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A especulação nas matérias-primas



Argemiro Luís Brum
A especulação sempre foi um elemento presente no mercado internacional de matérias-primas e nas Bolsas em geral. A mesma, inclusive, é vista como benéfica na medida em que aporta liquidez às negociações diárias. Existe mesmo uma distinção entre especulador e manipulador de mercado, sendo que o segundo, em busca do lucro fácil, é nocivo ao mercado porque manipula as informações em benefício próprio. Pelo sim ou pelo não, o fato é que, nos últimos anos, o mercado mundial de matérias-primas se vê às voltas com uma forte presença de especuladores procedentes do mundo financeiro, muitos deles nunca tendo visto os produtos que negociam. Essa situação está trazendo uma enorme volatilidade ao mercado destes produtos, com altas acentuadas sem razão objetiva que justifique tamanho aumento nos seus preços.

Uma das funções principal de um trader, que nem sempre é um especulador, é levar a mercadoria física, real e tangível, do país produtor ao país consumidor, fretando o meio de transporte necessário para tal (geralmente navio) e/ou alugando armazéns para estocagem. Hoje, existem quatro categorias de operadores nesse mercado: a) os grupos presentes em todos os setores do mercado, tipo Glencore e Trafigura; b) as companhias especializadas em uma matéria-prima (Vitol e Mercuria na energia, por exemplo); c) as empresas especializadas geograficamente no comércio de petróleo ou nas linhas de produtos específicos como as matérias-primas (Cargill, Louis- Dreyfus...), além de multinacionais do petróleo.

A especulação nas matérias-primas (II)

A quarta categoria é formada por um pequeno grupo de bancos que fazem, igualmente, o trading com produto físico (Goldman Sachs, Morgan Stanley....). Geralmente, quem trabalha com o produto físico, realiza em Bolsa operações de hedge (proteção de preço). Mas um número crescente realiza operações de pura especulação. Os bancos e os fundos especulativos, visando diversificar seus portfólios, nos últimos anos se lançaram a especular nas bolsas de matérias-primas, inclusive Chicago. Muitas das transações efetuadas estão longe de serem transparentes, além de serem feitas por entidades privadas que conseguem escapar dos analistas. Assim, estamos diante de um mercado que não leva mais em conta, de forma central, a oferta e demanda do produto, ou seja, o mercado real. A situação é tão grave nesse momento que o próprio G20, sob a presidência da França, colocou como prioridade “disciplinar a especulação, que joga com os preços das commodities alimentícias de forma irracional e brutal”.

Afinal, as matérias-primas se tornaram uma nova classe de ativos, ao lado das ações, dos títulos públicos, das divisas e do setor imobiliário. Diante disso, os mercados estão desequilibrados e duas convicções parecem ganhar terreno: 1) o protecionismo comercial favorece a especulação ao reduzir a oferta; 2) a terra agricultável se torna cada vez mais rara, fato que estaria levando a uma elevação inevitável dos preços mundiais das matérias-primas. Diante de tamanha especulação, uma evidência: assim como sobem, os preços podem rapidamente cair! (cf. Le Monde)
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