Seminário debate oportunidades de mercado e manejo do sorgo
Evento discute sorgo na segunda safra, produtividade e mercado de etanol
Foto: Pixabay
“Cultura do sorgo, a escolha certa para a segunda safra - Vencendo os desafios e mitos para expandir com as oportunidades” foi o tema do seminário realizado dia 26 de novembro em Maracaju, Mato Grosso do Sul, pela Embrapa e pela empresa Inpasa, na sede do Sindicato Rural. A cultura se destaca por proporcionar maior estabilidade de produção, pela menor exigência hídrica e pela maior tolerância a veranicos prolongados.
A iniciativa integra ações do acordo de cooperação técnica da Embrapa e da Inpasa no projeto “Transferência de tecnologia para o desenvolvimento sustentável da produção de sorgo nas regiões de Balsas/MA e Sidrolândia/MS, visando a produção de etanol e seus co-produtos”, liderado pelo chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo, Frederico Botelho. O intuito é impulsionar o desenvolvimento regional e consolidar o sorgo como uma cultura estratégica para o futuro da agricultura brasileira.
Mais de 140 pessoas, incluindo produtores, consultores e especialistas da cadeia produtiva do sorgo participaram do evento. A recepção e as saudacões iniciais foram proferidas pelo supervisor de Transferência de Tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo, Fredson Chaves, pelo gerente comercial da Inpasa, Rui Farias, pelo pesquisador Gessi Ceccon e o supervisor de Transferência de Tecnologia, Orismar Silva, da Embrapa Agropecuária Oeste.
Fredson Chaves destacou que “as tendências, desafios e oportunidades que envolvem o contexto global do sorgo e o seu manejo eficiente em campos são temas fundamentais para o promover o aumento da competitividade e da sustentabilidade do sorgo no Brasil e no mundo”.
A programação técnica, constituída pela apresentação de cinco palestras, foi iniciada pelo pesquisador Flavio Dessaune Tardin, da Embrapa Milho e Sorgo, com o assunto “Contexto atual, usos e oportunidades da cultura do sorgo no Brasil e no Mundo.
Tardin comentou que o sorgo pode se tornar mais uma importante commodity brasileira. É o quinto cereal mais produzido no mundo, após o milho, o trigo, o arroz e a cevada. É um alimento concentrado e energético e tem múltiplos usos, tanto para a alimentação animal e humana, quanto para o fornecimento de energia, inclusive a produção de etanol. Por isso as ações de fomento ao cultivo do sorgo são tão relevantes quanto às adoções de técnicas de manejo adequadas.
“O sorgo é uma grande cultura para múltiplos usos. Uma garantia para nossa alimentação e para a geração de energia para o futuro frente a estes cenários de ocorrência de atipicidades climáticas”. “O segredo para sua produção é conhecer os estádios de desenvolvimento e manejos culturais a serem realizados e se atentar à escolha da cultivar. Existe um número elevado de cultivares no mercado. O ideal é que o produtor faça uma diversificação de plantio de cultivares na safrinha, começando a plantar os híbridos mais tardios, por serem geralmente mais produtivos, e finalizar a segunda safra plantando os híbridos mais precoces”, pontuou Tardin.
Outros detalhes pontuados por Tardin foram a atenção à época de plantio, de acordo com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), manejo de plantas daninhas, garantindo a semeadura do sorgo no limpo e o atendimento das exigências nutricionais do sorgo com o manejo da adubação no sistema de produção.
Em seguida, Rui Farias, gerente da Inpasa, falou sobre “Mercado de etanol e Programa Inpasa de originação e compra”. “Nossa missão é trazer soluções limpas e sustentáveis para atender a demanda crescente de energia do planeta. No sistema de produção de grãos, a segunda safra é de fundamental importância para a agricultura brasileira. Uma fonte para o aumento da produtividade agrícola e para a melhoria do fluxo de caixa do produtor”, disse Farias.
O terceiro assunto “Sorgo em sistemas integrados e resultados no Mato Grosso do Sul” foi proferido pelo pesquisador Gessí Ceccon, da Embrapa Agropecuária Oeste. Ele apresentou estudos em que o sorgo granífero pode ser consorciado com uma pastagem, como braquiária ou panicum, quando a propriedade tem atividade de pecuária, em que há demanda de forragem para os animais, e que pode ser suprida com a forrageira crescida em consórcio com o sorgo.
“Na atividade exclusivamente de lavoura é preferível que seja cultivado apenas sorgo, visando a maior produtividade e qualidade dos grãos, pela necessidade de colheita com grãos secos”, explicou Ceccon.
Ceccon mostrou também os resultados de avaliação de cultivares em Mato Grosso do Sul no ano de 2025. Nesse trabalho foi identificado que ambientes com chuvas regulares e boa fertilidade do solo proporcionam altas produtividades de grãos de sorgo, com destaque para os resultados obtidos nos municípios Bandeirantes, Dois irmãos do Buriti e Jardim. Já em ambientes mais ao Sul do Estado, como Amambai e Naviraí, o sorgo não apresentou resultados satisfatórios. “Para colher um bom sorgo, além de seguir o Zoneamento Agrícola de Risco Climático é preciso fazer o manejo integrado de pragas e de doenças”, frisou Ceccon.
Para falar sobre as “Principais pragas da cultura do sorgo e estratégias de manejo”, foi chamado o pesquisador Ivênio Rubens de Oliveira, da Embrapa Milho e Sorgo. Ele comentou que “o produtor, dentro de uma estratégia de manejo de pragas na cultura do sorgo, pode e deve lançar mão de estratégias de controle, evitando mais prejuízos na produção”.
“No entanto, a atenção deve estar voltada para a escolha das melhores cultivares e em seguida para o monitoramento e os níveis de tomada de decisão. Assim, as ferramentas disponíveis (químicos, biológicos, genéticos, culturais e outros) serão suficientes para manter as pragas em níveis que não representem danos econômicos, diminuindo o custo de produção da cultura”, explicou Oliveira.
Para encerrar o ciclo de palestras, Dagma Silva, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, abordou “Estratégias de manejo para doenças na cultura do sorgo. “É prazeroso trabalhar com o sorgo porque ele é responsivo. Em função do manejo adequado, o sorgo responde com melhor produtividade”, disse.
“A principal estratégia para as doenças é conhecer para manejar. Conhecer os sintomas das doenças, as condições que favorecem a infecção, a resistência genética dos híbridos e as características dos produtos para fazer o controle adequado. Além disso, ficar atento à época certa para o início do manejo, que começa antes do plantio, com a escolha dos híbridos e o tratamento das sementes, a aplicação de fungicidas, herbicidas ou inseticidas, e segue até a colheita”, descreveu Dagma Silva.
Experiência no campo
Durante o evento, os participantes puderam compartilhar suas experiências. O proprietário da fazenda Santo André, Waldemir Portela, está com 300 hectares de sorgo na safra verão 2025, que serão destinados à produção de DDG. “Pretendo expandir a área de sorgo para 1300 hectares na safrinha”, disse, Portela.
O consultor Constâncio Rodrigues, da empresa Campo Consultoria, coordena propriedades que somam quatro mil hectares. “O sorgo ocupa 25% dessa área na safrinha, para produção de grãos, no sistema Integração Lavoura-Pecuária. Quanto mais mercado, mais rentabilidade para o produtor”, exclamou Rodrigues.
O produtor Darwin Girelli, consultor na empresa K.Agro Consultoria, há oito anos administra uma área de 1200 hectares, em que 50% do espaço é separado para o cultivo de sorgo na safrinha. Trato como uma cultura do presente, com grande potencial de melhorar a produtividade. Antes tínhamos um gargalo logístico, pois o mercado local só absorvia a produção para fins de nutrição pelas empresas locais. E de uns anos prá cá surgiu mais opções de vendas. Há dois anos, destinamos o sorgo para o etanol”, disse Girelli.