CI

Nova geração de híbrido de milho para pipoca

Engenheiro agrônomo Eduardo Sawasaki fala sobre novo híbrido


Em entrevista concedida, por telefone, ao Caderno 3, o engenheiro agrônomo Eduardo Sawasaki falou dessa nova geração de híbrido de milho para pipoca, batizado de IAC 125, resultado do cruzamento de um híbrido simples com uma variedade sintética americana, analisou o cenário mundial desta área, recordou os grãos de pipoca nativos do Brasil e deu uma dica simples e interessante para fazer pipoca no micro-ondas, sem gordura e sem sujeira.


O senhor conhece alguma plantação de pipoca no Ceará?

Não, não tenho informação se no Ceará tem alguma plantação. O mais perto daí que tenho notícia é em Barreiras, na Bahia, lá tem grandes produtores, uma área de irrigação que eles plantam no tempo seco.

Porque o milho de pipoca nativo foi substituído por híbridos americanos?

A pipoca nativa tinha uma qualidade bem inferior ao material que estava vindo para exportar, foi isso que nos motivou a iniciar o trabalho de melhoramento da pipoca nacional. Em 1983, começamos a trazer mais material de fora e a melhorar a variedade do nosso, depois partimos para o híbrido. Chegou um ponto que vimos que a variedade não ia competir com híbrido. Como queríamos o material da mesma qualidade do americano, tivemos que partir para híbrido. Porque variedade tem grão de tudo quanto é jeito, quando estoura é um antes, outro depois, não é bom, tem que ser tudo igualzinho, estourar tudo junto. A uniformidade do grão é muito importante.

Mas existem grãos nativos?

Vamos voltar ao tempo em que não tinha híbrido americano aqui. Tudo que a gente consumia era com base em variedades locais. Era muito plantada uma variedade chamada ´Branca Pontuda´. Nas fazendas por aí, quase todo mundo tinha um pouquinho de pipoca. Eu mesmo morei em sítio e lembro que todo mundo tinha sua pipoca. Era plantada por pequenos produtores que conseguiam a semente própria. O único problema é que a variedade antiga sumiu. E sumiu porque a qualidade era muito ruim. Aconteceu que, a partir de certa época, algumas companhias, principalmente a Yoki, passou a trazer sementes de híbridos americanos. Com isso, passou a se registrar no Brasil os híbridos americanos. Porque a primeira condição para produzir semente é fazer o registro. Temos aqui empresas nacionais, mas que exportam sementes em parceria com os americanos. Estamos produzindo muita pipoca, mas a partir de híbridos americanos.

Qual nossa média de consumo?

Há muito tempo se diz que nosso consumo é em torno de 80 mil toneladas, e o consumo se concentra mais nessa época junina, é o pico.

Os Estados Unidos são os maiores produtores?

Sim, alguns países também produzem pipoca, mas a partir dos híbridos americanos. A Argentina produz, mas são companhias americanas que estão lá plantando pipoca para vender para Brasil e outros países. Exportar da Argentina para o Brasil sai muito mais barato que trazer dos Estados Unidos.

Que Estados brasileiros possuem plantações de pipoca?

O Mato Grosso ano passado foi o maior produtor de pipoca do Brasil. A grande produção foi no município de Campo Novo do Parecis (MT), mas porque a Yoki está lá, em Campo Novo. Outro grande foco da Yoki está no Rio Grande do Sul, tem uma unidade na região de Nova Prata (RS), onde há parceria com produtores para produzir pipoca. Eles são o segundo maior produtor de pipoca do Brasil.

Só há cultivo onde tem empresa americana?

Geralmente, a produção de pipoca é feita pela empresa que dá semente e garante compra, fazem contratos e parcerias com produtores. Então, nas regiões que produzem mais pipoca, existe esse tipo de empresa.

É preciso algum tipo de solo específico para esse cultivo?

O material americano tem dado certo no Rio Grande do Sul. Outra região alta que também tem funcionado é Goiás e Bahia, que são feitos fora de época, em maio. No Mato Grosso ele é plantado em fevereiro, em condições de safrinha, segunda safra, depois da soja. O que tem dado mais certo em termos de qualidade de pipoca é a do Mato Grosso. Isso porque depois que (o grão) atinge a maturação fisiológica, não pode ter chuva. E no Mato Grosso chove até a hora que o grão amadurece, depois não chove mais. O resultado é uma pipoca de excelente qualidade. No Mato Grosso, a pipoca é plantada em sequência à soja. Planta soja no verão, em outubro, e colhe em fevereiro, então, já planta o milho. Cento e vinte dias depois, uns quatro meses, já dá para colher pipoca.

Qual a diferença de um pé de milho de pipoca, para esse que conhecemos aqui no Ceará?

Ele tem um grão menor, o grão do milho de pipoca equivale a quase um terço do grão de milho, em peso. O grão de pipoca pesa 13, 14 gramas, tem grão de milho que pesa 32, 35 gramas. A espiga também é menor, em compensação, a planta dá mais de uma espiga por planta. Em média, podemos falar que nasce 1,4 espiga por planta, tem muita planta com duas espigas. Mas ele (o pé de pipoca) não é baixinho, não. Nossos híbridos são, às vezes, mais altos, mas não há muita diferença.

Fale um pouco do trabalho do senhor no IAC.

Bom, aqui temos o Centro de Grãos e Fibras onde trabalhamos culturas de grãos, como arroz, milho, trigo, amendoim, soja, feijão; e de fibras, como algodão. Com melhoramento de milho trabalham duas pessoas, eu e a pesquisadora Maria Elisa. Nosso programa é dirigido para híbrido, temos dois (híbridos) no comércio e vamos lançar mais uns dois ou três. O mercado tem preferência por milho de pipoca amarelo, bem laranja. Foi lançada uma pipoca branca, mas não pegou. Mas temos uma variação chamada IAC Rubi, roxa, cor de vinho, uma beleza de grão. Mas não produzimos comercialmente, em escala grande, produzimos sementes genéticas e procuramos empresas parceiras. Produzimos em escala pequena.

Milho de pipoca roxo?

Sim, milho de pipoca roxo, com palha também arroxeada, mas com pipoca branca. Ele vem sendo indicado para pequenos produtores, inclusive para agricultura orgânica, e chama atenção pela resistência à doenças foliares do milho, adaptação à principal região produtora do Brasil, o Centro-Oeste, e ciclo precoce no florescimento e maturação dos grãos.

O que caracteriza uma boa pipoca?

Para quem gosta de pipoca o importante é que ela estoure e não deixe piruá. E o importante para a pipoca estourar bem é a umidade do grão, que deve estar em torno de 3,5 %. Às vezes o grão está seco, mas, se pega umidade, já estoura melhor. A embalagem tem de conservar a umidade do grão. Quando você usa em casa, depois de aberta a embalagem, o melhor lugar para guardar o milho-pipoca é no freezer. Porque não perde nem ganha umidade, e nem é atacado por pragas.

Quem quiser pode ter sua própria plantação de milho de pipoca?

Para ter um pé de pipoca em casa só é preciso conseguir a semente, ela pode cruzar com milho, sem problemas, é possível, sim. O único detalhe é não deixar a palha secar demais. Tem que colher e deixar secar na sombra, em sol forte estraga. Depois é debulhar na mão e estourar.

E como é que faz para conseguir essa semente?

Tem empresas que vendem sementes em pequenas quantidades. Não sei se já chegou aí, mas, aqui em São Paulo, se consegue embalagem de um quilo, vendido mais para pequenos produtores. O IAC também vende uma embalagem mínima com cinco quilos, custa R$ 15, o quilo, e o pedido pode ser feito pelo telefone (11) 3202.1739, 3202.1737 ou pelo e-mail
[email protected].

E aquela pipoca doce, do pacote rosa, é feita como?

Aquela pipoca com grão mais redondo, bonita, barata, é industrializada, mas vem do milho comum, o milho canjicado. O grão é colocado em equipamento especial, não é em panela, e, quando estala, fica redondinho. Daí é só por algum sabor nela... fica parecida com pipoca.

Pipoca traz surpresa que não acaba mais...

Pois tem mais uma. Sabe o que é ótimo para estourar milho de pipoca comum no micro-ondas? Aquele saco de papel que todo mundo traz quando compra pão. Você coloca um punhadinho do milho, cerca de 50 gramas, dobra a ponta do saco de papel, deixa a ponta bem virada para baixo e espera. O tempo de estouro é quando parar. (NR)

Curiosidades

A pipoca estoura porque dentro de cada grão existe uma pequena quantidade de água, cercada por uma camada macia. Ao colocar o milho de pipoca na panela com óleo quente ou no micro-ondas, a umidade de dentro reage, transformando-se em vapor de água, o que aumenta a pressão interna da semente. A casca não aguenta a pressão e estoura. Ao estourar, o amido que fica dentro do milho se expande em pequenas bolhas de cor branca, que ficam grudadas na casca

Cada grão de pipoca teve ter de 13,5% a 14% de umidade para estourar. Caso contrário, vira piruá

O milho-pipoca possui valores nutritivos, é rico em amido e abundante em vitamina E e carotenoides, considerados antioxidantes. Além disso, o grão contém minerais, como cálcio, sódio, iodo, ferro, zinco, manganês, cobre, selênio, cobalto, cádmio e fósforo, dos quais o fósforo é o mais importante

Provavelmente, a pipoca teve origem na América, mas há registros que esse grão também foi cultivado na China, Sumatra e Índia. O mais antigo registro data de mais de 5.600 anos, comprovado por um fóssil achado na cidade de Cueva de Murciélagos, no centro-oeste do Novo México

Relatos contam que o milho de pipoca era parte essencial de cerimônias astecas, onde jovens praticavam a dança de adoração ao milho, enfeitando suas cabeças com guirlandas confeccionadas com o grão. Além disso, servia de decoração para penachos, colares e adornos das imagens de deuses como da chuva e da fertilidade

Os primeiros europeus que chegaram ao continente americano não conheciam pipoca e a descreveram como um salgado à base de milho usado pelos índios, tanto como alimento quanto como enfeite de cabelo. Sementes de milho de pipoca foram encontradas por arqueólogos no Peru e no Estado de Utah (EUA), o que sugere ter feito parte da alimentação dos povos americanos

Durante a Grande Depressão, o consumo de pipoca cresceu definitivamente nos Estados Unidos, pois o único luxo das famílias era, de vez em quando, comprar pipocas por cinco ou dez centavos de dólar cada pacote. Enquanto outros negócios fracassavam, o milho-pipoca ia para frente. Atualmente, a pipoca é considerada um dos alimentos favoritos dos americanos e de todo o mundo

Fique por dentro
Pesquisador

Na cidade de Campinas, interior de São Paulo, o doutor em genética e melhoramento de plantas, Eduardo Sawasaki, desde a década de 80, se dedica ao Programa de Melhoramento de Milho de Pipoca, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, projeto vinculado à Universidade de Campinas.

Doutor na área de genética e melhoramento de plantas, o professor Sawasaki é responsável pelo programa desenvolvido no Centro de Grãos e Fibras do IAC que, recentemente, lançou uma variedade de milho de pipoca roxo, cor de vinho, cujas sementes vêm sendo produzidas em campos pilotos desde 1999.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.