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Sobrevivência de pragas em cultivos de inverno


Dionisio Link

A importância da produção de massa verde no inverno é sobejamente conhecida pelos agricultores que realizam a semeadura direta sobre a palha (SPD) na primavera e verão.

            A cobertura do solo, após as colheitas das culturas de verão, com plantas cultivadas ou silvestres, é da maior magnitude para uma boa conservação do solo. Solo desnudo significa: pó durante o período seco, erosão quando ocorrem altas precipitações, perda de nutrientes por lixiviação, indicando a necessidade de uma cobertura vegetal.

            A vegetação que se desenvolve nesta época do ano, seja ela silvestre ou cultivada, pode abrigar, manter e até aumentar a população de pragas de cultivos subseqüentes.

            Uma área coberta por aveia ou azevém pode multiplicar a população das lagartas do trigo e, se não for controlada na dessecação, o cultivo subseqüente implantado na área, seja, milho, girassol, soja ou feijão, pode ser totalmente dizimado, na emergência. Densidade 30 a 40 lagartas, seja as do trigo, Pseudaletia spp., ou da lagarta militar, Spodoptera frugiperda, causa baixo nível de desfolhamento nestas gramíneas e quando dessecadas, as lagartas atacam qualquer planta que nasça na área, seja cultivada ou silvestre.

            Na situação da semeadura ser realizada antes de 20 dias após a dessecação, a inclusão de um inseticida pode prevenir problemas futuros, como ter que ressemear a área não tratada. Em algumas regiões do sul do Brasil e mesmo do Centro-Oeste, a população de lagartas nas gramíneas forrageiras de inverno é bastante alta e o conhecimento desta situação pode prevenir prejuízos futuros, desde que sejam tomadas as decisões adequadas a cada caso.

            Em áreas de pousio com desenvolvimento de plantas indesejáveis como, roseta, picão branco, pé de galinha, língua de vaca e erva de bicho, a mariposa de Agrotis ipsilon pode ovipositar e ali se desenvolve a lagarta rosca, cujo ciclo larvário, no inverno, pode durar de 30 a 70 dias, na dependência da temperatura. Qualquer cultivo, suscetível a esta praga, hortaliças, por exemplo, podem sofrer grandes danos.

            Em lavouras com cultivo de canola ou de nabo forrageiro, além dos insetos associados às brassicáceas (crucíferas), como pulgão da couve, traça das crucíferas e lagartas da couve, a proliferação dos percevejos: verde , Nezara viridula, verde pequeno, Piezodorus guildinii  e marrom, Euschistus heros é freqüente, chegando em algumas situações a enxames de adultos e ninfas, na época da dessecação ou da colheita. Estas pragas migram para os cultivos adjacentes e ali podem tornar-se daninhos.

            O cultivo de leguminosas forrageiras de inverno, tais como, trevos, alfafa, meliloto e cornichão, favorece o surgimento de altas populações de lagartas mede palmo, gêneros: Rachiplusia, Pseudoplusia, Autoplusia e outros (Lepidoptera: Noctuidae) e de percevejos que abandonarão as plantas próximo ao final do ciclo ou durante a colheita de sementes, migrando para as lavouras vizinhas, até 7km, conforme verificação realizada em 1995, no município de Erechim.

            O cultivo consorciado de azevém ou aveia com ervilhaca, além de favorecer a multiplicação das lagartas de gramíneas, permite o surgimento de populações expressivas da lagarta rosca, Agrotis ipsilon e dos percevejos barriga verde, Dichelops furcatus e D. melacanthus. Este percevejo está se tornando praga importante, na fase inicial da cultura do milho em SPD, após dessecação, quando, ao atacar as plântulas, injeta uma toxina que causa enfezamento e perfilhamento do milho, estas plantas não se desenvolvem normalmente e não produzem.

            As crotalárias, utilizadas para adubação verde, favorecem a multiplicação dos percevejos, verde e verde pequeno.

            O tremoço é uma planta que favorece o desenvolvimento de elevadas populações da broca das axilas, Epinotia aporema, pois embora com elevada densidade de lagartas desta praga é tolerante ao dano da mesma, reduzindo muito pouco seu desenvolvimento. As culturas leguminosas adjacentes e as subseqüentes é que sofrerão as conseqüências.

            Normalmente as populações de percevejos que se desenvolvem nos cultivos de inverno, causam nestes, prejuízos de pequena monta, não justificando a adoção de medidas de controle nestas culturas.

            Quanto maior for a sobrevivência destas pragas, no período desfavorável (inverno), maiores serão as probabilidades de prejuízos nas culturas subseqüentes (primavera-verão).

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