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Agricultura Familiar


Richard Jakubaszko
Equívocos centenários são cometidos tanto pela "esquerda" como pela "direita", no Brasil especialmente, na luta pela hegemonia política do poder. Como no amor, declamam os céticos, e na política, não há jogo limpo, vale qualquer estratégia.
A agricultura familiar nunca foi "alternativa" ao agronegócio, porque ela é o próprio agronegócio, constituído por mais de 150 mil produtores rurais no Brasil, que tocam seu negócio, a fazenda de lavoura ou de criação, com a família e meia dúzia de empregados, se tanto. No Brasil confunde-se o "agronegócio", de forma pejorativa, aos chamados produtores gigantes que são menos de 2 mil produtores rurais de grande porte (em áreas superiores a 5 mil hectares e de até acima de 100 mil hectares), nos quais se incluem cerca de 500 usinas de cana-de-açúcar.
Esses gigantes do agronegócio são conhecidos de todos, estão na mídia, como empreendedores, na política, são empresários, industriais, grupos financeiros, banqueiros, profissionais liberais, até mesmo figuras conhecidas do meio televisivo, e não representam, por suas posturas políticas e comerciais, o agronegócio como um todo.
No documentário abaixo, dirigido por Silvio Tendler, afirma-se, mais uma vez, que o Brasil contabiliza 4.367.902 estabelecimentos rurais. São dados do IBGE. Mas são um viés da pesquisa... O IBGE contabiliza como se fosse propriedade rural, em cálculos e projeções de minha autoria, cerca de 3,5 milhões de sítios e chácaras de lazer de fim de semana. São pedaços de terras improdutivas, de todos os tamanhos, mas estão registrados como propriedade rural para pagar ITR (Imposto Territorial Rural), muito mais barato do que IPTU. Somente algumas poucas e aprazíveis cidades (Ibiúna, São Roque, em SP, por exemplo), e próximas a grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, conseguem desqualificar os sítios de lazer na área rural e enquadrá-los como urbanos, quando urbanizam as áreas do entorno como estradas vicinais, água/esgoto, luz elétrica, telefonia, coleta de lixo etc. Apenas um desses serviços acaba por levar o sítio para a condição de imóvel urbano, e ao IPTU.
As esquerdas, à frente o MST - Movimento dos Sem Terra, e agora a Contag, Confederação dos Trabalhadores da Agricultura, uma das patrocinadoras do documentário abaixo, atribui crendices populares e pintam um ar de "santidade" aos "agricultores familiares", e mostram apenas o pequeno produtor, de menos de 4 ou 5 hectares, por vezes com meio hectare, e o defendem pelo não uso de agrotóxicos, ou por não empregar sementes transgênicas, e que, talvez  justamente por causa disso não conseguem produzir excedentes para vender fora da porteira da fazenda.
Esses micro-produtores têm hoje políticas públicas aprovadas e em execução pelo Governo Federal, para dar apoio a eles, em termos de crédito agropecuário, mas falta-lhes ainda o maior apoio, o da assistência técnica do sistema Emater, desconstruído no governo Collor. Sem saber como melhorar a produção, através do aumento da produtividade, porque não usam tecnologias apropriadas, quebram em duas safras frustradas, ou, pior, quando os preços caem justamente porque houve uma supersafra, fator que é bom aos urbanos, mas ruim aos produtores, em especial os pequenos, que não têm como se defender do inimigo "mercado", aspecto que é mais perverso aos produtores do que as próprias pragas e doenças que atacam as lavouras e criações.
Vídeos como o que exibo abaixo, distorcem a realidade, apesar de bem intencionados, mesmo apresentando alguns exemplos bem sucedidos de trabalhadores rurais (que nunca foram produtores rurais). Distorcem, porque mostram uma visão urbana dos problemas, e politizam uma questão social que há décadas deixou de ser discutida nos países desenvolvidos, como a reforma agrária. A luta pela reforma agrária, evidentemente, não é fácil, mas poderia ter outros encaminhamentos políticos, muito mais inteligentes.
Em minha opinião, conforme destaquei em vários capítulos no livro Marketing da Terra (ver capa e sinopse na aba lateral direita deste blog), o produtor rural, grande ou pequeno, ou mesmo de agricultura familiar, não faz o preço daquilo que produz, quem faz esse preço é o consumidor, e a praga dos intermediários. O agronegócio (pequenos, médios, e grandes) minimiza o problema filiando-se às cooperativas, e é competente dentro da porteira, mas não participa de entidades associativas, que poderiam agregar valor à atividade.
Em outro livro de minha autoria, "Meu filho, um dia tudo isso será teu", registro que a grande maioria dos jovens filhos de produtores rurais querem a herança e a terra, mas não pretendem trabalhar com a terra, por falta de vocação, aptidão e amor, ou afinidade, digamos assim, com as lides rurais.
Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=tgJ6qwp9eHc

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