Seguro paramétrico ainda não é realidade
A proposta é atrativa: pagamentos automáticos com base em índices como chuva, tempera
                                                A proposta é atrativa: pagamentos automáticos com base em índices como chuva, temperatura ou NDVI - Foto: Pixabay
                    Apesar de promissor e constantemente citado como inovação-chave para a gestão de riscos climáticos no agronegócio, o seguro paramétrico segue distante da realidade do produtor rural no Brasil. Segundo Daniel Miquelluti, cofundador da Picsel e especialista em seguro paramétrico, o modelo ainda não conseguiu sair dos slides das consultorias para se firmar como solução prática no campo.
A proposta é atrativa: pagamentos automáticos com base em índices como chuva, temperatura ou NDVI, sem necessidade de vistoria. Isso resolveria entraves do seguro tradicional, como atrasos, altos custos de regulação e baixa penetração em áreas remotas. No entanto, a implementação depende de infraestrutura robusta de dados, regulação clara e canais eficientes de distribuição, pilares que ainda estão ausentes no país.
Experiências internacionais mostram que o modelo funciona apenas quando adaptado à realidade local. Nos EUA, prevalece o seguro tradicional com forte subsídio estatal. Na Índia e África, os avanços ocorreram por meio de programas públicos e soluções voltadas à inclusão. Já no Brasil, mesmo com o aval da SUSEP e o apoio do PSR, a adoção é marginal, limitada por falta de sensores calibrados, baixa digitalização no campo e escassez de corretores preparados.
Para Miquelluti, é preciso menos fetiche tecnológico e mais diálogo com o agricultor. Modelos híbridos, padronização de dados, apoio institucional e uma política pública consistente são passos fundamentais para que o seguro paramétrico cumpra seu potencial e ajude o agro a enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
“O seguro paramétrico não é uma panaceia, tampouco uma moda passageira. Ele é uma peça-chave no enfrentamento das mudanças climáticas e na modernização da gestão de risco agrícola. Mas para cumprir esse papel, precisa deixar de ser tratado como uma abstração acadêmica e se tornar uma política pública conectada à realidade do campo. O Brasil pode, sim, liderar essa transformação, desde que aceite a complexidade do desafio e decida, finalmente, sair do PowerPoint e pisar na terra”, conclui.