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Piora nas relações comerciais entre EUA e China pouco afetou o mercado do trigo

Por outro lado, a melhora nas vendas líquidas de trigo estadunidense ajudou para o viés de alta


As cotações do trigo apresentaram um leve viés de alta nesta semana, fechando a quinta-feira (29/08) em US$ 4,69/bushel, contra US$ 4,67 uma semana antes. Durante a semana o bushel chegou mesmo a bater em US$ 4,75, porém, não se sustentou neste nível.

A piora nas relações comerciais entre EUA e China afetou muito pouco o mercado do trigo. Isso porque o mercado já havia precificado o problema e, também, porque o trigo não é um produto muito comercializado entre os dois países.

Por outro lado, a melhora nas vendas líquidas de trigo estadunidense ajudou para o viés de alta. De fato, na semana encerrada em 15/08 foram exportadas 594.600 toneladas para o ano comercial 2019/20, iniciado em 1º de junho. Isso representa um aumento de 19% sobre a média das últimas quatro semanas. Já para o ano 2020/21 o volume atingiu a 4.900 toneladas. Quanto às inspeções de exportação, o volume atingiu a 492.998 toneladas na semana encerrada em 22/08. No acumulado do ano, iniciado em 1º de junho, o volume atinge a 6,01 milhões de toneladas, contra 4,85 milhões em igual período do ano anterior.

Entretanto, no final da semana o mercado foi pressionado pela grande oferta mundial de trigo a preços mais competitivos do que os praticados nos EUA, especialmente na Europa e na região do Mar Negro. Durante a semana, o Egito, maior importador mundial do cereal, anunciou compras de 350.000 toneladas da Rússia, Ucrânia e França, porém, nenhuma compra foi realizada nos EUA.

Aqui no Mercosul, a tonelada FOB para exportação recuou um pouco, ficando entre US$ 220,00 e US$ 230,00, enquanto o produto da safra nova argentina registrou US$ 175,00.

E no Brasil os preços continuaram relativamente estáveis, porém, com alguma pressão de baixa pela entrada, mesmo que ainda lenta, da safra do Paraná. O balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 41,59/saco, enquanto os lotes se mantiveram em R$ 46,80/saco. No Paraná, o balcão permaneceu entre R$ 46,50 e R$ 47,50/saco, enquanto os lotes se mantiveram entre R$ 54,00 e R$ 55,00/saco. Já em Santa Catarina a referência permaneceu entre R$ 41,00 e R$ 42,00/saco no balcão e os lotes em R$ 50,40/saco na região de Campos Novos.

Na prática o mercado acompanha o início da colheita no Paraná, procurando detectar o real volume de safra a partir das quebras provocadas pelas geadas recentes. Ao mesmo tempo, as fortes desvalorizações cambiais na Argentina e no Brasil mexem com o lado importador. Enquanto a perda de valor do peso argentino favorece a importação brasileira, a desvalorização do Real torna mais cara a mesma. Neste momento, o produto argentino acaba ficando mais caro, pois o Real perdeu muito valor nestes últimos dias, porém, a moratória da dívida externa argentina, declarada no dia 28/08, tende a alterar, em parte, esse quadro. Hoje, um Real acima de R$ 4,05 aumentaria muito os custos de importação. Ora, durante a semana o mesmo bateu em R$ 4,15 por dólar, fato que não foi suficientemente compensado pela desvalorização do peso argentino.

Enfim, há ainda o fator climático, o qual, de agora em diante, atinge muito as lavouras do Rio Grande do Sul, assim que ainda boa parte das lavouras paranaenses. Ora, há projeções de forte queda da temperatura no Rio Grande do Sul, com mínimas ao redor de 4 graus e mesmo abaixo disso, para a próxima terça-feira (03/09), fato que deverá provocar geadas importantes em muitos locais. Se isso acontecer, haverá problemas sérios na qualidade e produtividade das lavouras gaúchas.

Não podemos esquecer que, neste ano, a área gaúcha com trigo estaria representando 37% da área total semeada com o cereal no Brasil. Ao mesmo tempo, no Paraná, maior produtor nacional, a colheita atingia a 3% da área plantada no início da corrente semana. A qualidade das lavouras naquele Estado apresentavam o seguinte quadro, segundo o Deral: 10% ruins; 35% regulares e 55% entre boas a excelentes condições.

No geral, começa a haver pressão de baixa de preços pela colheita nacional, mesmo com prenúncio de quebra física e de qualidade, porém, a forte desvalorização do Real, se continuar, poderá manter o preço nos atuais patamares, embora a crise argentina esteja desvalorizando o peso e reduzindo o preço do cereal no interior do vizinho país.
 

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