Produção fora da África impulsiona superávit global de cacau
“A oferta começa a responder aos preços historicamente elevados desde 2023"

O mercado mundial de cacau dá sinais consistentes de recuperação após anos de escassez. Segundo a StoneX, o ciclo 2025/26 deve registrar superávit global de 287 mil toneladas, resultado do aumento da produção em países fora da África Ocidental e da redução nas moagens industriais. Ainda assim, o clima segue como o principal fator de risco para a estabilidade do setor.
De acordo com Rafael Borges, analista da StoneX, os altos preços desde 2023 estimularam a expansão das lavouras, enquanto condições mais favoráveis em regiões como Equador, Brasil e Indonésia sustentaram ganhos de produtividade. No Equador, a produção deve crescer 38%, alcançando 580 mil toneladas, impulsionada por manejo aprimorado e variedades mais resistentes. No Brasil, estimativas da AIPC e CEPLAC/MAPA indicam avanço para 215 mil toneladas, refletindo boas chuvas e expansão das áreas produtoras no Pará.
“A oferta começa a responder aos preços historicamente elevados desde 2023, ao mesmo tempo em que as condições climáticas mais favoráveis em parte das regiões produtoras têm sustentado ganhos de produtividade”, explica.
Na África Ocidental, o cenário ainda é instável. A Costa do Marfim deve colher 1,76 milhão de toneladas em 2025/26, após perdas por seca e mortalidade de brotos. Em Gana, o desafio climático e a disseminação do vírus CSSVD continuam limitando o potencial produtivo, apesar do estímulo de preços maiores ao produtor.
Enquanto isso, Indonésia, Nigéria e Camarões também devem contribuir para o reequilíbrio global, mesmo com riscos fitossanitários e variações de umidade do solo. Com a demanda em retração — moagens caíram até 12,9% no terceiro trimestre de 2025 —, os estoques mundiais devem atingir 1,66 milhão de toneladas até 2026/27, aproximando-se da média histórica.
“O comportamento climático continua sendo o grande ponto de inflexão. Caso o clima permaneça seco na África Ocidental entre outubro e novembro, os preços podem voltar a subir no curto prazo. Mas, estruturalmente, o mercado caminha para um novo equilíbrio, com fundamentos mais sólidos e uma recomposição gradual dos estoques”, conclui Bezzon.