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Desempenho reprodutivo de vacas Nelore criadas no Norte e Nordeste do Brasil: idade ao primeiro parto


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

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Parnaíba, 13 de dezembro de 2007. A raça Nelore, dentre as raças zebuínas, é a preferida dos criadores das regiões Norte e Nordeste do Brasil. No entanto, informações sobre o desempenho reprodutivo desta raça nestas regiões são escassas. Com intuito de amenizar este problema e também visando fornecer subsídios à execução de programas de seleção para, conseqüentemente, incrementar a eficiência reprodutiva dos citados rebanhos, foi realizada uma pesquisa que culminou em uma tese de doutorado, com o objetivo de estimar os valores médios das características reprodutivas de fêmeas Nelore em rebanhos do Norte e Nordeste do Brasil.

Foram analisados dados de fêmeas da raça Nelore, criadas em rebanhos localizados nos estados da Bahia, Maranhão, Tocantins e Pará. Os rebanhos avaliados tinham sido incluídos recentemente no Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN).  Os animais eram criados a pasto, touros e vacas em conjunto, com proporção touro:vaca variando de acordo com a propriedade. Os rebanhos não utilizavam estação de monta.

As características estudadas foram idade ao primeiro parto (IPP), período de gestação (PG), intervalo de partos (IDP), período de serviço (PS) e número de serviços por concepção (NSC).

A idade média ao primeiro parto (45,14 meses) estimada condiz com a realidade dos rebanhos explorados em regiões tropicais onde a alimentação é basicamente a pasto. O valor obtido foi superior a todos aqueles encontrados nos trabalhos realizados no Brasil pesquisados na literatura, inclusive em artigos publicados a partir de rebanhos também participantes do PMGRN. Na realidade, esta elevada idade ao primeiro parto (IPP) já era esperada e pode ser atribuída, principalmente, à falha alimentar em determinadas épocas do ano, visto que a maioria dos trabalhos no Brasil foi realizada em regiões de clima mais ameno, com maior regularidade pluviométrica, ou em rebanhos em que os proprietários já estão conscientes da necessidade de solucionar os problemas estacionais com suplementação alimentar nas épocas mais críticas.

Sabe-se que a IPP depende em grande parte de fatores ambientais, principalmente no que se refere à nutrição e ao manejo reprodutivo adotados na propriedade. Em relação ao primeiro ponto – a nutrição, deve-se salientar que um dos principais motivos para o aparecimento tardio da puberdade nos rebanhos zebuínos no Brasil é a sazonalidade da produção de forragens, associada à ausência de suplementação alimentar na primeira estação seca após o desmame, quando a fêmea ainda está em crescimento. Este fator deve ser observado com maior cuidado ainda em se tratando de rebanhos das regiões Norte e Nordeste do Brasil, devido às peculiaridades edafoclimáticas das mesmas, que em âmbito mundial são responsabilizadas por deficiências nutricionais não apenas em animais, mas também na população humana.

No que se refere ao manejo reprodutivo nestas regiões, uma importante observação deve ser feita no que diz respeito à opção, por parte dos criadores, da época de início da vida reprodutiva das novilhas considerando apenas o peso ideal, em detrimento da idade, o que pode contribuir para que a média de IPP continue alta. No caso dos rebanhos estudados, explorados em regiões onde a escassez de alimentos é realidade em determinadas épocas do ano, a idade da fêmea também deve ser avaliada para o remanejamento das novilhas do rebanho de recria para o de reprodução.

Neste contexto, é importante ressaltar que a IPP é reflexo da idade à puberdade e como tal, está relacionada à velocidade de crescimento da fêmea. Logo, é de relevância observar que, em condições de criação extensiva, como no caso dos rebanhos avaliados neste trabalho, o desmame das crias pode ocorrer em épocas de escassez de alimento, ocasionando perda de peso e retardo no crescimento dos animais, não porque os mesmos sejam geneticamente inferiores, mas em decorrência da deficiência alimentar. Associado a isto, a novilha ainda sofrerá outro período de restrição alimentar, na fase de recria, antes de entrar em reprodução, o que acarretará, em última instância, retardo no seu desenvolvimento reprodutivo. Deve-se considerar então que a vida da fêmea, futura matriz, inevitavelmente está sujeita a períodos críticos, em que as influências ambientais, ou influências não genéticas aditivas, se não controladas ou amenizadas, podem interferir na expressão da IPP, ocasionando estimativas de herdabilidade baixas a moderadas.

Assim, pode-se inferir que a redução da expressão da IPP na raça Nelore em rebanhos do Norte e Nordeste do Brasil, através da seleção, traria benefícios econômicos de forma mais gradual, quando comparado às alterações de manejo, porém com tendência a ser mais duradoura, se proporcionado um manejo mínimo adequado para fêmeas de recria. Desta forma, os ciclos reprodutivos se iniciariam mais cedo, acarretando maior longevidade em decorrência da precocidade e, como conseqüência, cada fêmea teria um maior número de ciclos produtivos ao longo de sua vida, o que permitiria um maior retorno do valor investido em manutenção no rebanho de recria.

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