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Soja transgênica não é identificada no Rio Grande do Sul


Enquanto o governo discute as restrições da Medida Provisória (MP) 113, que libera provisoriamente a comercialização de soja transgênica no Brasil, o Estado já colheu 10% da safra. A soja é misturada e não-identificada, admitem cerealistas e cooperativas. Na prática do recebimento dos grãos, pouco mudou. O efeito real da MP se resume, até agora, à descriminalização do comércio de variedades transgênicas - contrabandeadas da Argentina e multiplicadas clandestinamente no Brasil - nesta safra.

Pelos cálculos da Emater, o Rio Grande do Sul deve colher 7,843 milhões de toneladas do grão. Mas, sem a confissão do produtor na nota fiscal, sem os testes de transgenia e com a mistura nos silos, é impossível saber quanto da safra é ou não geneticamente modificada. "Tudo acabará passando como transgênico", acredita o cerealista Dilermando Rostirolla, de Passo Fundo, que até agora recebeu 3 mil toneladas de soja sem distinção.

Na região do Alto Jacuí, a maioria das empresas e cooperativas também não está fazendo a identificação. Para V.M., diretor de uma das principais receptoras de soja de Cruz Alta, o governo determinou a medida provisória - em 27 de março - sem um prazo mínimo para as empresas se estruturarem.

Em Passo Fundo, a Companhia Zaffari tampouco faz a separação. A empresa recebe a safra normalmente, mas as máquinas que deveriam processar mil toneladas ao dia estão paradas enquanto não se define a normatização da MP. "Faltou senso de prática e urgência na medida. A colheita está andando e as tais restrições serão empurradas com a barriga", prevê o presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo, Carlos Fauth.

Empresa não exige atestado dos associados

A Cooperativa Tritícola de Getúlio Vargas (Cotrigo) recebe 170 mil toneladas e não exige atestado para a soja dos associados. Quem plantou convencional não tem opção, admite o diretor José Lauro Soares. " É inviável economicamente fazer o produtor percorrer uma longa distância para descarregar a não-transgênica. É uma confusão muito grande."

A idéia do governo de fazer o agricultor identificar a soja convencional na nota fiscal não é tão simples quanto parece. Produtor de 390 hectares de soja convencional em Passo Fundo, Alfeu Cirino do Carmo vende a safra para a Bunge Alimentos mediante com um rígido controle. A empresa fiscaliza os caminhões de transporte que saem lacrados da propriedade, e o maquinário do produtor não pode ser compartilhado. Carmo prevê receber um benefício financeiro de 3% pelo serviço e cuidado extra.

"O programa de rastreamento é desenvolvido há quatro anos. As entregas eventuais passam por testes laboratoriais mais rigorosos, mas são possíveis", diz o assessor de diretoria da Bunge, Herculano Martins. A Cooperativa Tritícola Mista Alto Jacuí (Cotrijal) separou três unidades exclusivas para entrega de cargas testadas. Em Ijuí, a Cooperativa Regional Tritícola Serrana (Cotrijuí) também decidiu enviar técnicos às lavouras para identificar na origem a soja convencional. "Mas 99% dos agricultores não estão separando", revela o presidente da Cotrijal, Nei Mânica.

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