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Bate-papo na porteira da fazenda


Prof. João Mariano

Os pião Dico e Juvená trocando prosa com u patrão Juca antis  du  armoço... 

O cerrado era improdutivo, a terra fraca, sem estradas, faltando tecnologia, era um grande risco se aventurar na região....mas foi para lá que Dico e Juvenal resolveram ir, para começar nova vida, ainda na década de 50... E deram sorte, encontrando no patrão Juca, mais um amigo, dos bons....

 - Ocê sabi Dico, quí nóis já si conheci há uns 30 ano !

 - Uai, Juvená, dá tudo isso ! inté paréci que foi onti que nóis si conheceu lá na vila Cruzeiro!..

 - Pois é,  Dico,  dispois de nóis si conhecê, nóis trabalhemo junto lá no sítio do veío Cascadura !

 - Êta farta de respeito Juvená  ! fala o nomi do finadu dereito, não foi tão mar prá nóis ansin....

 - Tá bão,Dico,  tá bão, o finado Zéca, que Deus o tenha em lugar bão....e dexá lá mêmo...

 - Ô homi, ocê não perdôa mêmo, mas Deus perdôa !

 - Eh, tô vendu qui patrão ruim fica mar falado proceis a vida intera ! (comentou Juca, o novo patrão)

 - Nada disso, inté que o Juvená tá certu, o finado Zéca era chegado a uma marvadeza...

 - Disso eu não tô sabendu, oceis podi mi contá argo...

 - Sem fazê fofoca, nóis vai contá, aquela veiz da galinhada na casa do Tião Lapiá... (comentou Dico)

 - Ocê nem magina, que eli feiz uma galinhada, chamou a vila intera  e roubo elas lá do sítio do Tião à noite...eli convidô o dono das galinha prá comê suas própria galinha robada....(comentou Juvenal).

- Oceis tá brincando, o Tião comeu galinhada com galinha robada dele memu ?

- Pois é, o Tião só adescobriu no otro dia, quandu a muié, Zefinha, avisou que fartava 6 galinha...

- O Gente, esse Finado Zéca era da pá virada mêmo ! O que mais eli aprontô ? (perguntou Juca, o novo patrão)

- Tem mais arti, eli era pinta brava ! Teve uma vez na festa junina, achu que São Juão....que.....(começou a falarDico)

- Conta não, Dico, que foi uma marvadeza das grandi (comentou Juvenal)...

- Bão, ía ter festa junina no sítio e tinha uns mulequi que robava melancia na roça do finado Zéca....eli montou um pau de sebu e convidô os molequi a subi e ganhá uma prenda....lá em cima, ele colocô um monti de cola e quandu os molequi subiu, o carção ficô colado na madeira....deu uma confusão, o meninu desceu peladu...a muierada quasi tevi um chiliqui de tanto rí....ele  disse que não sabia de nada, que foi arguém que apronto....o fatu é que os dois molequi nunca mais robaro melancia deli....

- Mas agora eu queru saber doceis o que acham do véio Juca, como patrão ?

- Ocê num é patrão não, é amigo dos bão, tá sempri ajudandu nóis, num é Juvená, falou Dico !

- É, endossu o que o Dico falô, patrão dos mió que nóis tevi na vida, que leva nóis na farmácia da vila se precisá, que pagá certim, nóis deu sorti de achá essa vida tão boa...inté já ajudô nóis a comprá umas vaquinha prá começá a vida si argun de nóis casá...

- Vai ser dificê, somo  burro véio dimais prá casa !(comentou Dico)....

- Ocê num fala isso, burro véio gosta di capim novu.....tô inté de oio na Carlinha,  fia da Cumadi Antonhia....

- Agora que ocê falô, inté achu que ela tomém gosta docê.....ocê viu, seo Juca, nóis vai ter casamentu logu...

- Juverá ia rebater, mas nesse momento, a sua patroa Zefinha, tinha gritado....."O gente, vem cumê, senão fica friu".....

- Ufa, ainda bem, comentou Juca, qui mi considera um bão patrão ! Obrigado !  e oceis podi contá comigu qui vô ajudá quem casá a fazê  a casinha. Viu Juvená, ocê e a Carlinha podi começá com um telhadu novu prá morá !... ...(comentou Juca)

- Brigadu, patrão, se eu desencalhá com a Carlinha, nóis vai ficá feliz com uma casinha...

E a conversa foi encerrada, com eles andando em direção à casa sede, onde o almoço era serviço numa cozinha ampla com vista para o riacho e muita fartura na mesa...

Na vida real do campo, existem conversas como essa que fizeram parte da estória dos nossos ancestrais que começaram suas vidas nos sítios ou fazendas, onde os terços e novenas eram comuns entre as famílias com maior fervor religioso.   Muitas famílias italianas, que migraram para o Brasil e foram tocar roça, fazer parte dessas estórias e lendas.

As brincadeiras mais tradicionais, como passar o anel, eram praticadas com prazer e como oportunidade para os novos namorados terem uma oportunidade de ficar a sós atrás da casa....

Na colheita do algodão, quem tinha trator, pegava uma carreta e ía buscar gente na vila, pagando por dia e arroba, sem opção de escolher sexo, idade.  As famílias todas trabalhavam para buscar o seu sustento.  E como eram numerosas, porque raramente alguém tinha menos que 6 filhos, a mão-de-obra disponível para tocar as roças, sítios e fazendas, era farta, porque se agregavam cunhados, noras, genros, primos e quando não era suficiente, contratavam-se peões externos, que vinham morar no local.

Outro fato interessante é que não havia mêdo e as pessoas forneciam pouso aos viajantes, independente da hora que chegavam e aí até nasciam novas amizades.

Em outras colheitas, o processo era o mesmo, mas a mão de obra era mais adulta, seja na colheita do café, do feijão e arroz, milho.

Quando alguém namorava, pedia permissão aos pais, às vezes representado pelos próprios pais, que visitavam os outros....meu fio quer namorá com a Rosinha, sua fia.....e depois com a sogra vigiando, ficavam sentados na sala, cada um numa cadeira, se olhando....a sogra no meio........

Os batizados eram concorridos e alegres e os casais mais acessíveis s simpáticos se tornavam cumpadres de dezenas de outros, com afilhados espalhados por extensas regiões.  Era hábito natural, o afilhado pedir "bença" aos padrinhos nas visitas dos mesmos. Um respeito que se arrastava pelo anos, pela vida adulta.

Bons tempos gente ! bons tempos....

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