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Semiárido vende até sêmen do bode

Maior região produtora do país acredita em expansão de consumo


Maior região produtora do país acredita em expansão de consumo por qualidades da carne magra do animal. Rebanho brasileiro é de cerca de 20 milhões de caprinos e ovinos, 13 milhões dos quais criados no Nordeste

Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) - Dá bode no almoço e no jantar. Não só buchada de bode e bode assado, mas também risoto, pirão, fondue e até pizza de bode.

O semiárido nordestino em que se localizam Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) é o maior produtor e consumidor nacional do animal.

A região já negocia carne, leite e pelo de bode e começa também a vender o sêmen do animal, cujo mercado movimenta cerca de R$ 50 milhões por ano, segundo produtores.

O Brasil tem um rebanho de cerca de 20 milhões de caprinos e ovinos, sendo 13 milhões criados no Nordeste, de acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Petrolina e Juazeiro somam 300 mil cabeças e têm o maior consumo per capita do país -dez quilos por ano, diante de 500 gramas da média nacional.

De acordo com a Embrapa, entre as carnes mais consumidas no mundo, a caprina é a mais magra (contém o menor teor de gordura).

Por exemplo, a cada 100 gramas de carne assada ao forno, a carne caprina apresenta 2,75 gramas de gordura, em comparação com 3,75 gramas da de frango, 17,14 gramas da bovina e 25,74 gramas da suína.

O fato de ser uma carne mais magra é apontado como razão para otimismo na expansão do mercado de caprinos e ovinos.

ESPÉCIES DIFERENTES

O consumo de bode e carneiro se confunde no mercado, mas são produtos com características diferentes.
 
O bode é o macho adulto dos caprinos, um mamífero herbívoro ruminante. A fêmea é a cabra, e os animais jovens são conhecidos como cabritos.

Na maioria das raças de caprinos, os dois sexos têm chifres e barba. A criação fornece -além de couro, carne e leite- lã e estrume.

São excelentes exploradores. Têm a carne mais escura que a do cordeiro ou carneiro. Por ter pouca gordura, ela é mais firme e seca.

O carneiro é o macho adulto dos ovinos. A fêmea é a ovelha, e o filhote, o cordeiro.

Tem corpo mais robusto e cabeça arredondada, com orelhas menores e não pendentes como as do cabrito. A carne é mais clara do que a do bode ou cabrito.

SÊMEN

O criador José Ramos da Silva Filho, 53, dono do sítio Acauã, em Juazeiro, trouxe da África do Sul exemplares das raças boer, savana e kalahari red.

Ramos possui cerca de 500 matrizes, que podem ser vendidas a cerca de R$ 2.000 cada uma. Um reprodutor de excelência atinge o valor de R$ 50 mil.

"Temos no sertão o maior plantel do Brasil, porque há uma tradição no consumo.

Uma coisa puxa a outra", afirma Ramos.

Ele atua como melhorador e selecionador das raças.

Neste ano, Ramos começou a vender o sêmen dos animais, a um preço que varia de R$ 20 a R$ 100 a ampola.
 
"Fornecemos sêmen, reprodutores e matrizes para novos criadores para que tenham melhora na qualidade do rebanho, animais com maior produção de carne."

A carne de bode ou cabrito tem uma gordura superficial, imediatamente abaixo da pele, explica Ramos.

A do carneiro tem gordura entre as fibras. "Ela se dissolve e torna a carne do carneiro mais macia. A do bode fica mais consistente quando assada, por exemplo, mas é mais saudável. Cozida quase não há diferença", afirma o produtor.

O preço do carneiro ainda é um pouco mais alto.

CHEIRO

"Existe rejeição do bode em razão do mau cheiro", declara Ramos.

O bode exala um odor (secreção de feromônio) para atrair a fêmea ao acasalamento. "Mas há hoje raças que foram melhoradas suficientemente para que esse cheiro seja insignificante."

Muitos produtores de carne de bode castram os animais, provocando redução no funcionamento das glândulas produtoras do feromônio e, consequentemente, do cheiro que produzem.

Há ainda a possibilidade de extrair as glândulas, medida que pode ser tomada no momento do abate do animal ou na cozinha, antes de levar a carne para o fogo.

Como existem muitos pequenos produtores no Nordeste, é comum o consumo de carne de bode com cheiro, o chamado "futum", apesar de circularem receitas paliativas entre cozinheiras.

"Um animal macho de mais de um ano, não castrado, tem futum de bode mesmo. Não tem jeito", admite.

O jornalista Plínio Fraga viajou a convite do 2º Festival Internacional da Sanfona

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