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Plantio da safra ganha fôlego com volta da chuva

Ameaçada nas últimas semanas pela seca, a safra agrícola recorde no país ainda pode ser concretizada no próximo ano


Ameaçada nas últimas semanas pela seca, a safra agrícola recorde no país ainda pode ser concretizada no próximo ano. As chuvas voltaram e estão levando o produtor ao campo para recuperar o tempo perdido. As condições da terra ainda não são as ideais, mas o plantio avança e em ritmo acelerado. Dados de ontem (05-11) da Consultoria Céleres, de Uberlândia (MG), mostram que os produtores de soja já semearam 27% da área a ser destinada à oleaginosa na safra 2007/8. Há uma semana, esse percentual estava em 15%.

As chuvas vão permitir também o avanço no plantio de milho, que já soma 51% da área. Nesse caso, o tempo para os produtores fica mais curto, uma vez que o período ideal para o plantio já passou. No caso da soja, dependendo da região, os produtores têm até dezembro para semear. Um atraso no plantio da soja, no entanto, diminui a área que será destinada à safrinha de milho no próximo ano. A Safras & Mercado também divulgou previsão de plantio ontem e, pelos cálculos de técnicos da empresa, 30% da área já está semeada.

Leonardo Sologuren, analista da Céleres, diz que, apesar do atraso inicial no plantio, ainda é possível o país colher safras recordes de soja e de milho. "Novembro é um período crucial. Se houver nova estiagem, haverá queda de produtividade, principalmente no milho, que tem a primeira floração".

Confirmada uma safra nacional recorde de grãos e a manutenção de preços atraentes no mercado externo, o produtor teria um cenário bastante favorável para o próximo ano. Os projetos de produção de biocombustíveis continuam aumentando no exterior e, no Brasil, entra a obrigatoriedade de mistura de 2% de biodiesel ao diesel.

Anderson Galvão, também da Céleres, reafirma que o cenário para o setor de grãos é bom no momento. "Estamos vivendo o terceiro choque do petróleo, o que eleva os preços desses produtos". Na avaliação dele, os preços médios da soja mudaram de patamar e os US$ 6 por bushel (27,2 quilos) em Chicago e os US$ 10 por saca no Brasil já não existem mais. É preciso saber como esses custos vão impactar a economia, afirma Galvão.

Os benefícios desse cenário, no entanto, podem ter pouco efeito no bolso do produtor devido à valorização do real, aos custos de logística e ao aumento nos preços dos insumos. Se pelo lado dos preços as perspectivas são boas, o mesmo não ocorre com câmbio, infra-estrutura e custos de produção. A desvalorização da moeda norte-americana diminui a rentabilidade do produtor, que só não está mais abalada devido à valorização das commodities no mercado externo, diz Sologuren.

Outro gargalo para os produtores será a infra-estrutura. Pela primeira vez, o país vai conviver com uma safra superior a 115 milhões de toneladas apenas com as produções de soja e de milho. A pressão por transporte também vai ajudar a aumentar os preços. Os produtores devem preparar o bolso também para o aumento dos preços das indústrias de insumos, que, após reduzirem suas margens nas duas últimas safras, prometem recuperá-las nesta.

Plantio:

Na avaliação da Céleres, o Brasil deve semear 22,5 milhões de hectares de soja e colher 63,1 milhões de toneladas. A liderança de produção fica com Mato Grosso, que deve atingir 18,6 milhões de toneladas. Na avaliação da Céleres, o Paraná vem a seguir, com 12 milhões de toneladas. Já o milho deve ocupar 13,9 milhões de hectares, dos quais 9,5 milhões nesta safra de verão. A produção total prevista é de 52 milhões de toneladas nas duas safras -verão e safrinha.

A safra de verão deve atingir 38 milhões de toneladas, nos cálculos da Céleres. Já a safrinha deve ficar próxima de 14 milhões. O Paraná, líder de produção tanto na safra de verão como na safrinha, deve colher 13,9 milhões de toneladas. Uma boa safra será fundamental para os produtores recomporem a renda perdida nas safras recentes, principalmente porque os preços externos estão em alta.

Mesmo com previsões de safras recordes, internamente os preços da soja estão aquecidos, e as indústrias de processamento obtêm maiores margens de esmagamento do que com as exportações, tanto para farelo como para óleo.

Externamente, os preços da soja continuam pressionados e o mercado olha para o futuro. Se os Estados Unidos elevarem o plantio de milho para a produção de álcool, cai a área para a soja. Nesse caso, os estoques norte-americanos, já restritos, ficam ainda mais apertados, elevando os preços.

No caso do milho, o mercado está ainda mais restrito, na avaliação de Sologuren. A matéria-prima é disputada internamente pela avicultura (que também pressiona os preços do farelo de soja) e externamente pelos importadores. Estes devem levar pelo menos 10 milhões de toneladas do produto brasileiro neste ano, um volume recorde.

O clima também passa a ser um fator de peso nos preços do milho. Uma complicação no clima vai dificultar ainda mais a chegada do milho precoce, colhido a partir de janeiro. O cenário externo também é favorável ao milho. O consumo continua aquecido pelas indústrias de álcool, que disputam o produto com as indústrias de ração animal, principalmente nos países emergentes. Sologuren diz que os europeus também aumentaram a procura por milho neste semestre devido à quebra na safra de trigo.

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