Tornado histórico no sul do Brasil
O caso mais severo foi o de Rio Bonito do Iguaçu
Foto: Corpo de bombeiros
Por Gabriel Rodrigues com colaboração de Aline Merladete
O final de semana dos dias 7 e 8 de novembro de 2025 entrou para a história da meteorologia brasileira com a ocorrência de múltiplos tornados entre o sudoeste do Paraná e o oeste de Santa Catarina. Segundo Gabriel Rodrigues, meteorologista do Portal Agrolink, trata-se de um dos episódios mais destrutivos já registrados no país, refletindo a crescente frequência e intensidade de eventos extremos associados às mudanças climáticas.
Na sexta-feira, 07 de novembro, ao menos oito tornados foram confirmados nos dois estados, com destaque para os municípios de Rio Bonito do Iguaçu (PR), Xanxerê (SC), Faxinal dos Guedes (SC), Guarapuava (PR) e Turvo (PR). A estimativa é que o número de tornados possa ser ainda maior, especialmente em áreas isoladas. O caso mais severo foi o de Rio Bonito do Iguaçu, onde o tornado foi classificado preliminarmente como F4 na escala Fujita, com ventos entre 331 km/h e 419 km/h — um marco inédito nas últimas décadas no Brasil.
As consequências foram devastadoras: aproximadamente 90% da cidade foi destruída, com casas completamente demolidas, árvores tombadas e veículos lançados a grandes distâncias. Foram confirmadas ao menos seis mortes, centenas de feridos e mais de mil pessoas desabrigadas.
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Imagens de satélite processadas pelo Laboratório Lápis evidenciam o impacto do fenômeno, mostrando bairros inteiros transformados em pilhas de escombros. Câmeras de segurança em cidades catarinenses flagraram casas sendo arrancadas do chão em questão de segundos, ressaltando a intensidade e a imprevisibilidade do fenômeno.
O sistema PREVOTS (Previsões Convectivas e Ocorrências de Tempo Severo), desenvolvido por uma parceria entre a UFSM, INPE e a base de dados SAMHI, vem oferecendo previsões experimentais para o centro-sul do Brasil com base em modelos probabilísticos e relatos da Rede Voluntária de Observadores de Tempestades (REVOT). No entanto, como destaca Gabriel Rodrigues, a previsão de tornados ainda enfrenta limitações técnicas: menos de 30% das supercélulas monitoradas resultam efetivamente em tornados.

Imagem elaborada por Humberto Barbosa - Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS).
Além disso, mesmo com o avanço tecnológico, os alertas meteorológicos conseguem anteceder a ocorrência de um tornado por apenas algumas horas. Em Rio Bonito do Iguaçu, moradores relataram a ausência de qualquer aviso prévio, evidenciando a urgência de melhorias nos sistemas de alerta e comunicação de risco, principalmente em áreas rurais e municípios de menor porte.
Os impactos do tornado não se limitaram ao meio urbano. No meio rural, as perdas na agricultura foram significativas. Estruturas como silos, galpões e cercas foram destruídas, lavouras inteiras perdidas e instalações pecuárias severamente danificadas.
De acordo com Gabriel Rodrigues, eventos extremos como este obrigam o setor a rever seus protocolos de segurança e a incorporar ferramentas de avaliação de risco mais robustas. A tendência de aumento na frequência e intensidade de eventos como tornados, vendavais e granizos é compatível com as projeções associadas às mudanças climáticas e afeta, sobretudo, regiões agrícolas em expansão no centro-sul do país.