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Triticultores já planejam próxima safra

A safra de soja ainda nem acabou e os produtores começam procura por sementes


Foto: Marcel Oliveira

Produtores de trigo já planejam a próxima safra da cultura mesmo sem ainda ter finalizado a colheita da soja. Isso porque o trigo teve sua maior produção dos últimos 20 anos.

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na safra 20/21 a área cresceu 14,8% no país, a produtividade foi 5,4% maior e o volume colhido alcançou 6,2 milhões de toneladas ou 20,9% a mais. O preço também favoreceu a triticultura com crescimento constante ao longo de 2020, fechando o ano próximo a R$ 70,00 a saca de 60kg.

A busca neste momento é por sementes. De acordo com a Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), já são mais de 89 mil hectares aprovados para a produção de sementes de trigo no Estado, um aumento de 18% em comparação à safra anterior. 

“Estes números demonstram o sentimento do produtor de sementes para incrementar o trigo no portfólio. Mesmo que nem toda a produção de sementes seja comercializada, certamente o mercado está aquecido, principalmente em função dos preços que tornam o trigo uma opção rentável além das vantagens no sistema de produção”, avalia o diretor administrativo da Apassul, Jean Cirino.

No Paraná, maior estado produtor do cereal nas últimas safras, os produtores aguardam a colheita da soja para decidir se investem no trigo ou optam pelo plantio tardio do milho safrinha. A Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem) destaca que o setor já observa a antecipação pela procura de sementes de trigo: “A procura pelo trigo, que antes acontecia no mês de março, neste ano começou em janeiro”, conta o Diretor Executivo da Apasem, Jhony Möller. Ele acredita que o Paraná deverá repetir a área de trigo do ano passado, acima de um milhão de hectares. Os paranaenses colheram 3,088 milhões de toneladas, um avanço de mais de 40%.

Acompanhando o aumento nas cotações do trigo, o valor da semente também sofreu alteração. Conforme números do Deral/PR, os preços recebidos pelo produtor de trigo no Paraná tiveram alta de 30,5% de janeiro a novembro de 2020, enquanto o preço da semente subiu 16% no mesmo período.

Como escolher a cultivar ideal?

A publicação Informações Técnicas para Trigo e Triticale – safra 2020 traz a indicação de 230 cultivares de trigo para as diferentes regiões produtoras no Brasil. 

O produtor deve fazer a avaliação das variedades em sua propriedade, com áreas de experimentação, uma vez que, o desempenho pode variar de região para região. Também é aconselhável que observe as qualidades agronômicas e resistência às doenças.

Segundo o pesquisador da Embrapa Trigo, Pedro Scheeren, o produtor deve ter em mente que, apesar da valorização do cereal, tem que pensar na liquidez e se a variedade vai ter bom desempenho em sua lavoura considerando sanidade e otimização de nutrientes, tendo economia em fertilizantes e fungicidas. “Devemos considerar sempre onde e como será cultivada a variedade escolhida, desde o ambiente, clima e solo, até a capacidade de investimento na lavoura, bem como o potencial de rendimento esperado na área com o manejo planejado, sem esquecer da liquidez daquela cultivar no mercado regional” explica.

Vantagens do trigo

O investimento no cereal de inverno não deve ser calculado de forma isolada, pensando apenas no preço, e sim avaliado no sistema de produção verão/inverno. Um estudo da Embrapa, conduzido nas safras 2017/18 e 2018/19, em Londrina (PR), mostrou que o cultivo de trigo no inverno pode resultar em um aumento superior a 50% na produtividade da soja em relação ao pousio. 

Segundo o pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi, a palhada do trigo reduziu o estresse hídrico na soja durante o enchimento de grãos. “Além disso reduziu a temperatura do solo, enquanto que as raízes da cultura de inverno permitiram maior infiltração de água no solo”, comenta.

Na Embrapa Trigo, em Passo Fundo (RS), o cultivo do trigo foi a base de um experimento para avaliar a infiltração de água no solo. “Após dois anos de intervenção física e química no solo, a taxa de infiltração de água passou de 13 mm/hora para 80 mm/hora. Em 120 dias de implantação da cultura do trigo, as raízes já alcançavam 1,3 metros de profundidade, melhorando a estrutura do solo para disponibilidade de água às plantas em período de estiagem”, explica o analista de transferência de tecnologia Jorge Lemainski. “Isso prova que a melhor safra de verão começa no inverno”, conclui.


 

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