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Milho ganha novos mercados mas não sustenta embarques

Quebra da safra de grãos da ar­­gentina abriu novos mercados para o milho brasileiro


A quebra da safra de grãos argentina abriu novos mercados para o milho brasileiro e permitiu que o país exportasse 38% mais soja no primeiro semestre de 2009. Foram 19 milhões de toneladas da oleaginosa exportadas entre janeiro e junho deste ano, contra 16,8 milhões de toneladas em igual período de 2008. Já os embarques do cereal recuaram 19% em volume, de 2,8 milhões para 2,2 milhões de toneladas, na mesma base de comparação. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O que os números não mostram é que, ainda que com menor volume negociado, o milho brasileiro chegou a mercados que antes não tinha acesso. Enquanto as exportações de soja crescem apoiadas principalmente no consumo de um importador já tradicional, a China, o cereal chega a novos destinos como Colômbia, Taiwan, Arábia Saudita e Vietnã, observa Daniele Siqueira, analista da AgRural. Esses eram clientes argentinos, que vieram para o Brasil porque, com a quebra, a Argentina está praticamente fora do mercado, explica. "Se foi um resultado ruim, poderia ter sido muito pior não fosse a (quebra) Argentina." A safra de milho do país vizinho, que foi de 22 milhões de toneladas em 2007/08, foi prejudicada pela seca e rendeu apenas 12,5 milhões neste ciclo.

Ela lembra que não são apenas as exportações brasileiras de milho que recuam, mas o comércio internacional do cereal. De acordo com o USDA, o departamento de agricultura dos EUA, a comercialização global do cereal vai ser 21% menor na atual temporada, caindo de 98,6 milhões a 77,9 milhões de toneladas no ciclo 2008/09. "Além disso, houve queda porque a base de comparação é alta. O Brasil ainda vendeu bem em 2008. Não tão bem quanto em 2007, mas foi um ano bom", afirma Daniele.

Segundo maior exportador de soja, o Brasil ainda tenta se firmar como exportador regular de milho. Há oito anos o cereal não fazia parte da pauta de exportação do país. Os primeiros volumes consideráveis foram registrados em 2001, quando 5,6 milhões de toneladas do grão deixaram os portos brasileiros. Nos cinco anos seguintes, o país enviou ao exterior entre 1 milhão e 5 milhões de toneladas. Em 2007 as exportações deram um salto de 180%, para 10,9 milhões de toneladas, e absorveram 21% da produção. Em 2008, recuaram a 6,4 milhões de toneladas e, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), devem avançar a 8 milhões de toneladas neste ano.

Para alcançar a meta da Conab, o país teria que enviar ao exterior quase um milhão de toneladas por mês. No primeiro semestre, o país embarcou em média 372mil toneladas por mês. A companhia argumenta que, tradicionalmente, os embarques brasileiros de milho são concentrados no segundo semestre e que, por isso, ainda haveria tempo para tirar o atraso.

Daniele explica que é normal o Brasil vender menos milho no primeiro semestre porque os produtores costumam priorizar as vendas de soja. "É uma questão logística, não sobra espaço para o cereal nos portos", relata. Para ela, as exportações brasileiras de milho podem crescer no segundo semestre, mas dificilmente alcançarão a previsão da estatal.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Milho (Abimilho) Nelson Arnaldo Kowalski concorda que será difícil cumprir a meta da Conab, mas não faz previsões. "Ainda depende de muita coisa", diz. Apesar da quebra na safrinha do Paraná, há excedente exportável porque a colheita foi boa no Mato Grosso e em Goiás, avalia. "Mas para tirar esse milho de lá e mandar para os portos teria que ter PEP (Prêmio de Escoamento de Produto) para 4 a 5 milhões de toneladas", afirma Kowalski.

Nos cálculos da Conab, a produção total de milho do Brasil, somando a safra de verão 2008/09 e a safrinha 2009, deverá alcançar 49,4 milhões de toneladas, para um consumo de 45 milhões de toneladas. Nesse quadro, que inclui estoque inicial (do governo e das indústrias, de 11,7 milhões de toneladas), a estatal prevê exportação de 8 milhões de toneladas e estoques finais de 8,8 milhões.

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