Sem chuva desde 19 de janeiro, grande parte da lavoura de soja de Marcos Paschetto, em Quevedos, sofre pela falta d''água. O agricultor semeou 210 ha, 80% com variedades superprecoces. Com a cultura em floração e enchimento de grão, já há sinais de estresse.
A situação se repete em outras propriedades da região Central, agravada pelo volume de precipitação no plantio. Com água em abundância, as plantas desenvolveram raízes superficiais. "Elas se acostumaram com chuva e não conseguem buscar nutrientes em maior profundidade", diz Paschetto.
O agricultor observa as folhas murcharem e as flores caírem. Com temperatura de até 38°C, a expectativa de colher em média 50 sacas por hectare está comprometida. "Se não chover nos próximos cinco dias, vai ser feia a coisa."
A esperança de Paschetto se espelha no discurso do técnico agrícola Antônio Renato Santos, da Cooperativa Agrícola Tupanciretã. Se chover até a próxima semana, a situação melhora significativamente. Dos 35 mil ha de soja nos oito municípios da área de abrangência da cooperativa, 10% foram semeados com variedades de ciclo curto. "Essas lavouras estão a mercê do perigo."
Nos 130 mil hectares destinados à cultura na área de abrangência da Cooperativa Agropecuária Júlio de Castilhos (Cotrijuc), o problema é maior. Ali, 80% das lavouras saíram da fase de desenvolvimento vegetativo e precisam da chuva que não vem há duas semanas. "O panorama é disforme. Algumas áreas tinham mais umidade e estão em boas condições. Outras, parecem estar há um mês sem água", conta o técnico agrícola Tiarli de Siqueira. Para ele, a tendência é de plantas com menor carga e grãos de peso abaixo do ideal. Siqueira não acredita que a quebra na produtividade em uma região possa ser compensada em outras. "Seria preciso colher 60 sacas/ha, o que é improvável."
O produtor Dario Luiz Castelli, que plantou 300 hectares em Júlio de Castilhos e Tupanciretã, já conta com prejuízo. A expectativa era colher 53 sacas/ha mas pode ficar abaixo de 40 sacas. "Tenho 60% da minha soja em floração e enchimento de grão. São plantas frágeis."