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As dimensões da eqüinocultura no Brasil


Roberto Arruda de Souza Lima

Desde o desembarque dos primeiros cavalos no Brasil Colonial, os eqüinos ocuparam posição importante na economia brasileira. No início, mais pelo valor estratégico do que pelo seu valor monetário. As rotas de transporte da tropa (juntamente com o rebanho bovino), ligando as diversas regiões, permitiram que um país com dimensões continentais fosse e permanecesse integrado. A sustentação do poder português nas colônias na África foi possível parcialmente pelas exportações de cavalos do Brasil. Por força de Carta Régia, todas embarcações que partiam do Brasil com destino à Angola deveriam levar ao menos dois cavalos.

O tempo foi passando e os cavalos passaram a assumir, também, importância na movimentação financeira. Hoje, de acordo com levantamento realizado pela ESALQ/CNA/MAPA no Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo (disponível em http://cepea.esalq.usp.br/cavalo/) as atividades relacionadas ao cavalo movimentam cerca de R$ 7,5 bilhões, ocupando mais e 600 mil pessoas. Estes números significativos mostram que a eqüinocultura merece um tratamento diferenciado daquele que vem recebendo no Brasil.

Ao analisar o ciclo do açúcar no Brasil, Gilberto Freire já diagnosticava uma discriminação que, infelizmente, ainda é muito presente nos dias atuais: a caracterização do cavalo associado ao senhor de engenho, a serviço da elite. Os números do complexo do cavalo mostram que não há motivos para persistir esta imagem. O principal segmento, tanto em termos de movimentação financeira quanto em pessoas ocupadas (R$ 4 bilhões e 505 mil, respectivamente) é a lida, a utilização do cavalo para viabilizar outras atividades, como a pecuária bovina.

A distância da equivocada imagem de animal de elite fica evidente ao analisarmos os diversos segmentos do agronegócio cavalo no Brasil. As selarias, por exemplo, ocupam 12.000 pessoas em pequenas e médias empresas. A eqüoterapia, onde o Brasil ocupa posição de destaque, atende as mais diversas classes sociais e viabiliza emprego de profissionais de diferentes categorias.

O universo do cavalo é muito maior que muitos imaginam. Aos poucos tomamos conhecimento que o Brasil é um dos principais exportadores de carne de cavalo; a vaquejada é um fenômeno que movimenta (desconsiderando atividades não ligadas ao cavalo, como os shows musicais) quase R$ 200 milhões por ano; o crescimento do turismo eqüestre; e tantas outras boas notícias.

Mas ainda há muitos pontos críticos a serem superados. Necessitamos de uma defesa animal mais atuante e com mais recursos orçamentários. Linhas de crédito acessíveis para outras atividades agropecuárias também devem estar disponíveis para eqüinocultura. As exportações precisam ser mais ágeis e desoneradas. Estes e alguns outros pontos fracos serão tema dos artigos futuros nesta coluna, assim como os diversos pontos positivos de nossa eqüinocultura. 

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