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Aspectos gerais da aplicação de fungicidas

Leia sobre aspectos que devem ser considerados na aplicação de fungicidas para que esta se torne mais eficiente.


Foto: Canva

Ao aplicarmos Fungicidas, os fatores que devem ser considerados em primeiro lugar para planejar a aplicação são o Tamanho de gotas e volume de aplicação. Os demais fatores como momento da aplicação, condições climáticas, condições operacionais e recomendação do produto devem ser considerados em conjunto.

A aplicação de Fungicidas com maior ação sistêmica na folha pode ser feita com gotas maiores, reduzindo a chance de Deriva e aumentando a eficiência da operação. Já no caso de Fungicidas protetores, de contato ou com pouca ação sistêmica, que exigem boa cobertura do alvo, são utilizadas gotas menores e/ou maior volume de calda. Gotas finas ou muito finas também devem ser utilizadas em situações onde a aplicação busca atingir a parte interna ou inferior das plantas, como no caso da aplicação preventiva de fungicida para ferrugem da soja.

 

Condições climáticas durante a aplicação de fungicidas

Muitas vezes nos deparamos com a necessidade de aplicar fungicidas em épocas com restrições de aplicação. Por exemplo, em épocas chuvosas, quando é comum a necessidade de aplicação de fungicidas, os horários disponíveis para o trabalho no campo são reduzidos, fazendo com que muitas aplicações sejam feitas quase no limite das condições mínimas de trabalho.

Uma escolha eficiente do tamanho de gotas conforme as condições climáticas pode diminuir esse problema. Observe a tabela abaixo:

Tabela 1. Escolha do tamanho das gotas conforme as condições meteorológicas.
Fator Classes de gotas conforme as condições climáticas
  Muito finas / finas Finas ou médias Médias ou grossas
Temperatura abaixo de 25ºC 25ºC a 28ºC acima de 28ºC
Umidade relativa acima de 70% 60% a 70% abaixo de 60%

Fonte: adaptado de Antuniassi et al., 2005.

 

Seguindo a tabela, a escolha do tamanho de gota se dá pela opção mais segura dentro dos limites de cada fator. Por exemplo, se a umidade permite uma gota fina, mas a temperatura permite uma gota média, escolhemos a gota maior (média)  por ser a mais segura, ou seja, que possui menor chance de perda por evaporação ou por deriva. Nesse caso, tentando manter uma boa cobertura das folhas, ao escolher gotas maiores, pode-se aumentar o volume de calda para compensar a redução da cobertura ao aumentar o tamanho da gota.

Caso ocorra chuva, deve haver um intervalo mínimo entre a aplicação e a chuva, de forma que o fungicida tenha tempo necessário para ser absorvido antes de ser lavado. Caso ocorra orvalho, a água na folha pode interferir no controle ou até causar escorrimento, ainda mais com a presença de surfactantes. Alguns relatos dão conta de que o orvalho pode favorecer a redistribuição de Fungicidas. Dessa forma, recomenda-se não aplicar caso tenha muito orvalho a ponto de ocorrer escorrimento. Caso tenha menor quantidade de orvalho, sem ocorrer escorrimento, pode-se aplicar o fungicida, desde que com bastante atenção a esse ponto.

Uma boa opção para fugir dos limites de temperatura e umidade é a aplicação noturna, desde que o vento esteja entre 3 e 10 km/h. Devemos ter em mente também que o final da madrugada / início da manhã geralmente é o horário com maior formação de orvalho, que pode resultar em escorrimento da calda, conforme detalhamos acima.

 

 

Uso de adjuvantes ao aplicar fungicidas

Grande parte dos fungicidas possui recomendação de aplicação com óleos emulsionáveis na bula. Gotas com óleo demoram mais para evaporar do que gotas sem óleo, porém, a velocidade de evaporação nos segundos iniciais de ambas as gotas é muito semelhante, o que faz com que a presença de óleo não faça muita diferença no intervalo entre a formação da gota e a sua deposição. Porém, quando as gotas se depositam sobre as folhas, o óleo provoca uma maior durabilidade da área molhada pela gota, favorecendo a retenção e penetração do inseticida nas folhas, além de proteger o produto contra a perda durante uma chuva. Óleos com a adição de surfactantes podem auxiliar o espalhamento das gotas, melhorando a cobertura, além de promover, em alguns casos, uma melhoria da estabilidade da calda.

Outro ponto importante é que os óleos (na forma de emulsão) induzem o aumento do tamanho médio de gotas geradas por alguns tipos de ponta, reduzindo a deriva, reduzindo também, em alguns casos, a variabilidade do tamanho das gotas. Porém, na aplicação aérea, a emulsão pode causar o efeito oposto em vários casos, reduzindo o tamanho de gotas, e aumentando a deriva, o que se potencializa pela altura de aplicação.

Como o óleo na calda aumenta a adesão e penetração de fungicidas nas folhas, diversos fungicidas incluem a necessidade de adição de óleo na calda. Cada fungicida possui suas características, sendo importante seguir as recomendações da bula quanto ao tipo e concentração do óleo. Quanto ao tipo, a escolha depende da necessidade do sistema de aplicação, custo do adjuvante e recomendações técnicas para o defensivo em questão. Óleos minerais e óleos vegetais modificados são recomendados em concentrações de até 1%, enquanto óleos vegetais não modificados são recomendados em concentrações maiores, podendo atingir até 20%. Vale ressaltar que óleos minerais, devido à maior fitotoxicidade do que os vegetais, não devem ser utilizados indiscriminadamente.

Nas aplicações aéreas com baixo volume, geralmente são utilizados óleos vegetais emulsionáveis em concentrações de 5% a 10% do volume, mas nas aplicações acima de 20 L/ha, as concentrações podem variar de 1% a 5%. Se forem utilizados óleos minerais ou vegetais modificados, as concentrações ficam entre 0,25% e 1%.

 

Aplicações terrestres de fungicidas

Nos últimos anos vem ocorrendo uma redução do volume de calda na aplicação de fungicidas, de forma a alcançar maior rendimento operacional nas aplicações, principalmente em áreas extensas, sempre respeitando os limites meteorológicos. A grande diversidade e tecnologia investida em pontas hidráulicas permite diversas opções dentro das classes de tamanho de gotas, como pontas que reduzem a deriva ou que aumentam a cobertura do alvo. Bicos com corpos de múltiplas pontas permitem otimizar a vazão e espectro de gotas conforme as condições climáticas durante a pulverização. Outras tecnologias também permitem a otimização da aplicação como pontas 3D, acessórios que permitem aplicação simultânea com mais de uma ponta em cada posição, sistemas eletrostáticos, Assistência de ar etc.

Quanto ao tamanho de gotas, gotas muito finas cobrem melhor os alvos, porém, nem sempre proporcionam melhores condições de depósito (quantidade de ingrediente ativo sobre as folhas), pois essas mesmas gotas estão mais sujeitas à deriva. Quando buscamos atingir maior cobertura, como no caso de produtos de contato, devemos dar bastante atenção à deriva, evitando prejuízos financeiros e ambientais. Já no caso de produtos com maior ação sistêmica, podemos utilizar gotas médias, que são menos suscetíveis à deriva e possuem maior deposição nas folhas.

Ao aplicarmos fungicidas para doenças de final de ciclo, muitas vezes nos deparamos com o problema de causar danos mecânicos nas culturas que já estão bastante desenvolvidas. Este problema pode ser bastante reduzido se utilizarmos o tráfego controlado (passar com o pulverizador sempre no mesmo rastro desde o início da cultura), pulverizadores autopropelidos com pneus estreitos e barras de grande dimensão. Alguns estudos apontam que as perdas de produtividade por danos mecânicos com pneus normais (largos) chegam a cerca de 6%, ao passo que a perda com pneus estreitos é de 1% ou menos.

 

Aplicações aéreas de fungicidas

A ferrugem da soja influenciou bastante as aplicações aéreas de fungicidas no Brasil a partir da década de 2000, permitindo a aplicação de áreas grandes em um curto espaço de tempo. A redução do volume de calda e o uso de altas tecnologias tornou este tipo de aplicação bastante interessante, o que resultou em um aumento nas pesquisas e desenvolvimento de técnicas relacionadas à aplicação aérea.

 

 

No início desse boom da aplicação aérea, houveram muitas aplicações ineficientes, pois entendeu-se com o tempo que diversos fatores influenciam muito a eficiência da aplicação, como o gerenciamento, escolha correta da tecnologia da aplicação, altura de voo, faixa de deposição, condições de umidade, temperatura e vento etc., sendo que diversos desses fatores interagem entre si.

Como a aplicação aérea muitas vezes é terceirizada, recomenda-se avaliar a disponibilidade do serviço com antecedência, bem como fazer a gestão da logística, evitando que a aplicação seja atrasada e feita em momentos não favoráveis, o que prejudica o sucesso da aplicação.

 

Fungicidas protetores e a tecnologia de aplicação

Um dos desafios da aplicação de fungicidas é a aplicação de fungicidas protetores misturados com fungicidas sistêmicos, que demanda pesquisas e técnicas quanto à compatibilidade e estabilidade das misturas, definição da tecnologia de aplicação e resistência dos produtos quanto à lavagem pela chuva. Quanto às misturas, formulações sólidas (WP e WG) merecem um cuidado especial.

As misturas em tanque devem levar em conta as marcas dos produtos (existem diferenças entre os componentes e formulações), ordem de mistura e suas concentrações nas caldas. Para isso, as misturas devem ser previamente analisadas (teste da garrafa), e é importante conhecermos as diferenças no comportamento em misturas de diversos tipos de formulações.

Para fungicidas protetores, que exigem maior necessidade de cobertura quando comparados com fungicidas sistêmicos, o uso de maiores volumes de calda pode resultar em maior eficiência do tratamento, independente do tamanho das gotas (médias ou finas). Além disso, ao misturarmos fungicidas sistêmicos e protetores, ocorre uma interferência no espectro de gotas, podendo ocorrer alteração no diâmetro mediano volumétrico das gotas, sendo um fator que deve ser considerado.

Outro fator importante da mistura de fungicidas é a lavagem desses produtos pela chuva. Um estudo realizado pela UNESP/Botucatu e a Fundação Mato Grosso concluiu que a associação do fungicida protetor "mancozeb" com "tryfloxystrobina", junto com a adição de óleo vegetal modificado, reduziu a perda da tryfloxystrobina causada pela lavagem da chuva.

 

Aplicação de fungicidas para o controle da ferrugem asiática da soja

A aplicação de fungicidas para a ferrugem ocorre em um momento em que a soja está bastante desenvolvida, com grande área foliar, dificultando muito a penetração dos fungicidas. A aplicação deve possuir boa penetração na cultura e boa cobertura da área foliar, de forma que o fungicida atinja os estratos inferiores da cultura. Cultivares de soja de crescimento indeterminado possuem um perfil de planta mais cônico, o que pode facilitar a penetração das gotas nas partes internas da cultura. Além disso, as folhas de soja se direcionam em direção ao sol (heliotropismo), e assim, o início da manhã e o final da tarde são os momentos em que as folhas estão com posição mais horizontal, dificultando a penetração das gotas de fungicida. Já em momentos próximos ao meio dia, as folhas apontam para o céu, favorecendo a deposição das gotas, sendo o horário entre as 10:00h e as 14:00h mais propício para a aplicação de fungicida para a ferrugem asiática da soja. Porém, não podemos nos esquecer das condições de temperatura, umidade e vento, que podem impedir as aplicações dos produtos.

Outros aspectos relevantes são:

  • Possibilidade de ajuste das taxas de aplicação: considerando a estatura e o índice de área foliar das plantas, pode-se utilizar volumes de calda crescentes em concordância com aqueles valores. Alguns estudos apontam que o uso de volumes de calda crescente (entre 70 e 150 L/ha) obtiveram resultados semelhantes ao de volumes fixos de 150 L/ha em todas as aplicações;
  • Reguladores de crescimento: alguns herbicidas podem promover a redução da estatura da planta e índice de área foliar, com aumento do número de nós produtivos no terço inferior e aumento da cobertura da pulverização no terço inferior da cultura, proporcionando um controle mais eficiente da ferrugem asiática e ganhos de produtividade. Porém, destacamos aqui a necessidade de buscarmos um uso cada vez mais consciente de defensivos agrícolas em geral. Muitas vezes as aplicações são feitas de forma preventiva, quando o conceito de Limiar de Dano Econômico (LDE) (apesar de mais exigente, tecnicamente) pode ser mais adequado considerando o manejo integrado de doenças.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação para Fungicidas. In: ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação Para Culturas Anuais. 2. ed. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte, 2019. p. 283-303.

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