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Rentabilidade do trigo atrai produtores no Paraná

Na fase final da colheita do trigo no Paraná, os produtores estão recebendo um valor até 27% superior com relação ao ano passado


Foto: Pixabay

Na fase final da colheita do trigo no Paraná, os produtores estão recebendo um valor até 27% superior com relação ao ano passado. A rentabilidade do cereal tem atraído produtores para o trigo, visando também reduzir custos na produção animal. De acordo com a Conab (nov, 2021), a produção de trigo no Paraná deverá chegar a 3,2 milhões de toneladas, com uma produtividade média de 43 sacos por hectare (sc/ha). Problemas com geadas, mas especialmente a seca, resultaram em quebra de 19%, segundo estimativas do Departamento de Economia Rural (Deral).

Ainda assim, os produtores estão comemorando a safra, já que as cotações do cereal seguem altas: “Em média, os produtores receberam R$ 87,34 por saca de trigo em outubro de 2021, um valor 27% superior ao de outubro de 2020, quando o valor era de R$ 68,61”, conta o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho.

Na avaliação do Deral, os custos variáveis da lavoura de trigo no Paraná chegaram a R$ 3.504,06/ha (base agosto de 2021), o que representa 39 sacas/ha (cotação R$ 89,00). “Se considerarmos a média de produtividade do Estado, em 43 sc/ha, o produtor terá boa lucratividade, lembrando que existe um grande número de produtores que colheu acima de 60 sacos de trigo por hectare. O desafio agora é manter o produtor motivado mesmo quando os preços não estiverem em alta”, avalia o engenheiro agrônomo da Embrapa Trigo, Osmar Conte.

Ilseu Peretti é um dos produtores que colheu acima da média na lavoura de trigo em Chopinzinho, PR. A cultivar BRS Belajoia, ainda em validação para a região tritícola 2, rendeu 64,5 sc/ha. O custo da lavoura ficou em R$ 2.364,71/ha, o que representou 36,9 sc/ha. “Mais importante do que a produtividade é observar a rentabilidade do produtor, que chegou a 58%. O que importa não é encher o armazém, mas encher o bolso”, destaca o engenheiro agrônomo Luiz Tarcísio Behm, consultor que acompanhou a lavoura.

Movimentação na produção animal

A região sudoeste do Paraná é o principal polo de produção de leite no Estado, com 1,2 bilhão de litros de leite por ano numa área que abrange 42 municípios (SEAB/PR). O crescimento na produção leiteira no período de 2007 a 2017 chegou a 98%. De acordo com o engenheiro agrônomo Ericson Marx, do IDR-PR, da Regional de Francisco Beltrão, a produção leiteira na região sempre teve como base a silagem de milho e a forragem de aveia.

Mas, aos pouco,s os produtores começaram a investir na maior oferta de forragens no inverno, buscando a assistência técnica para acessar novas alternativas para alimentar as vacas: “Nos últimos anos, vimos crescer o interesse por outras alternativas forrageiras, como o trigo e o triticale”, conta Marx, lembrando que o aumento nos custos da ração tem atraído também produtores da avicultura para a possibilidade de uso de cereais de inverno.

A busca por novas alternativas de forrageamento animal levaram o produtor Valmor Krebs à tarde de campo promovida pelo vizinho no município de Salgado Filho, PR. “Os custos para manter as vacas somente com milho estão ficando insustentáveis para o produtor. Precisamos de diferentes opções, utilizando também o inverno para armazenar alimento, evitando também o risco de perder tudo para uma estiagem no verão”, avalia Valmor.

A propriedade que Valmor Krebs foi visitar pertence aos irmãos Élio e Everaldo Kruczkevicz. Dedicados ao cultivo de grãos, a propriedade é referência na adoção de novos conhecimentos da pesquisa. Na safra 2021, a produção de grãos na propriedade foi dividida em soja e milho no verão, e trigo no inverno.

A apresentação na tarde campo, realizada em 15/09, mostrou novas cultivares da Embrapa (BRS Atobá e BRS Jacana), além do trigo IPR Potyporã, do IAPAR. Contudo, a família também está conduzindo experimentos para avaliar cultivares que ainda não estão recomendadas para a região, além de opções de pastejo e silagem. “O interesse dos cereais de inverno para a alimentação animal abre novos mercados para a venda dos grãos. Assim a produção pode ficar na região, movimentando toda a economia da comunidade”, avalia Élio.

A prova deste círculo é o produtor Roberto Smaniotto, que está plantando trigo pela primeira vez. “Sempre trabalhamos com gado, assim toda a área acabava reservada para forragens. Agora que vendemos o rebanho leiteiro, estamos ampliando a produção de grãos, como trigo e soja”, conta Roberto.

As 170 vacas de leite, foram vendidas para os vizinhos Schorn no começo de 2021, que se tornou o principal fornecedor de leite na queijaria da família Smaniotto, onde o consumo chega aos 3 mil litros de leite por dia. “Como ainda mantemos a engorda de bovinos, estamos investindo também em trigo para forragem. Em 87 dias de pastejo contínuo, o ganho com as cultivares da Embrapa foi de 1 kg/dia no bezerro e superior a 2 kg/dia na terminação”, comemora o produtor.

Na família Schorn, que comprou o rebanho leiteiro do produtor Roberto Smaniotto, a preocupação é não faltar alimento para as vacas. “Nosso cuidado é não deixar cair a produtividade do rebanho e para isso precisamos investir em forragens de qualidade”, conta Ari Schorn, que vai experimentar o triticale pela primeira vez na propriedade: “Ouvi dizer que é mais rústico que o trigo e tem valor nutricional comparado ao milho. Não podemos depender de apenas uma opção de silagem e grão para a ração”.

Planejamento e renda

Na propriedade do produtor Ayron Antonietti, em Campo Erê, PR, uma área de dois hectares foi destinada à condução de ensaios de pesquisa. “Estamos com dificuldade em controlar doenças, como o oídio no trigo, e nada melhor do que trazer o pessoal da pesquisa aqui pra dentro da propriedade”, conta o produtor lembrando que os ensaios também vão orientar o planejamento da propriedade, ajustando a melhor alternativa para semeadura logo após a colheita de verão: “Neste ano colhemos o feijão e deixamos o solo descoberto até o inverno. Precisamos de uma alternativa rentável neste período, não apenas plantas de cobertura e palha”.

Para ajudar neste planejamento, o consultor Luiz Tarcísio Behm tem sido a ponte entre a Embrapa e os produtores da região sudoeste do Paraná, em parceria com o IDR-PR. “O produtor precisa fazer um planejamento que permita explorar o potencial máximo da propriedade, com o menor custo possível”, afirma Luiz.

Ele destaca que é preciso fazer a lavoura mais econômica, sempre visando o mercado mais rentável: “Eu posso trabalhar apenas com grãos, mas meu mercado pode ser o vizinho que trabalha com produção animal. Essa visão integrada permite valorizar o sistema de produção com benefícios para toda a região”.

Trigo rentável

A Embrapa Trigo desenvolve um trabalho voltado à rentabilidade da triticultura brasileira. “A plataforma de trigo rentável está baseada na intensificação do sistema produtivo, principalmente com a otimização do uso das áreas no inverno, associada à genética de qualidade que permita o manejo eficiente dos insumos. Nossa proposta é gerar economia na lavoura para reverter em lucro ao produtor”, conclui Giovani Faé, chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Trigo. O trabalho já conta com diversos parceiros no RS e agora começa a avançar para os estados de SC e PR, gerando ensaios regionalizados para apresentar resultados de pesquisa que refletem a realidade do produtor.

 

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