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Saca da soja vai contabilizando perdas financeiras com a crise mundial

Cotações despencam até 25,68% em um mês. Trinta dias depois da convulsão mundial, oleaginosa tem pior cotação em 12 meses


Um mês após a eclosão da crise no sistema financeiro norte-americano – que acabou se espalhando pelo mundo inteiro e afugentando os fundos de investimentos do mercado – o saldo para o agronegócio mato-grossense é altamente negativo, já que a desvalorização das principais commodities é de até 25,68%. Ontem, a cotação da soja despencou mais uma vez, caindo para US$ 8,77/bushel, o menor preço dos últimos 12 meses. Um cenário parecido com uma montanha-russa, subida vertiginosa e descida inesperada.

“Se pegarmos a cotação da soja na Bolsa de Chicago, no começo de julho, teremos o melhor preço da história (US$ 16,60/bushel). Na última terça-feira, este preço despencou para US$ 8,94 (queda de 46%) e, ontem, voltou a cair para US$ 8,77. As quedas são diárias e não sabemos onde poderemos chegar”, avalia a analista da Agência Rural Commodities Agrícola (AgRural), a Daniele Siqueira. Ainda segundo ela, a crise que se instalou no sistema financeiro mundial “é um verdadeiro sobressalto para o agronegócio”. O bushel é um padrão de medida norte-americano equivalente a 27,2154 quilos, enquanto a saca é o padrão brasileiro de comercialização do grão.

Nestes últimos 30 dias, os preços das commodities agrícolas despencaram até 25,68% e os bancos interromperam os financiamentos para a safra. De positivo, só a alta do dólar que deverá refletir nas exportações do próximo ano.

“Podemos definir esta crise como um imenso furacão que se abateu sobre o agronegócio. Realmente, foi um sobressalto muito grande e hoje vivemos momentos de pessimismo e incertezas”, afirma o analista de Mercado Seneri Paludo, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (Imea), órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato).

“Na história recente das commodities, as vendas nunca caíram tanto num período tão curto de tempo, criando um cenário de ceticismo e preocupação”, analisa o especialista.

Segundo ele, a crise impacta sobre o agronegócio de duas maneiras. “A primeira é a queda acentuada nos preços das commodities agrícolas, que experimentaram as piores baixas da história em um espaço de apenas 30 dias. O segundo ponto é a fuga dos bancos, que simplesmente pararam de operar e deixaram o produtor a ver navios”.

Paludo diz que, só no período da crise, os preços da soja na Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos, despencaram de US$ 11,80 por bushel para US$ 8,77, recuo de 25,68% em um mês. Já a cotação do milho caiu de US$ 5,22/bushel para US$ 4,02, queda de 22,99%.

No caso do algodão, a redução dos preços foi de 19,32%, com a cotação caindo de US 0,6171 por libra peso para US$ 0,4979.

“O produtor formou os custos de produção da safra de milho, soja e algodão com os maiores preços da história. Agora, quando começa a plantar, os preços estão em franca queda, causando essa dicotomia”. Ele entende que a queda das commodities é um problema que vai afetar a renda do setor agrícola na safra 08/09. “Na minha avaliação, a renda só não será pior porque o câmbio subiu quase 30% e minimizou um pouco os efeitos da crise”.

Crédito - Outro fator negativo da crise, segundo Seneri Paludo, é que a cada dia o crédito está ficando mais difícil. “As tradings e bancos internacionais saíram do mercado e o produtor não sabe a quem recorrer para tomar os recursos. A situação é crítica”.

Na avaliação da analista da AgRural, essa queda tem ocorrido por causa da crise, que já não é mais localizada. Segundo ela, falar de tendência ‘é queimar’ a língua. “Vai depender de como a crise irá rolar de agora em diante. A tendência não está vinculada apenas aos fundamentos do mercado da soja, do milho ou do algodão, mas em tudo o que acontece na economia em geral”, aponta.

Retrospecto – Quinze dias após a eclosão da crise financeira mundial, os efeitos dela já aportavam no Estado. Duas semanas apenas foram suficientes para o preço da saca da oleaginosa cair de US$ 22,50 para US$ 16,80, o que representou uma desvalorização de 25,3% para aquele período.

As seguidas depressões são resultado do desempenho da commodity na Bolsa de Chicago (Cbot), que dita o ritmo mundial do grão.

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