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Trigo em alta leva à escassez e reduz safra de outras culturas

A indústria considera que haverá problema de abastecimento em 2007


A cadeia produtiva de trigo prevê que vai se prolongar para o início do próximo ano o atual período de dificuldades do setor: com estimativa de quebra de 54,2% na próxima safra brasileira (para 2,23 milhões de toneladas) e dificuldades para importar o produto da Argentina, a indústria considera que haverá problema de abastecimento a partir de janeiro.

Além disso, moinhos e produtores prevêem que o desestímulo à plantação de trigo vai continuar, com a compra, por brasileiros, de indústrias na Argentina, para evitar os problemas com importações daquele país. Com isso, vários produtos serão prejudicados — o trigo é a cultura de inverno que mais viabiliza o plantio de culturas de verão como a soja, pelo sistema de rotatividade das plantações.

Os problemas do trigo foram agravados na semana passada com a greve de produtores rurais na Argentina, principal fornecedor do produto para o Brasil.

Outras informações ajudaram a aumentar a tensão no setor. A FAO (órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação), previu que a produção mundial de trigo deve cair 5,3% nesta safra, para 592 milhões de toneladas. A FAO constatou também que o preço do trigo alcançou seu nível mais alto nos últimos dez anos.

As cotações no mercado internacional continuam em nível elevado, com as perspectivas de colheita menor em produtores importantes como a Austrália. Os preços dispararam 66% em 12 meses na Bolsa de Chicago, elevando os custos dos moinhos e empresas que trabalham com o produto, como a Kellogg.

Medidas de emergência

Para evitar que esse quadro se agrave no Brasil, a indústria tomou duas providências: pediu que o governo reduza a TEC (tarifa de 10% que se cobra para importações de fora do Mercosul) para 2%; e intensificou contatos para compra de moinhos na Argentina. Pacífico e Anaconda são as empresas que estão em estágio avançado de negociação.

A situação na Argentina continua a ser de incerteza. Segundo Christian Saigh, diretor do Sindicato da Indústria do Trigo (Sindustrigo) — que visitou a Argentina na semana retrasada —, o governo daquele país quer criar uma taxa de exportação com a finalidade de constituir um fundo de reserva para os moinhos locais e, assim, estabilizar a inflação.

“Por causa disso, o produtor não entrega a matéria-prima porque não sabe o quanto vai receber. Do outro lado, o exportador não exporta porque desconhece o valor que terá de repassar ao governo argentino”, diz ele.

Os prejuízos desse quadro podem ser grandes para o Brasil. “Se nada for decidido efetivamente até o final deste mês, é possível que haja problemas de abastecimento de trigo no Brasil a partir de janeiro, especialmente no Centro-Oeste”, afirma Saigh. Atualmente, o Brasil é o principal comprador do trigo argentino. Em 2005, o País importou mais de 5 milhões de toneladas.

Até outubro deste ano, o Brasil já comprou 5,4 milhões de toneladas do grão. A previsão do setor é de que o ano se encerre com um total importado de 6,2 milhões de toneladas.

Contra as taxas

Para os moinhos brasileiros, as taxações impostas pelo governo argentino criam um problema a mais em um quadro de fornecimento já preocupante.

Por isso, além de pedirem redução da TEC, as indústrias que processam trigo querem que na reunião da Camex a ser realizada em janeiro se estabeleça isenção total de taxas para importação do produto fora do Mercosul.

Outra opção seria adotar a linha adotada pelo Chile, lembra Christian Saigh: “Para se contrapor à taxação argentina, os chilenos estabeleceram uma sobretaxa de 17% sobre o trigo que entra no País”.

A indústria também recorda que é obrigada a pagar um adicional de 25% sobre o frete nas importações de trigo feitas de países de fora do Mercosul. E lembra que o produto, ao contrário do que aconteceu com outros da cesta básica como arroz, feijão e leite, continua a pagar PIS/Cofins.

Mais 2 milhões de toneladas

Samuel Hosken, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), reforça que o setor enfrenta um cenário de dificuldades: “O Brasil precisa buscar quase dois milhões de toneladas de trigo no mercado internacional para suprir a queda da produção nacional”, afirma.

Dados da Abitrigo mostram que em 2005 o país produziu 4,8 milhões de toneladas. Já para este ano, a perspectiva é de 2,2 milhões.

Segundo Hosken, o lógico seria comprar da Argentina, mas, conforme o executivo, a Argentina, além dos problemas com taxas, não dispõe da commodity porque aumentou as exportações em 10% para outros países.

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