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Mercado mundial do arroz em equilibrio

A produção mundial 2022/2023 também pode ser afetada se os produtores forem forçados a reduzir o uso de insumos para limitar seus custos de produção


Foto: Marcel Oliveira

Em fevereiro, os preços mundiais do arroz subiram em média de 1%, em grande parte devido aos preços mais altos nos EUA. Os preços tailandeses mostraram volatilidade como resultado de variações nas taxas de câmbio do bath em relação ao dólar. No resto da Ásia, os preços estiveram relativamente estáveis, exceto no Paquistão, onde desceram por causa da forte concorrência da Índia. A guerra na Ucrânia, que afeta fortemente os mercados de commodities, ainda não teve nenhum impacto nos mercados mundiais de arroz. A Rússia e a Ucrânia estão apenas envolvidas marginalmente no comércio mundial de arroz. Entretanto, dentro de alguns meses, o conflito poderia ter um impacto nos custos de produção nas regiões produtoras de arroz da Ásia, devido ao aumento dos preços da energia, de fertilizantes e de transporte, já fortemente afetados pela pandemia de Covid-19.

O aumento dos preços do petróleo e dos grãos lembra, em alguns aspectos, a crise de 2008, quando os riscos inflacionários nas economias asiáticas, por ser deficitários em trigo, milho e oleaginosas (além do óleo de palma), levaram as autoridades locais a restringir as exportações de arroz para limitar os efeitos inflacionários nos preços ao consumidor, o que não parece ser o caso em 2022. Pelo contrário, os exportadores asiáticos procuram manter, ou recuperar, as parcelas de mercado, dadas as abundantes reservas exportáveis. Porém, os exportadores procuram favorecer o comércio regional para reduzir os custos de transporte. Nesta perspectiva, o Vietnã poderia se concentrar ainda mais nos mercados do sudeste asiático e chinês. A Índia, que já é o principal fornecedor da África, também poderia aumentar suas parcelas de mercado na África. Mas, há um alto risco de que os preços mundiais do arroz aumentem até o final do ano como resultado de um possível aumento dos preços domésticos nos mercados asiáticos.

A produção mundial 2022/2023 também pode ser afetada se os produtores forem forçados a reduzir o uso de insumos para limitar seus custos de produção. Este cenário, se realizar, teria um grande impacto sobre os preços mundiais do arroz em 2023. Em fevereiro, o índice OSIRIZ/InfoRice (IPO) subiu 1,3 pontos para 190,3 pontos (base 100=Janeiro de 2000) contra 189,0 pontos em janeiro. No início de março, o índice IPO estava firme em torno de 194 pontos, em função das tensões nos preços domésticos na Tailândia e antecipações de novas demandas de importação.

Produção mundial

Segundo estimativas da FAO, a produção mundial do arroz em 2021 aumentou 0,7% para 782 Mt (519,3 Mt base beneficiado) contra 776,7 Mt em 2020. A
produção asiática aumentou graças a uma safra recorde na Índia. A produção melhorou também na China, Tailândia e Vietnã. Nos Estados Unidos, a produção contraiu 10% em 2021 devido a uma redução das áreas plantadas substituídas por culturas mais lucrativas (milho, soja). No Mercosul, a produção no Brasil melhorou em 4,5% em relação a 2020.

Entretanto, poderia cair 12% em 2022. Na África subsaariana, a produção de arroz voltou a sofrer das más condições climáticas, especialmente na África
Ocidental. Em Madagascar, estima-se que a produção também tenha diminuído 3,5% em 2021. Comércio e estoques mundiais Em 2021, o comércio mundial do arroz aumentou significativamente em 13% para 51,5 Mt contra 45,6 Mt em 2020. Este é o maior aumento desde 2017. As necessidades de importação aumentaram 10% no sul da Ásia, especialmente no Bangladesh. As importações chinesas também aumentaram, bem como na África subsaariana, onde se observou um forte crescimento, especialmente na Nigéria com a reabertura de suas fronteiras terrestres no final de 2020. A Índia bateu todos os recordes de exportação para 21,4 Mt, melhorando de 48% seu recorde  anterior em 2020 e respondendo por 42% do comércio mundial. A Tailândia, apesar de um forte aumento nas vendas externas durante o segundo trimestre do ano, permanece na terceira posição atrás do Vietnã, cujas vendas aumentaram em 5,5% em 2021. Em 2022, as primeiras projeções indicam um aumento adicional no comércio mundial, mas de apenas 3,8% para 53,4 Mt.

Os estoques mundiais de arroz no final de 2021 teriam aumentado em 1,5% para 189,3 Mt contra 186,4 Mt em 2020, representando 37% das necessidades mundiais, e superiores de 2 pontos em relação a média dos últimos cinco anos. Este aumento deve-se principalmente ao incremento dos estoques indianos graças às boas safras em 2021. Por outro lado, os estoques chineses ficaram em queda de 0,5%, mas ainda são significativos, equivalentes a 70% do consumo anual e 55% dos estoques mundiais. Os estoques nos principais países exportadores aumentaram novamente em 2020/21 em 5% para 52,5 Mt, o equivalente a 28% dos estoques mundiais.

Na Índia, os preços do arroz ficam estáveis e permanecem os mais competitivos do mercado. Após do volume recorde de vendas em 2021, a Índia estará novamente em condições de responder à forte demanda global 2022, especialmente da África para o arroz não aromático, e para o arroz Basmati (20% do total de suas exportações) destinado principalmente aos mercados do Oriente Médio. As únicas restrições que poderiam retardar as vendas externas viriam de novos aumentos nos custos do frete marítimo e atrasos nas saídas devido ao congestionamento nos portos de embarque.

Até 2022, estima-se que as exportações indianas poderão cair 15% para 18 Mt, mas por enquanto, as vendas externas apontam um avanço de 10% em relação ao ano passado, na mesma época. Em fevereiro, o arroz indiano 5% quebrado marcou $ 344/t Fob contra $ 342 em janeiro. No início de março, os preços estavam estáveis. Na Tailândia, os preços de exportação mostraram fraqueza no início do mês, devido à valorização do bath em relação ao dólar. Entretanto, uma tendência ascendente é perceptível desde o final de fevereiro, devido às tensões nos mercados domésticos. Em fevereiro, as exportações atingiram 470.000 t contra 460.000 t em janeiro. Em 2022, as autoridades tailandesas pretendem um aumento adicional nas vendas externas para 7 Mt ou 7,5 Mt.

Em fevereiro, o preço do arroz Tai 100%B permaneceu estável em $ 415. Em contraste, o arroz parboilizado subiu para $ 409 contra $ 404 anteriormente. O quebrado A1 Super subiu em 4% para $ 381 contra $ 366. No início de março, os preços estavam firmes. No Vietnã, os preços de exportação permaneceram estáveis, aproximandose dos preços tailandeses. Em 2022, o Vietnã espera exportar pelo menos 6 Mt, mas procurando rever sua estratégia comercial, devido aos custos logísticos, concentrando-se ainda mais em seus clientes asiáticos, que já respondem por mais de 75% de suas exportações, sendo as Filipinas o principal cliente. O Vietnã também espera consolidar suas vendas para a União Europeia, no âmbito do acordo de livre comércio, e com uma perspectiva global de exportar menos em volume e mais em valor, graças a um melhoramento na qualidade do arroz exportado. Em fevereiro, o Viet 5% foi negociado a $ 399 contra $ 397 em janeiro. No início de março, os preços tinham tendência a subir, aproximando-se da paridade com os preços tailandeses. No Paquistão, os preços do arroz caíram em média 2%, limitando os diferenciais de preços com a Índia. O Paquistão espera concentrar suas vendas para a China, especialmente no segmento de arroz quebrado. Esta estratégia concorda com a expectativa de limitar as exportações para destinos mais distantes devido aos altos custos de frete marítimo.

Em fevereiro, Pak 25% foi negociado a $ 329 contra $ 336 anteriormente. No início de março, os preços continuavam fracos. Na China, as autoridades planejam aumentar as importações, o que seria uma boa oportunidade para os exportadores asiáticos que buscam novos mercados regionais. A China aproveita também dos preços mundiais mais atrativos para compensar o déficit na produção em relação às necessidades de consumo. O Vietnã continua sendo seu principal fornecedor, mas diversificando suas fontes de abastecimento principalmente da Tailândia, Birmânia, Índia e Paquistão. Nos Estados Unidos, os preços do arroz aumentaram em 2,6% dentro de um mercado bastante ativo, e com a perspectiva de uma nova redução na oferta exportável devido a uma provável redução na produção em 2022. As tensões que afetam os mercados mundiais de grãos e oleaginosas podem limitar os plantios de arroz que começarão nas próximas semanas. Em fevereiro, as exportações atingiram 300.000 t contra 210.000 t em janeiro. O preço indicativo do arroz Long Grain 2/4 subiu para $ 606/t contra $ 591 em janeiro. No início de março, o preço continuava firme em $ 620. Na Bolsa de Chicago, os preços futuros do arroz paddy subiram 3,6% para $ 336/t contra $ 324 em janeiro. No início de março, os preços permaneciam firmes para$ 356.

No Mercosul, os mercados de exportação foram reativados, após das vendas limitadas no início do ano. Em fevereiro, as exportações brasileiras aumentaram 9% para 82.000 t (base beneficiado), já 120% a mais que em 2021 na mesma época. As exportações uruguaias também aumentaram significativamente para 105.000 t contra 27.000 t em janeiro, mas ainda ficando 9% atrás de 2021 na mesma época. O preço indicativo do arroz paddy brasileiro se valorizou acentuadamente em 20% a $ 273/t contra $ 227 em janeiro. No início de março, o preço do paddy ainda estava firme em torno de $ 295.

Na África subsaariana, a produção 2021/2022 marcou uma contração geral de 1%. As principais regiões produtoras de arroz foram afetadas por secas, ou
inundações em alguns lugares, durante a período vegetativo. Insegurança e falta de insumos também afetaram as colheitas. O conflito na Ucrânia, que perturba os mercados mundiais de commodities, provavelmente terá um forte impacto nas condições de abastecimento dos países africanos nos próximos meses. No caso do arroz, o abastecimento local deviria permanecer limitado e as projeções de importação indicam um novo volume recorde de
quase 20 Mt, equivalente a 40% do comércio mundial.

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