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Safra de caju cai 40% e Ceará terá que importar castanha

Chuvas mal distribuídas e ventos fortes nos quatro polos produtores do Estado prejudicam floração e frutificação dos cajueiros


Chuvas mal distribuídas e ventos fortes nos quatro polos produtores do Estado prejudicam floração e frutificação dos cajueiros. Indústrias vão importar até 80 mil toneladas de castanha, em fevereiro de 2011

O Ceará é o maior produtor de castanha de caju do Brasil, mas vai ter que importar a matéria-prima. A safra 2010/2011 de castanha in natura deve ser 40% menor que a de 2009/2010, insuficiente para suprir a demanda das indústrias de beneficiamento do produto.

Segundo estimativas do Sindicato dos Produtores de Caju do Ceará (Sincaju), serão produzidas, no máximo, 80 mil toneladas de castanha in natura nesta safra, enquanto a do ano passado foi de 135 mil toneladas, número já considerado baixo.

O período de colheita se estende até a primeira quinzena de janeiro, mas já é considerada pelos produtores como a pior dos últimos 30 anos. A projeção pôde ser feita no período de floração e frutificação dos cajueiros, em agosto e setembro, que, por causa das chuvas mal distribuídas e dos ventos fortes, foi prejudicado. O presidente do Sincaju, Paulo de Tarso Meyer, também ressalta o “cansaço dos cajueiros”. “Muitos cajueiros foram plantados na década de 70 e já estão morrendo. Tínhamos 375 mil hectares plantados, hoje são 330 mil”, diz.

A secretária do grupo de coordenação de estatísticas agropecuárias do IBGE, Regina Dias, confirma as projeções do Sincaju, mas ainda não tem dados oficiais. “Ainda estamos fazendo o levantamento entre os 42 municípios produtores. Mas algumas cidades do polo produtor de Itapipoca, como Jijoca e Trairi, já anunciaram perdas de 90% da produção de caju gigante”, afirma Regina.

Situação ruim

Produtor de caju há quinze anos, em Cascavel, Evilásio Dantas, diz que há dois anos a produtividade tem sido baixa, mas este ano está pior. Em 450 hectares, ele já chegou a produzir 300 toneladas de castanha, em 2007. Neste ano, não vai passar de 100 toneladas.

“Quem tem caju anão precoce (produzido em laboratório) até que dá para ‘tirar’ mais, a produtividade caiu 40%. Mas quem só tem cajueiro nativo, teve perdas de 90%. A situação está ruim”, confessa o produtor, que defende mais incentivos do Governo e pesquisas em tecnologia de produção.

O produtor e agrônomo Francisco Gadelha, da região de Aracoiaba, afirma que a baixa umidade do ar também prejudicou a floração, mas coloca nas chuvas da última semana a esperança de produção maior. “Devo produzir só 10% do que produzo normalmente. É frustrante, mas quem sabe as chuvas tragam ‘boas-novas’”, diz.

Diante da safra insuficiente, as indústrias de beneficiamento da castanha de caju do Ceará devem começar a importar a matéria-prima da África Ocidental, mas só em de fevereiro de 2011.

Segundo o presidente do Sindicatos das Indústrias de Beneficiamento da Castanha de Caju do Ceará (Sindicaju), Lúcio Carneiro, a baixa produção só vai se refletir no segundo semestre do próximo ano. Devem ser importadas entre 70 mil e 80 mil toneladas de castanha in natura.

Férias coletivas

A situação da indústria, no momento, só não está “normal”, de acordo com Lúcio, por causa do atraso da entrada da safra. “A produção que era para ter entrado no final de setembro só entrou neste mês. Quase a totalidade do setor teve que recorrer a férias coletivas, esperando safra entrar”, afirma o presidente do Sindicaju.

As indústrias pararam parcialmente, mas devem voltar entre a primeira e segunda quinzena de novembro. “O mercado não ficou desabastecido por conta dos estoques processados que nós tínhamos”, afirma.

E-MAIS

OS PROBLEMAS DA CAJUCULTURA NO CEARÁ

Produtores de caju e empresários das indústrias de beneficiamento da castanha reclamam dos efeitos negativos da desvalorização do dólar. O Brasil é o terceiro maior exportador do mundo, atrás de Índia e Vietnã:

Segundo o Sindicato dos Produtores de Caju (Sincaju), 30% dos 330 mil hectares de produção estão quase totalmente improdutivos. Antes eram 700 kg de castanha por hectare, hoje são 300 kg.
”Os cajueiros estão velhos e falta dinheiro aos pequenos e médios produtores (responsáveis por 60% da produção total) para investir no trato das plantações e assim aumentar a produtividade”, afirma o presidente do Sincaju, Paulo de Tarso Meyer. Segundo ele, esses produtores também estão desestimulados por “falta de preço”. “O dólar cai e os industriais tiram dos produtores”.

De acordo o presidente do Sindicato das Indústrias de Beneficiamento da Castanha de Caju do Ceará (Sindicaju), Lúcio Carneiro, as importações já são plano antigo por três fatores: 1º Exporta-se para 40 destinos diferentes (como EUA e Europa), mas o abastecimento ainda é regionalizado. Para ele, “é preciso globalizar a oferta de matéria-prima por necessidade de sobrevivência no mercado“.2º Se antecipar a possíveis problemas da safra nacional, como a de agora. 3º A garantia da moeda.”Como a volatilidade do dólar é grande, é preciso comprar matéria-prima no mesmo preço da moeda em que se exporta, neutralizando perdas”, avalia.

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