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Paraná estoca 1.150 toneladas de BHC

Veneno altamente tóxico está armazenado em condições precárias em dezenas de propriedades


A Secretaria do Meio Ambiente do Paraná (Sema) estima que existam 1.150 toneladas do inseticida organoclorado hexaclorociclobenzeno, popularmente conhecido como BHC, estocados nas propriedades rurais do Paraná. Oficialmente, a secretaria reconhece apenas 150 toneladas, até porque tem o cadastro dos produtores que estocam esse volume. O veneno é altamente tóxico para humanos e meio ambiente.

Segundo estimativa do Ministério Público do Meio Ambiente (MP), na região noroeste do Paraná existiriam cerca de 300 toneladas armazenadas. No Brasil, o uso do veneno foi limitado pela Portaria 329 de 02/09/85, permitindo sua utilização somente no controle a formigas (Aldrin) e em campanhas de saúde pública (DDT e BHC).

O promotor do Meio Ambiente, Manoel Ilecir Heckert, revela que grande parte desse agrotóxico não tem registro oficial. Ele ressalta que em Maringá e cidades vizinhas somente 35 toneladas estão cadastradas junto ao MP. "Este problema é muito mais sério do que aparenta, pois envolve toda a sociedade. O BHC é um agrotóxico altamente tóxico", alerta.

Segundo Heckert, os agricultores que têm o produto estocado devem fazer o cadastro junto a Emater ou secretária da Agricultura. "Temos o cadastro de uma propriedade em Presidente Castelo Branco (40 km de Maringá) que estoca 12 toneladas do organoclorado. Lembro que pessoas e animais não podem ter contato com este produto", esclarece o promotor .

Heckert diz que aos agricultores que fizerem o cadastro não serão penalizados. "É uma medida de se livrar de uma possível condenação judicial pela prática ilegal de guardar o BHC em suas propriedades", esclarece. Rui Leão Mueller, engenheiro agrônomo e responsável pelo programa de recolhimento do BHC no Paraná, disse que o governo do Estado finalizou a resolução que estabelece a retirada desses produtos das propriedades rurais do Paraná a partir do próximo.

Ele revela que o custo para destruir cada quilo do agrotóxico é de R$ 4. "Estamos esperando a verba para iniciar a destruição desses produtos", esclarece. Caso confirme a existência das toneladas citadas acima, o custo total para erradicar o BHC do Paraná seria de R$ 4,6 milhões.

Mueller destaca que resolução foi elaborada pelas secretarias do Meio Ambiente (Sema), da Agricultura (Seab) em parceria com o Instituto Agronômico do Paraná (IAP), disciplinando a maneira como será feito o recolhimento e transporte do veneno, até onde será incinerado, nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Somente estes dois locais possuem fornos especiais que apresentam condições para destruir o BHC a uma temperatura superior a três mil graus centígrados. O projeto estabelece uma parceria entre Estado e iniciativa privada para custear a destruição do BHC. "O governo vai pagar 50 % dos gastos com a destruição desse material. As indústrias que produzem agrotóxicos, cooperativas e revendas vão arcar com a outra parte", prevê Mueller.

A identificação das 150 toneladas ocorreu por meio de um trabalho que envolveu a participação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), governo do Estado e alguns setores da iniciativa privada.

Apelo

O agricultor Jacir Aparecido Alexandro, estoca no barracão da propriedade que administra, 2,5 mil quilos de BHC. Ele faz um apelo para as autoridades e pede a retirada do produto. "Sei da periculosidade desse veneno. Meu maior medo é que meus filhos tenham contato. Sempre falo para eles não ficarem perto da parede da tulha", avalia.

Alexandro destaca que tem medo de manusear e condicionar melhor as embalagens. "Os produtos estão guardados corretamente, mas as embalagens velhas, com 21 anos, estão rasgando. Sempre evito inalar o BHC, mas preciso entrar no barracão diariamente para guardar ou pegar algo", explica.

Três perguntas

Frederico Fonseca da Silva - Engenheiro Agrônomo

O que é o BHC?

É um inseticida organoclorado que foi usado por muitos anos em vários paises do mundo, inclusive, aplicado em soldados durante a Segunda Guerra Mundial para matar pulgas e piolhos. No Brasil, foi intensamente aplicado na citricultura, em lavouras de café, fumo e algodão. Foi proibido a partir de 1985 por ser extremamente tóxico e persistente ao meio ambiente. Ele tem a característica bioacumulativa - o alimento que é produzido na terra em que foi aplicado o BHC apresenta contaminantes. Ele pode ser transportado pela atmosfera por longas distâncias.

Quais os problemas que este produto traz para o ser humano?

É um produto extremamente tóxico que pode trazer conseqüências maléficas à saúde se inalado, ingerido ou absorvido pela pele. O BHC provoca desequilíbrio na produção de hormônios sexuais e pode causar problema na formação de embriões de humanos e animais. Quando intoxicada, a vitima passa a sentir fortes dores de cabeça, tontura, convulsão e confusão mental. É também um produto causador de câncer. A população pode estar exposta a praguicidas através da ingestão de resíduos nos vários alimentos.

Qual a recomendação para quem tem este produto estocado?

Recomendamos que essas pessoas armazenem este produto em local seco e fechado, longe do alcance de animais e crianças. O contato com o solo ou rios pode causar sérios problemas para o meio ambiente e para a sociedade. O BHC faz parte da lista dos doze agrotóxicos proibidos - Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), conhecidos também como a "dúzia suja" (dirty dozen, em inglês) são Aldrin, clordano, Mirex, Dieldrin, DDT, dioxinas, furanos, PCBs, Endrin, heptacloro, BHC e toxafeno.

Saiba mais

O BHC foi criado pelo químico inglês Michael Faraday em 1825. Ele constatou a reação do benzeno com o cloro

O maior uso desse produto se deu a partir da Segunda Guerra Mundial, qual se precisava produzir muito alimento

A lei Federal 7802 de 11 de julho de 1989 proibiu definitivamente o uso do BHC no Brasil

Em 1980 o Brasil importou 41.000 toneladas de pesticidas, quantidade que foi progressivamente decrescendo nos anos seguintes, à medida que aumentava a produção nacional de pesticidas. Em 1982, o Brasil importou 15.500 toneladas e produziu 124.000 toneladas

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