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O DIA QUE O TIO ZEZÉ MORREU


Paulo Lot Calixto Lemos

Nosso amigo de longa data, Luis Conzaga Parreira de Andrade, vulgo Parreirinha, sempre foi uma pessoa muito “original”. Prosa boa, amigo de seus amigos, extremamente inteligente, irreverente e divertido.

Parreirinha é muito conhecido em Passos, é filho de uma das famílias mais tradicionais da cidade, tanto pelo lado paterno (Parreira Andrade) como materno (Vieira Brandão). Sua origem e sua personalidade irrequieta sempre lhe rendeu “causos” dos mais engraçados, especialmente quando acompanhados de uma cervejinha gelada.

Desde nosso tempo de juventude, nos antigos carnavais, nos quais nossa turma fazia enorme sucesso, com vários blocos de rua, como o original “Bumba meu Boi”, o rico “Os Mosqueteiros do Rei” ou o relaxado “Os Retireiros”, que Parreirinha era peça fundamental...Foram inúmeras, as passagens hilárias protagonizadas pelo próprio.

Teve uma época, ainda nos anos 80, que Parreirinha entestou de pegar seu tio José Brandão “pra Cristo”. Era só beber “umas e outras” que botava a cuca pra funcionar, e daí a surgir alguma trama “maquiavélica” que incomodasse o tio, era apenas uma questão de minutos.

José Brandão – o “Ti Zezé” – pessoa muito estimada, cujos filhos Raul e Francisco Brandão, sempre foram nossos grandes amigos, é dono do tradicional Grande Hotel da praça da matriz. Ti Zezé é um típico mineiro acomodado, “econômico” ao extremo, alma boa e um tanto “ingênuo”. Possui também um sitio, e mais importante, um galinheiro neste sitio que é uma beleza! Fonte inesgotável para as nossas incontáveis “galinhadas”. Muitas delas com convite especial destinado ao próprio Ti Zezé, que nem sonhava com qual poderia ser a origem daquele gostoso franguinho caipira que deliciava.

Certa vez, na também famosa e tradicional lanchonete “Ele & Ela” – o bar da Elaine – que fica ao lado do Grande Hotel, estávamos tomando “todas”, com Parreirinha a mil por hora exibindo uma copia perfeita de uma pistola 765, tão perfeita que até espoleta com barulho idêntico a um tiro de verdade ela possuía... Quando ele chamou nossa “prima” Elaine até a mesa e pediu:

- Elaine faça um favor pra nois, vai ali no hotel do Ti Zé e fala pr’ele que eu tô dando um trabaião danado aqui. Que eu tô caindo de bêbado, violento e ainda por cima armado! Fala pr’ele que se ele não vier dar jeito, que ocê vai chamar a policia e a coisa vai ficar pior, porque depois, quem é que vai pagar pra me tirar da cadeia?

Como sempre, Elaine não se fez de rogada, afinal ela também gosta do mal feito que só! E “marchou” pro hotel...

- Ôh Zé Brandão! Cê vai ter que ir lá em baixo dar um jeito no Parreirinha, teu sobrinho tá tonto que nem gambá, armado, falando que vai quebrar tudo! Cê vai lá agora, ou eu chamo a policia! Ai ocê sabe, a coisa pode ficar cara...

- O que isso Elaine! O Gonzaguinha! Armado?!

- É isso ai! Vamos lá ou prepare os “cobre”.

Diante daquela argumentação eminentemente “monetária”, Zé Brandão cedeu... Desceu, e ressabiado, com as mãos cruzadas pra trás, falou apontando só a cabeça na porta do bar:

- Luis Gonzaga, Gonzaguinha! O que ocê tá arrumando ai meu filho?

- Ôoh Ti Zezé! O que o senhor veio “cheirar” aqui? – grunhiu lá de dentro o Parreira.

- Gonzaguinha vamos embora, tá na hora! Olha a responsabilidade, ocê já bebeu muito! – falou assim e foi entrando bar adentro...

- Que embora da onde Ti Zezé! Cê não vem me encher o saco não! Num me amola não que eu tô armado até os dente, e eu te mato! – retrucou Parreira se fazendo de mais tonto ainda, com o beiço caído e os “zoião vermeio” encarando o Zé Brandão.

- Cê tá maluco menino!? Vamos embora que a Elaine vai chamar a policia! – e continuou andando em direção ao Parreira...

- Eu te avisei Ti Zé, num chega não!! – disse isso já sacando a pistola e apontando pro peito do Zé Brandão...

- Cê tá ficando doido Parreira! Vira isso pra lá! – gritou assustado o Ti Zezé.

Sem mais delongas, a resposta veio em seguida, na forma de dois estrondosos estampidos... Bum! Bum! No mesmo segundo Ti Zezé estatelou também estrondosamente de costas no chão, iqual a um mamão maduro... E, com a mão no peito, desfalecido, branco como uma cera, ainda murmurou:

- Chamem o médico que eu morri!

E morto ficou, pelo menos pelos próximos 15 minutos...

Paulo Lot Calixto lemos

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