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Mancha Ramulária: entenda o aumento da expressividade e os desafios do manejo sustentável

Solução de controle passa pelo manejo sustentável


Hoje, esse fungo provoca até 75% de redução da produtividade, sendo o mais severo da cultura Hoje, esse fungo provoca até 75% de redução da produtividade, sendo o mais severo da cultura - Foto: Divulgação

Por Luis Demant*

Próximos da liderança de exportação do algodão, os cotonicultores brasileiros conseguem obter bons padrões de produtividade e de qualidade devido às características nacionais de plantio, como clima, solo e temperatura. No entanto, essas mesmas condições também são ideais para a ocorrência de surtos epidêmicos da mancha ramulária (Ramularia areola). Essa é uma doença específica do algodão e que ganhou relevância nos últimos dez anos; antigamente, ela ocorria apenas no final de ciclo e não causava grandes perdas.

Hoje, esse fungo provoca até 75% de redução da produtividade, sendo o mais severo da cultura. Uma curiosidade é que o nome científico da doença foi recentemente alterado para Ramulariopsis pseudoglycines. A classificação do agente causal do fungo foi alterada após a análise molecular do mesmo e, hoje, é possível identificar que, na realidade, a doença é causada por outro patógeno, porém sem qualquer outra alteração de manejo ou atuação no campo. 

Sendo assim, a mancha ramulária que é observada em todas as regiões produtoras do algodão – Mato Grosso, Bahia, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul - tem sua dispersão facilitada pela ação do vento a partir das primeiras lesões. A doença gera redução da capacidade fotossintética da planta, o que impacta o florescimento, a formação e qualidade da fibra, provoca o desfolhamento precoce e a queda da produtividade.

Os sintomas iniciais são pequenas lesões anguladas, delimitadas pelas nervuras, nas folhas mais velhas e durante a fase de reprodução da planta. Com o fortalecimento da doença, é possível observar manchas de coloração branca com aspecto pulverulento. O fungo inicia na parte inferior da folha e pode progredir para a superior quando as condições do ambiente forem de alta umidade.

Para o controle da doença, o manejo sustentável deve incluir boas práticas com a adoção de produtos químicos e biológicos. Entretanto, alguns estudos observaram a resistência da mancha ramulária a alguns grupos químicos, pois, atualmente, são feitas, em média, 8 aplicações de fungicidas para controle.

A adoção das soluções químicas requer a utilização dos produtos de acordo com a recomendações descritas em bula. As carboxamidas, por exemplo, não podem ser aplicadas mais de três vezes durante o ciclo do algodão. Além disso, a rotação do modo de ação e dos ingredientes ativos, ao longo da cultura, evita a pressão de seleção sobre os patógenos, o surgimento e a resistências da doença a fungicidas.

É importante também analisar estrategicamente qual ativo aplicar e o momento ideal, de acordo com as especificações de dose e volume de calda, por exemplo, para que ele seja mais efetivo. 

As boas práticas de manejo incluem a escolha correta do material e da época de plantio, a utilização de sementes certificadas e variedades com tolerância às doenças, bom preparo de solo e adubação, rotação de controle e eliminação de plantas daninhas. Somadas, essas táticas colaboram para o sucesso da lavoura e da rentabilidade.

Outra doença expressiva na cultura de algodão tem sido a mancha-alvo (Corynespora cassiicola), pela sucessão de plantio na mesma área com a soja. Esse fungo necrotófico sobrevive em restos culturais, como as folhas secas remanescentes da safra, talos e sementes no chão e, ainda, pela locomoção de máquinas pela lavoura. 

Após a safra da soja e o início da semeadura do algodão, o inóculo encontra um hospedeiro e, assim, infecta a nova planta. Esse ciclo repete-se a cada plantio, caso não haja o tratamento adequado, sendo a doença levada à cultura subsequente.

A mancha-alvo gera uma lesão com pontuações escuras e um halo amarelo nas folhas. A doença também reduz a área de fotossíntese, consumindo a energia da planta e prejudicando o desenvolvimento.

Os casos de resistência a alguns grupos químicos também têm crescido na mancha-alvo, pois o uso inadequado de fungicidas pode levar a uma pressão de seleção que tem como consequência o estabelecimento de populações de fungos cada vez mais resistentes aos ativos.

Uma alternativa são os produtos biológicos. O advento dessas soluções é uma realidade na cotonicultura para o controle de doenças. Do ponto de visto técnico, elas são uma nova opção de ferramenta, pois conseguem ter a mesma efetividade dos químicos em programas de manejo.

Tanto as tecnologias biológicas como as químicas que estão no mercado têm no escopo os mais altos investimentos para levar ao campo moléculas e formulações inovadoras e, assim, tornarem o agronegócio cada vez mais produtivo e sustentável. 

Para isso, também é preciso que toda a cadeia produtiva esteja engajada para promover o melhor manejo. Atualmente, especialistas e produtores têm se deparado com a incidência cada vez mais precoce das doenças nas plantações e o trato ideal acontece por meio da prevenção e da observação desde instalação da cultura. O emprego das boas práticas durante todo o ciclo e a utilização correta das formulações podem proporcionar uma boa produtividade. O controle mais eficiente ainda é o preventivo.

*Luis Demant é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) com mestrado em fitopatologia e Gerente Técnico de Fungicidas da FMC para a América Latina.
 

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