A gutação é um fenômeno comum em muitas espécies de plantas. O processo ocorre à noite, quando a umidade do solo é alta. Insetos como abelhas ou parasitoides bebem dessas pequenas gotas. Por muito tempo foram consideradas apenas uma fonte de água para os insetos.
Entretanto, pesquisadores da Universidade de Valência (UV), do Instituto Valenciano de Pesquisa Agrícola (IVIA) e da Universidade Rutgers (RU) publicou um artigo demonstrando que a gutação, é uma fonte rica em nutrientes. Trata-se de alimento para insetos benéficos (polinizadores ou agentes de controle biológico de pragas). O estudo foi publicado na revista Proceedings of the Royal Society B (https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rspb.2020.1080)
O estudo mostra evidências de que a gutação de plantas é rica em carboidratos, mas também contém proteínas que podem ser essenciais para muitos espécies de insetos. Insetos de três famílias distintas e estilos de vida alimentares (um herbívoro, uma vespa parasita e um predador) aumentaram sua sobrevivência e capacidade reprodutiva quando se alimentaram de gotículas de gutação durante toda a vida adulta.
O estudo tem implicações agronômicas importantes porque foi constatado que as plantas com gotículas de gutação dobraram a abundância de insetos benéficos, como vespas parasitas e predadores, que atuam no controle biológico de pragas. A gutação é um processo frequente em plantas como arroz, trigo, cevada, centeio, aveia, sorgo, milho, fumo, tomate, morango e pepino, entre outros.
A gutação pode se manifestar durante todo o ciclo da planta. Esse fato pode ser crucial para a conservação de insetos benéficos como vespas parasitas, predadores e polinizadores, pois eles podem encontrar e se alimentar de gotículas de gutação quando o pólen ou o néctar das flores são escassos. No geral, os dados apresentados no artigo fornecem a primeira evidência de que a gutação de plantas é uma característica importante, mas pouco explorada em plantas, com profundas implicações em suas interações com insetos em ecossistemas manejados e naturais. Está aberto um novo campo de pesquisa para melhorar serviços ecossistêmicos, como a polinização ou o controle biológico de pragas.
Décio Luiz Gazzoni é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.
