Rotação de culturas ajuda a controlar doenças em cereais
A rotação de cultura é um dos mecanismos de controle cultural de pragas e epidemias mais eficiente
Pesquisadores da disciplina de Fitopatologia analisam seus efeitos sobre a intensidade das manchas nas folhas nos cereais de inverno e as possíveis alternativas para integrar um sistema de rotação.
A adoção de novas tecnologias como o plantio direto, a fertilização intensiva, a incorporação de novos genótipos e irrigação, entre outras, tem gerado impacto benéfico em termos de produtividade dos cultivos agrícolas, mas evidenciam que certas patogenias constituem-se atualmente em um problema de maior gravidade nos cereais de inverno.
Os fungos fitopatógenos na maioria dos casos causam fortes reduções nos rendimentos e freqüente diminuição na qualidade dos grãos.
Para prevenir estes danos é necessário implementar um manejo integrado das doenças através de métodos de controle genético, químico e cultural. Este último consiste no manejo das condições de plantio e das etapas de desenvolvimento do hospedeiro em detrimento da patogenia, priorizando a prevenção e interrupção da epidemia por outros meios que não sejam a resistência genética ou o uso de pesticidas.
Seu principal objetivo é reduzir o contato entre o agente patogênico e o hospedeiro suscetível, para diminuir a taxa de infecção e o conseqüente avanço da doença.
O controle cultural pode ser feito através de diversas práticas como rotação de culturas, manejo do solo e restos de cultivos, povoação adequada de plantas, irrigação, adubos orgânicos, humus, fertilização do solo, época e profundidade do plantio. Destas ferramentas, a mais antiga, eficiente e menos agressiva ao ambiente é a rotação de culturas e por isso é a que mais contribui para a sustentabilidade ecológica da agricultura.
Sem dúvida, seu potencial e uso tem sido pouco investigado e adotado na Argentina, devido a escolha de cultivos que integrem um sistema de rotação dependerem de fatores fitossanitários, técnicos e econômicos que não tem sido suficientemente anaisados.
A rotação de culturas é o plantio de uma mesma variedade vegetal no mesmo campo, e na mesma estação, onde os restos dos cultivos anteriores foram eliminados biologicamente. Diversificar deve ser a idéia de evitar plantar uma cultura sobre seus próprios restos culturais.
Desta forma, em um mesmo campo, durante o inverno são cultivados duas espécies diferentes de forma alternada. Contrariamente a sucessão anual de culturas, consiste em plantar alternadamente no mesmo lote distintas espécies em diferentes estações anuais. Ex: trigo-soja; trigo-soja. Esta é uma sucessão de culturas (não rotação) já que neste caso se tem um monocultivo de trigo no inverno e de soja no verão.
Na rotação, os restos são mineralizados pela ação de decomposição dos microorganismos do solo de maneira que o inóculo é eliminado ou mantido abaixo do valor numérico de infecção. Através da rotação se pode controlar os patógenos que sobrevivem nos restos culturais e que não possuem estruturas de resistência como esclerócios, clamidosporas como ocorre na maioria dos cereais de inverno produzidos no país.
Nesta fase de sobrevivência, os patógenos necrotróficos, causadores de manchas nas folhas, são submetidos a uma intensa competição microbiana, durante a qual geralmente levam desvantagem. Ainda assim sofrem risco de não encontrar o hospedeiro, o que determina sua morte por desnutrição. Isto ocorre no período compreendido entre dois cultivos de uma planta anual, durante a fase saprofítica.
Em um projeto de investigação desenvolvido na Faculdade de Agronomia, dirigido pelo engenheiro agrônomo Marcelo Carmona, docente da disciplina de Fitopatologia, se estuda o efeito da rotação de cultura sobre a intensidade das manchas nas folhas dos cereais e foi avaliada a possibilidade de incluir a cevada, o trigo e a aveia como alternativas para um sistema de rotação.
Foram realizados ensaios para estimar os efeitos da rotação de culturas x monocultura de trigo, cevada e aveia em terras baixas, onde se avaliou o efeito de ambas situações sobre a ocorrência e intensidade das manchas foliares, sua incidência e severidade.
Foram plantadas pequenas porções de terra com semeadura direta em campo baixo, organizadas em blocos. Cada bloco compreendia os três cultivos com suas variantes: monocultura e rotação. Os cultivos foram realizados segunda a seqüência: cevada sobre aveia, aveia sobre restos de trigo, e trigo sobre cevada. Periodicamente eram verificadas dez plantas aleatoriamente no estágio de perfilhamento de cada porção de terra para estabelecer o grau de ataque das doenças.
A intensidade das manchas foi determinada através da incidência (% de folhas doentes em relação ao total) e a severidade (% de área foliar doente). Na etapa final do trabalho se compararam os valores obtidos para quantificar o impacto da rotação de culturas sobre o desenvolvimento das manchas.
Características dos patógenos controlados pela rotação de culturas
- Sobrevivem nos restos culturais e não possuem habilidade saprofítica.
- Não possuem estruturas de resistência. Apresentam esporos grandes “pesados” levados pelo vento a pequenas distâncias.
- Apresentam esporos pequenos, mas movidos pelas gotas da chuva a distâncias relativamente curtas.
- Apresentam poucos ou nenhum hospedeiro secundário.
Resultados
De acordo com os resultados obtidos, a rotação de culturas em terras baixas com plantio direto, com um intervalo de 1 ou mais invernos (1999 e 2000), foi significativamente eficiente na redução da incidência e gravidade das manchas.
Levando em conta o minímo de danos econômicos referentes para os cereais na aplicação de fungicidas (aproximadamente 45-50% de incidência, Carmona, 2001), os valores de incidência obtidos em monocultura de dois anos para todos os cereais e de um ano para a cevada e aveia mostram que é necessário aplicar agroquímicos, aumentando os custos de produção. A tendência é inversa quando se observa os valores na rotação.
Um aspecto relevante foi a avaliação da cultura de trigo como antecessora da cevada, da aveia como antecessora do trigo e da cevada para a aveia. Entretanto, a cevada cervejeira, o trigo e a aveia, são hospedeiros comuns de um ou vários patógenos e portanto não seriam alternativas para seu uso na rotação de culturas, para as condições argentinas onde a mancha amarela (Bipolares sorokiniana), o pietin e a fusariose não afetam severamente a cevada, a aveia é imune ao pietin, e as manchas são epidemiologicamente específicas de seus cereais, foi demonstrado que é potencialmente possível realizar rotações com trigo, cevada ou aveia.
Contrariamente ao que ocorre no Brasil, Paraguai e Uruguai onde a mancha amarela (Bipolaris sorokiniana) representa um patógeno importante, essa rotação deveria ser descartada. Como conclusão, a rotação de culturas fortalece o plantio direto com relação ao controle das manchas foliares, o que a transforma em sua “companheira obrigatória”. As informações são do E-Campo.
Projeto de investigação UBACyt
Manejo integrado de doenças importantes em soja e cereais de inverno.
Alternativas para uma produção sustentável.
Diretor: Marcelo Aníbal Carmona.
Equipe: Dora Barreto, Silvia López, Marcela Gally, Pablo Grijalba e Vanina Sugia.