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As principais parasitoses que acometem bovinos leiteiros no meio-norte do Brasil. Parte 4 - As verminoses


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

as endoparasitoses, como o próprio nome já diz, são provocadas por parasitas que vivem no interior do animal. da mesma forma que as ectoparasitoses, detalhadas em as principais parasitoses que acometem bovinos leiteiros no brasil, partes 2 e 3, anteriormente publicadas neste mesmo site, causam redução da produtividade do rebanho.

a verminose é uma doença parasitária causada por vermes que vivem no trato gastrintestinal ou nos pulmões dos bovinos. no brasil, apesar da inexistência de estimativas oficiais, acredita-se que as perdas em produtividade sejam elevadas, considerando-se que o clima da maioria das regiões brasileiras é favorável ao desenvolvimento de verminose. além disso, dentre todos os grupos de medicamentos veterinários comercializados no brasil, os vermífugos estão em primeiro lugar em quantidade e valor da produção comercializada. é importante notar que ao custo com vermífugo agregam-se a mão-de-obra para a aplicação do produto e as perdas eventuais, principalmente de bezerros, ocasionadas pela inadequação dos métodos de controle.

embora nem todos os animais do rebanho manifestem sintomas graves, há perda potencial de conversão de ganho de peso e produção de leite, principalmente por ser uma doença de evolução crônica. em geral os sintomas variam de acordo com a espécie de verme predominante, a idade do animal hospedeiro e seu estado nutricional. os principais sintomas são perda de apetite, diarréia, perda de peso, pelos secos e arrepiados, edema submandibular e mucosas anêmicas. quando há presença de vermes pulmonares ocorre ainda tosse, respiração acelerada e difícil.

os vermes dos bovinos têm um ciclo de vida bem simples. no interior do trato gastrintestinal ou nos pulmões vivem os vermes adultos, machos e fêmeas, que se acasalam. as fêmeas produzem centenas de ovos que são eliminados junto com as fezes do bovino. nas fezes os ovos se desenvolvem e em cinco a sete dias as larvas infectantes já estão disponíveis na superfície das folhas. quando o bovino se alimenta, ingere junto com a pastagem as larvas infectantes que se desenvolvem até o verme adulto no interior do trato gastrintestinal ou nos pulmões, dando continuidade ao ciclo.

o haemonchus sp. é um exemplo de verme gastrintestinal. quando adulto mede apenas 2 cm e tem aparência de uma linha, mas suga aproximadamente 0,5 ml de sangue por dia. infecções de 2 a 10.000 destes vermes são comuns, provocando anemias agudas comparáveis àquelas causadas por hemorragias graves.

o dictiocaulus viviparus é um exemplo de verme pulmonar. quando adulto habita os pulmões, enquanto que suas larvas vivem no intestino causando intensa diarréia e desidratação; a morte do animal é devida à enterite e não ao comprometimento pulmonar.

as larvas dos vermes têm um comportamento interessante e que favorece a infestação dos bovinos: quando saem dos ovos eliminados junto com as fezes as larvas procuram, nos períodos mais frescos do dia, subir nas folhas do capim e ficam esperando o gado que, coincidentemente, prefere pastar exatamente nestes momentos. nas horas mais quentes do dia, quando os bovinos evitam pastar e procuram as sombras, as larvas voltam à terra, ficando abrigadas da luz e do calor elevado.

o controle da verminose pode ser curativo ou preventivo. o controle curativo deve ser utilizado apenas quando existem animais com sintomas clínicos evidentes e o tratamento deve ser realizado em todo o rebanho e não apenas no animal doente. o controle preventivo se baseia no conhecimento da variação da quantidade de larvas na pastagem e sua eficiência depende do manejo adotado e das épocas pré-determinadas para vermifugação.

girão e colaboradores (1999) recomendam para animais em crescimento (até 24 meses de idade), cinco vermifugações por ano, sendo três na época seca (julho, setembro e novembro) e duas na época chuvosa (fevereiro e abril). para animais adultos, incluindo as vacas em lactação, são recomendadas duas vermifugações por ano: uma no período seco (julho) e outra antes do período chuvoso (novembro), para diminuir a infestação de larvas no pasto e como medida preventiva para os bezerros. observa-se então que este controle preventivo utiliza uma estratégia básica: a eliminação dos vermes presentes nos animais durante a época seca para diminuir a contaminação das pastagens por larvas na época chuvosa.

como os ovos e larvas estão presentes em grande quantidade nas fezes dos bovinos, torna-se claro a importância da utilização de esterqueiras como um manejo simples e auxiliar no controle das verminoses. outras medidas de controle são:

- evitar plantas invasoras nas pastagens, pois estas, além de ocupar o lugar do capim, oferecem boas condições de abrigo às larvas dos vermes (além dos carrapatos);

- a adubação de capineiras para corte com fezes de bovinos deve ser considerada um fator de risco ao aparecimento de surtos de verminose em animais confinados;

- para evitar que os animais sejam vermifugados com doses inadequadas é recomendado que o rebanho seja dividido em grupos de animais de pesos semelhantes, utilizando-se a dose ideal para o peso médio do lote.

os principais produtos químicos no combate às verminoses em bovinos são benzimidazóis, pró-benzimidazóis, tetrahiimidinas, avermectinas e milbemicinas. estes produtos podem ser aplicados por diferentes vias, devendo ser observadas as recomendações do fabricante do produto.

o princípio ativo escolhido para controle preventivo da verminose deve ser trocado uma vez por ano, para retardar o aparecimento da resistência. a toxicidade do produto e o estado fisiológico e nutricional dos animais são aspectos que devem ser considerados na vermifugação. as recomendações do fabricante, quanto ao período de carência para o consumo de leite e carne, devem ser seguidas rigorosamente.

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