O carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus (Canestrini, 1887) é um ectoparasita hematófago originário da Ásia, cujo principal hospedeiro é o bovino. É um dos grandes responsáveis pelas perdas econômicas que ocorrem na produção de ruminantes, em especial, na bovinocultura de corte e de leite.
Sabe-se que no Brasil, o B. microplus encontra condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento, o que potencializa a possibilidade de completar até cinco gerações por ano, aumentando ainda mais as infestações nas pastagens e a carga parasitária no hospedeiro , já que cada fêmea ingurgitada produz cerca de 3 mil ovos por oviposição.
Para quantificar a importância, sobretudo econômica das ectoparasitoses em bovinos, Grisi et al. (2002) estimou um prejuízo de aproximadamente R$ 5,70 bilhões de reais, em que o carrapato é responsável por grande fatia, somando valor médio de R$ 4,3 bilhões de reais. Este valor corresponde a quase 80% do prejuízo estimado em relação aos danos ocasionados pelos ectoparasitas
Outros estudos, mais recentes, demonstram que as perdas chegam a 2,5 milhões de cabeças de gado, o que representa 75 milhões de quilogramas de carne e 1,5 bilhões de litros de leite a menos na produção animal (Agronline, 2008). Estes cálculos não consideram os prejuízos relacionados às tentativas de controle, tais como: mão-de-obra, despesas com compras de equipamentos necessários para as pulverizações e banhos, assistência médica-veterinária, aquisição de antiparasitários, etc... nem a depreciação da qualidade da pele e do couro, diminuição da fertilidade dos animais, mortalidade e transmissão da Tristeza Parasitária Bovina (TPB), que, apesar de acometer os animais mais jovens também é responsável por perdas econômicas significativas.
Basicamente, se utilizam quatro alternativas no controle do carrapato: a utilização de produtos químicos, o consórcio de pastagens, aplicação de vacinas e a seleção de animais resistentes. Entre todas, a mais utilizada é o tratamento com os princípios químicos ativos, também conhecidos como carrapaticidas. Entretanto o uso indiscriminado associado ao manejo inadequado destes produtos têm determinado um percentual muito elevado de insucesso nos tratamentos adotados pelos produtores brasileiros, além de apresentarem custo muito elevado, o que diminui consideravelmente a rentabilidade do produtor.
Além destes problemas, a utilização de produtos químicos para combater os parasitas ainda acarreta sérios danos à saúde animal, ao meio ambiente e à saúde pública pela presença dos resíduos durante determinado período de tempo, conhecido pelos produtores como período de carência. Este período tem sido um entrave principalmente para os produtores de leite, que sem poder mandar o leite para o laticínio devido à presença de resíduos acabam amargando os prejuízos ocasionados pelo descarte, fato este que tem tirado muitos produtores da atividade leiteira.
Os carrapaticidas podem apresentar os mesmos princípios ativos dos inseticidas de uso geral, sendo diferentes na apresentação físico-química, para usos em banheiros de imersão, aspersão ou “pour-on”.
O uso indiscriminado de acaricidas no combate do carrapato bovino produz a diminuição da eficiência da droga e ao longo do tempo temos carrapatos cada vez mais resistentes e com o agravante de que estes transmitirão geneticamente esta resistência para as futuras gerações, o que torna ainda mais difícil controlar de forma efetiva o problema.
Em face aos problemas citados no combate do Boophylus microplus com acaricidas, e considerando-se os custos, o manejo excessivo e a presença de resíduos na carne e no leite, além da contaminação ambiental, os produtores têm buscado alternativas, sustentáveis ambientalmente e economicamente no controle do B.microplus.
A Homeopatia, terapêutica que consiste na prescrição de medicamentos de acordo com a lei dos semelhantes, que foi desenvolvida pelo médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann, tem sido amplamente utilizada como forma alternativa de tratamento.
Ela possui uma filosofia vitalista, baseada na teoria de que todo ser vivo possui energia vital que estando em equilíbrio é sinônimo de saúde e quando em desequilíbrio traduz por doenças. Propõe que a cura ocorre de dentro para fora através dos mecanismos naturais de defesa, estimulados pelo medicamento especialmente escolhido e preparado.
O medicamento é escolhido a partir do estudo da ação do mesmo quando administrado ao homem/animal sadio, sempre que os sintomas obtidos com esta experimentação produzem um quadro semelhante a determinada doença, é a chave para a indicação. Esta é a maneira de aplicar a Lei do Semelhante: - Similia Similibus curentur.
Existe a Homeopatia tradicional cujos praticantes indicam um único medicamento ao paciente - UNICISTAS e a Homeopatia que trata os indivíduos com mais de um medicamento, escolhidos para aquele caso clinico o COMPLEXISTAS.
Para tornar a Homeopatia aplicável nas grandes criações e sistemas de produção animal modernos, os homeopatas consideram o denominado “Genius Epidemicus”, partindo do princípio os indivíduos de um mesmo grupo, sofreriam ou padeceriam de patologias semelhantes, poderiam receber o mesmo tipo de tratamento poderiam ser considerados como único ser.
Esta prática reconhecida como “Homeopatia Populacional”, foi desenvolvida pelo Médico Veterinário Dr. Cláudio Martins Real em meados da década de 80 do século XX.
Para praticá-la consideram-se três premissas ou Fundamentos: o rebanho como um só organismo, onde as variáveis alimentação, manejo e genética são muito semelhantes, bem como o tipo de comportamento; deve-se observar que os rebanhos sob exploração moderna, estão submetidos a um estresse constante e desequilíbrios constantes do estado de saúde; a ação moduladora e bio-estimulatória dos produtos, atuando sobre indivíduos manejados de forma semelhante permanentemente estressados atua no sentido de restabelecer o equilíbrio orgânico dos animais (REAL, 1996).
A Homeopatia Populacional foca saúde dos animais e a produtividade.
É amplamente empregada nas propriedades rurais e via de regra, apresenta melhor relação custo-benefício, levando o produtor a manter seus animais mais saudáveis. Ocorre diminuição do manejo e dos gastos com medicamentos e mão-de-obra, além de agregar maior valor ao produto final, visto que são produtos homeopáticos, por seu modo peculiar de produção não deixam qualquer tipo de resíduo nos alimentos, acompanhando a nova tendência do mercado.
Estas características da Homeopatia Populacional encaixam-se perfeitamente nas colocações da FAO (2003), de que é preciso adotar estratégias de controle do carrapato, fazendo uso prudente e racional dos parasiticidas disponíveis, visando manter os níveis de infestações abaixo do seu limiar econômico e com um mínimo de impacto ambiental.
Estas características fazem da Homeopatia Populacional uma alternativa muito viável para aqueles produtores que desejam melhorar a relação custo-benefício e ainda agregar maior valor ao produto final, além de atender à demanda atual pelos produtos naturais e se manter competitivo no mercado. Os animais e o consumidor agradecem!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGRONLINE. Goiás lança campanha de controle de carrapato bovino. Disponível em http://www.agronline.com.br/agronoticias/noticia.php?id=1632. Acesso em 12/11/2008.
FAO. Resistencia a los antiparasitarios: Estado actual com énfasis en América Latina. Roma, 2003. 52 p. (Producción y Sanidad Animal).
GRISI, L.; MASSARD, C. L.; BORJA, G. E. M.; PEREIRA, J. B. Impacto econômico das principais ectoparasitoses em bovinos no Brasil. A Hora Veterinária, v. 21, n.125, p. 8-10, 2002.
REAL, C.M. Anais do XV Panvet. Lei dos Semelhantes. Campo Grande. 1996
