O Ibovespa atingiu nesta quinta-feira (6) um novo recorde histórico, superando os 154 mil pontos pela primeira vez. A alta de 0,47% registrada no início do pregão levou o índice a 154.016 pontos, no nono pregão consecutivo de valorização. Com isso, o principal indicador da Bolsa brasileira acumula uma valorização superior a 25% no ano.
Apesar do desempenho expressivo, o movimento não reflete uma melhora estrutural da economia brasileira. O avanço do mercado acionário tem sido impulsionado principalmente por fatores externos, como o enfraquecimento do dólar no cenário internacional, e pelo diferencial de juros, que torna os ativos brasileiros mais atraentes a investidores estrangeiros. O ambiente de maior liquidez e a expectativa de estabilidade monetária nos Estados Unidos também contribuem para o fluxo de recursos para países emergentes.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 15% ao ano, anunciada na véspera, já era amplamente esperada e serviu para reforçar o cenário de estabilidade. Esta foi a terceira reunião consecutiva sem alteração na taxa básica de juros. No comunicado, o Banco Central voltou a destacar os riscos associados ao cenário internacional e às condições fiscais internas, indicando que não há espaço para afrouxamento monetário no curto prazo.
O dólar comercial, por sua vez, recuou 0,39%, sendo cotado a R$ 5,3398. A moeda americana acumula uma queda de mais de 13% em 2025, reflexo da entrada de capital estrangeiro e da diminuição da percepção de risco global no curto prazo. O real tem sido uma das moedas emergentes mais beneficiadas por esse movimento.
Internamente, no entanto, os sinais da economia seguem mistos. Indicadores recentes apontam desaceleração na atividade industrial, perda de fôlego no comércio e crescimento tímido do investimento privado. Embora o mercado de trabalho permaneça resiliente, o consumo das famílias ainda sofre com o crédito caro e o alto endividamento. A inflação, por sua vez, recuou, mas permanece pressionada por fatores sazonais e por incertezas no ambiente internacional.
A recente aprovação no Senado da nova faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil também gerou reações no mercado. A medida tem efeito potencial sobre o consumo de curto prazo, mas levanta dúvidas sobre sua neutralidade fiscal e a sustentabilidade das contas públicas em um contexto de crescimento baixo.
Ao mesmo tempo, a temporada de balanços corporativos continua movimentando o mercado. Companhias como Petrobras, Suzano, Magazine Luiza, Renner, Assaí e outras empresas de grande porte divulgam nesta semana seus resultados do terceiro trimestre. Parte da valorização recente da Bolsa reflete a expectativa por números estáveis ou acima do esperado, ainda que o crescimento projetado para a economia permaneça modesto.
No cenário externo, os mercados seguem atentos às falas de dirigentes do Federal Reserve, que podem sinalizar os próximos passos da política monetária norte-americana. Uma mudança de tom mais contracionista por parte do Fed pode alterar a direção dos fluxos internacionais e afetar diretamente o desempenho dos ativos no Brasil.
Embora o rali da Bolsa brasileira impressione, há uma percepção generalizada de que a valorização está descolada dos fundamentos econômicos internos. A continuidade dessa trajetória dependerá, em grande parte, do ambiente externo e da capacidade do país de manter alguma previsibilidade fiscal e monetária em meio a um quadro ainda frágil de crescimento.