilidade dos preços com um nível de desemprego sustentável a autoridade monetária deve ter credibilidade junto aos agentes de mercado para "ancorar" as expectativas inflacionárias, o que faz com que tanto suas ações quanto sua comunicação sejam relevantes na sua atuação. 

Isso faz com que a narrativa do Fed seja extremamente relevante, e o atual discurso de seu presidente e diretores é de que atingimos um pico inflacionário. Apesar de vermos alguns fundamentos que corroborem com essa narrativa, ainda vemos um maior peso dos fundamentos que apontam para uma aceleração da inflação americana nos próximos meses, mesmo com o maior ritmo de aperto monetário.

Dentre os pontos que apontam para a continuidade da aceleração da inflação estão: o balanço apertado das commodities energéticos, aluguéis mais caros por conta das maiores taxas de hipoteca, aumento do custo do trabalho e PPI ainda em aceleração.

 

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