Rastreabilidade garante origem e qualidade dos alimentos
Pacto de transparência entre todos os elos da cadeia produtiva

A rastreabilidade de alimentos ganhou papel estratégico no agronegócio brasileiro e, segundo Fernando Andrei Baccarin, presidente da Abrarastro, representa “um pacto de transparência entre todos os elos da cadeia produtiva”. Em uso crescente nos últimos anos, a ferramenta integra tecnologia, gestão e sustentabilidade para garantir origem, qualidade e segurança dos alimentos.
Como funciona
De acordo com Baccarin, “a rastreabilidade foi desenvolvida para transformar o conceito em uma estrutura de gestão integrada”. O sistema vai além de um simples “registro documental”: conecta campo, indústria, distribuição e varejo em um único ecossistema digital, garantindo transparência, segurança e confiabilidade dos dados ao longo de toda a cadeia produtiva.
A plataforma é composta por três camadas principais:
Coleta de dados na origem — o produtor ou cooperativa insere informações sobre plantio, insumos, colheita e transporte por meio de aplicativo ou painel web.
Processamento e validação — os dados passam por filtros automáticos de consistência e são cruzados com bases oficiais (como notas fiscais eletrônicas, lotes e datas).
Consulta e rastreamento — no ponto de venda ou no mercado externo, o consumidor final pode ler o QR Code e visualizar a linha do tempo completa do produto, “desde a propriedade até a gôndola”. Fiscais também podem acessar as informações para análises químicas ou auditorias.
A tecnologia utiliza banco de dados criptografado e operações via blockchain, o que garante que cada registro seja “imutável e auditável”. Também incorpora IoT (Internet das Coisas), com sensores de temperatura e umidade, além de dashboards interativos com gráficos e indicadores de gestão.
Para o produtor, a ferramenta funciona como um “caderno de campo digital inteligente”, acessível por aplicativo, painel web ou até mesmo via WhatsApp. Baccarin lembra que a exigência normativa conjunta do Ministério da Agricultura e da Anvisa, de 2 de fevereiro de 2018, requer o arquivamento das informações por 18 a 24 meses.
Para distribuidores e varejistas, o sistema assegura controle de qualidade e pode ser utilizado como ferramenta de marketing, destacando a origem segura, as boas práticas e a sustentabilidade. “A segurança alimentar e a sustentabilidade acabam caminhando juntas”, afirma o presidente da Abrarastro.
Benefícios da rastreabilidade
Transparência ampliada — o uso de QR Codes permite transmitir mais informações sem sobrecarregar rótulos e embalagens.
Competitividade — “os dados coletados alimentam indicadores de desempenho; ajudam a reduzir perdas, otimizar o tempo de colheita e validade, melhorando margens e diminuindo riscos”.
Sustentabilidade — integração com módulos de inventário de emissões, códigos GRI e ODS, úteis a empresas que atuam com mercado de carbono ou selos de neutralidade.
Veracidade e governança — a plataforma é totalmente auditável, com trilhas de verificação que impedem alterações posteriores. “Cada informação inserida representa um compromisso com a verdade; qualquer dado incorreto compromete toda a credibilidade do sistema”, ressalta.
O setor agroalimentar já reconhece que a rastreabilidade deixou de ser uma mera obrigação regulatória para se tornar parte essencial da gestão moderna. Conforme Baccarin, “o agronegócio precisa responder com dados reais sobre a origem, os processos produtivos e os impactos ambientais. Essa transparência constrói credibilidade, agrega valor e permite ao produtor conhecer com precisão seus indicadores de eficiência. É uma ferramenta de gestão estratégica, e não apenas de conformidade legal”.
As exigências dos mercados internacionais e das grandes redes varejistas reforçam essa tendência. Para participar de cadeias sustentáveis e economicamente mais atrativas, é preciso comprovar origem e conformidade ambiental, social e trabalhista. “A rastreabilidade documenta essas informações e demonstra o comprometimento com os critérios ESG e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, observa o presidente da Abrarastro.
Apesar dos avanços, Baccarin aponta desafios: “Há uma combinação de fatores — o custo inicial, a falta de cultura digital e a ausência de fiscalização uniforme no país. Parte dos produtores ainda associa a rastreabilidade à burocracia, quando, na verdade, ela representa segurança jurídica e comercial, padroniza o produto e melhora a qualidade”.
Impactos
Com a linha do tempo completa de cada alimento — “do campo ao consumidor” —, é possível identificar rapidamente desvios de qualidade, uso inadequado de insumos e falhas de armazenamento ou transporte. Baccarin resume: “Esse é o coração da segurança alimentar moderna. Cada lote tem identidade própria e pode ser rastreado com precisão”.
Para o produtor que domina seus dados, a ferramenta proporciona controle, eficiência e competitividade. “As informações coletadas em cada etapa da produção ajudam a planejar safras, reduzir perdas e otimizar o uso de insumos. Quem domina os dados consegue negociar melhor, acessar mercados diferenciados e valorizar o produto”, explica.
E conclui: “A rastreabilidade é mais do que um software — é um pacto de transparência entre todos os elos da cadeia produtiva. A tecnologia garante a integridade das informações, mas o comportamento humano é o que assegura sua veracidade e legitimidade”.