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Morro do Chapéu/BA tem potencial para produção de vinhos finos

As condições de inverno e primavera da região permitem a obtenção de material vegetal e mudas de alta qualidade


Morro do Chapéu reúne características para se tornar um grande polo de produção de uvas clonadas, com potencial para elaboração de vinhos finos. As condições de inverno e primavera da região permitem a obtenção de material vegetal e mudas de alta qualidade, o que vem atraindo o interesse de empresários franceses e brasileiros que querem expandir a viticultura no Nordeste. Dez variedades da fruta estão sendo avaliadas, com a finalidade de identificar as que melhor se adaptam ao clima da Chapada Diamantina, bem como as que resultam num melhor vinho.


Os franceses Patrick Arsicaud e Thibaud Pierre Marie Guyon de Salettes, sócios de Murilo de Albuquerque, da empresa Vitácea Brasil, especializada na produção de mudas certificadas de videira, estiveram nesta quinta (19) e sexta-feira (20) no município. Acompanhados do secretário da Agricultura, Eduardo Salles; do superintendente de Atração de Investimentos, Jairo Vaz, e do presidente da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Elionaldo Teles, podendo conferir de perto a Unidade de Observação (UO) das variedades Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Tannat, Malbec, Merlot, Syrah, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Muscat Petit Grain.

Aproveitando que a fruticultura baiana é reconhecida como um dos negócios de melhor desempenho, ocupando sempre os primeiros lugares em importância econômica na agropecuária, o secretário e comitiva realizaram a visita à Fazenda Guadalajara, onde pequenos produtores, organizados em cooperativa, perceberam a capacidade produtiva do morango. Com produção de seis mil caixas por semana e 1,5 mil quilos da fruta congelada, a Cooperativa de Apoio à Agricultura Familiar (Copagril) pretende ampliar o negócio beneficiando mais de 80 famílias.

Para o presidente da EBDA, Elionaldo Teles, é preciso trabalhar em conjunto para estruturar toda a cadeia da cultura do morango. “Precisamos capacitar os produtores para avançar ainda

mais. Os morangos devem ser classificados e distribuídos em pequenos packing houses. O desafio é fazer com que esse produto seja aproveitado na merenda escolar, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)”.

O secretário Eduardo Salles disse que a cadeia do morango deve ser priorizada, com a intenção de acabar com a dependência do Estado em importar do Espírito Santo. Salles afirmou ainda que com o comprometimento de associações, cooperativas e prefeitura, o governo apoiará os agricultores familiares na efetiva estruturação do modelo de produção. “Temos condições ideais de qualidade e produtividade durante todo o ano. Não queremos que sucos, iogurtes e polpas se percam. A palavra de ordem é agroindustrializar”

Novo polo de produção
Com clima ideal para assegurar o bom desempenho agronômico das espécies, Morro do Chapéu se apresenta também como novo polo de produção de uvas. Fruto de um convênio com a Embrapa e Associação de Criadores e Produtores, assinado em 2010, foi implantado o projeto de avaliação técnica e econômica das videiras viníferas.
Com recursos da Secretaria da Agricultura (Seagri), o projeto tem, por finalidade, que estas experiências resultem numa nova opção e alternativa sustentável à agropecuária da região, em função da competitividade, das perspectivas de inclusão social, preservação ambiental, geração de renda e agregação de valor aos produtos finais.

Para o sócio da Vitácea Brasil, Murilo de Albuquerque, num primeiro momento, parece que as variedades introduzidas estão se desenvolvendo muito bem, com destaque para Syrah e Sauvignon Blanc. “Ambas possuem ótima capacidade adaptativa nestas condições, respondendo bem a inversão do ciclo da poda, além de ter bom desenvolvimento vegetativo. A característica de noites mais frias, provavelmente, vão potencializar o aroma, a cor e a acidez”. Segundo Albuquerque, a primeira colheita experimental está prevista para setembro ou outubro deste ano.

De acordo com o superintendente de Atração de Investimentos da Seagri, Jairo Vaz, os empresários ficaram impressionados com a evolução das variedades e constataram que a região é livre de patógenos (doenças), além de produzir mudas de altíssima qualidade com melhor custo benefício. “As condições climáticas chamaram a atenção dos empresários que se animaram também com a instalação do viveiro, o qual irá atender a demanda do Vale do São Francisco e, posteriormente, toda a Chapada”.


O grupo Vitácea Brasil é o primeiro e único viveiro brasileiro a possuir licença ENTAVINRA© para multiplicação dos principais clones das variedades de vinhos franceses no Brasil, além de ser licenciada também para multiplicação dos diversos tipos de uva de mesa sem sementes da Embrapa.

O empresário Murilo de Albuquerque, também pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), e o presidente da EBDA cogitaram a possibilidade de firmar uma parceria na capacitação de técnicos para trabalhar, especificamente, com a produção de mudas e vinhos. Os profissionais vão ficar responsáveis pelos experimentos de Morro do Chapéu e, futuramente, Mucugê.

Região conquista personalidades do mundo do vinho

Segundo o pesquisador da Embrapa na área de enologia, Giuliano Pereira, a ideia do projeto é criar uma identidade regional, tornando a região um roteiro do enoturismo. “Não queremos copiar as qualidades de Bourdeaux. A intenção é que o vinho daqui seja reconhecido e apreciado”. Pereira explicou que, em termos de qualidade do vinho, na Europa, por exemplo, são necessários dez anos para comprovar a excelência.

O prefeito de Morro do Chapéu, Cleová Barreto, ressaltou que a diversidade de culturas na região possibilitou avançar em várias frentes, gerando emprego e evitando a evasão das divisas. “A implantação de um abatedouro, que inicia as obras no próximo mês e abaterá 100 animais/dia, o projeto-piloto das uvas, a produção de queijos finos, a floricultura, além da estruturação da cadeia do morango, vão atrair ainda mais investimentos”.

Como tem sido explicitado constantemente por todos os técnicos especialistas que visitam o experimento, a possibilidade de produção de vinhos tem conquistado diversas personalidades do mundo do vinho, como Galvão Bueno, a família Miolo e Benedetti

Com o objetivo estruturar as cadeias produtivas que melhor se adaptem às diversas regiões da Bahia, a Secretaria da Agricultura considera que a Chapada Diamantina tem grande potencialidade para a produção de frutas e flores temperadas. Em função disso, foi definido apoio à pesquisa-piloto destas culturas no município, disseminando os resultados para toda a Chapada Diamantina.

O secretário afirmou que a procura de produtores franceses da região de Bourdeaux reflete o potencial de Morro do Chapéu. “A cidade tem grande possibilidade de se tornar produtora de vinhos de alta qualidade. Temos a certeza que produziremos vinhos finos, só precisamos descobrir qual é a variedade que mais de adapta à condição. Até o final do ano já conseguiremos industrializar amostras de vinhos para que técnicos da Embrapa possam analisar e dar retorno” destacou Salles.

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