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Opinião Econômica - Sem surpresa

Artigo do economista Delfim Netto


*Por Delfim Netto

O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no primeiro trimestre, de 0,2%, corrigido pela variação estacional, não surpreendeu nem mesmo o governo, mas projeta grande preocupação sobre o ano de 2014.

O resultado reflete as incertezas do setor privado e o efeito da política monetária por seus canais de transmissão: a redução do nível de atividade, a redução do ritmo de expansão do crédito e a valorização do dólar. Disso algum gênio heterodoxo pode concluir que para fazer crescer o PIB é preciso aumentar a demanda global, o que, pelo uso mais eficiente dos fatores de produção, reduziria "naturalmente" a taxa de inflação.

Isso seria verdade se existisse ampla capacidade produtiva: energia, mão de obra e capital não utilizados. O pequeno problema é que, infelizmente, a hipótese é falsa!

O que deveria surpreender é por que o crescimento médio tão sem graça dos últimos anos não teve efeito visível sobre a taxa de inflação. A explicação é sem dúvida complicada, mas alguns fatos podem ajudar a entendê-la:

1) Existe um limite para a arbitragem do governo sobre a distribuição de renda a favor do trabalho numa economia de mercado. Quando ele é excedido, gera inflação porque os empresários tentam transferir para os preços o aumento do salário real superior à produtividade física do trabalho. Na medida em que não têm sucesso na transferência, reduzem os investimentos pela queda da capacidade de seu autofinanciamento e o crescimento murcha.

2) É impossível fixar ao mesmo tempo o pleno emprego e o salário real numa economia de mercado. Quando o governo subsidia os setores em que a demanda está mais fraca para manter o emprego, ele impede o funcionamento do sistema. O custo do subsídio transforma-se em pressão fiscal que deságua na dívida pública e pressiona o juro real.

3) A política monetária é necessária para controlar a inflação, mas não é suficiente. Se ela não tiver o apoio de uma política fiscal que reduza a demanda do governo e de uma política salarial que compatibilize o consumo com o investimento, seu custo é politicamente inaceitável.

4) A redução da taxa de inflação exige a redução de sua "expectativa", o que é difícil quando preços controlados sugerem um aumento futuro da taxa de inflação.

O baixo crescimento, o estresse no mercado de trabalho, a inflação tensionada no limite da tolerância e o substancial déficit em conta corrente confirmam que o que temos é um problema de oferta, cuja solução exige o aumento da produtividade de toda a economia.

É o que o governo tenta agora produzir.

*Economista, ex-deputado federal e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura

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