CI

OS 25 ANOS DO CONFISCO DA SOJA


Argemiro Luís Brum

Neste dia 31 de março o meio rural brasileiro, em geral, e o gaúcho em particular, comemoram 25 anos de um movimento que mexeu com as estruturas políticas e econômicas do país, então dominado por um regime político ditatorial desde 1964.

Um movimento ordenado e firme, organizado pelos produtores rurais, através de suas instituições representativas, contra a ação do governo brasileiro da época, capitaneado pelo Ministério do Planejamento do então ministro Antônio Delfim Netto. O mesmo decidiu impor, sobre o preço da soja exportada, uma tarifa aduaneira de 30%. Este mecanismo de comércio internacional, que visava impedir que grande parte da soja fosse exportada, em função dos preços externos estarem muito melhores do que os preços internos, rapidamente foi batizado de “confisco da soja”.

Na prática, o Brasil começava a viver os primeiros momentos de uma tensão inflacionária que iria desembocar, mais tarde, na hiperinflação do final dos anos de 1980 e início da década de 1990. Para segurar os preços internos do óleo de soja e do farelo, principais subprodutos da soja após a moagem, o governo passou a frear a exportação via o confisco. Ou seja, 30% do preço externo do produto passava a ficar com o governo, inviabilizando sua venda para o exterior.

A revolta dos produtores de soja foi imediata em grande parte do Brasil, sendo Ijuí (RS) um dos locais em que o movimento se mostrou mais forte. Naquela época, em pleno regime ditatorial militar, os produtores ocuparam as principais cidades com suas máquinas e implementos, durante todo o dia, queimando bonecos com a caricatura do ministro acima referido, fazendo roncar os motores das máquinas e realizando um “buzinaço” ao meio-dia daquele dia. O ministro em questão chegou mesmo a ser batizado de “lagartão da soja”, em alusão à lagarta que come a soja e, portanto, os ganhos dos produtores.

O resultado deste movimento foi a retirada do confisco em três dias. Mesmo que o governo o tenha substituído pelo mecanismo do contingenciamento (frear a exportação da soja limitando o volume vendido ao exterior), o que igualmente não era interessante, a repercussão de tal movimento social acabou sendo de longo prazo, se constituindo numa vitória incontestável. Na esteira do mesmo, o meio rural alimentou outras manifestações na década de 1980, dentre elas o famoso Grito do Campo, em outubro de 1984, quando os produtores gaúchos lotaram o estádio Beira-Rio para clamar por uma real política agrícola, diante do então candidato à presidência da República, Sr. Tancredo Neves.

Dentre os méritos de tudo isto, além de propiciar vitórias diretas em relação aos interesses econômicos da classe rural, destaca-se o fato de o movimento ter auxiliado fortemente na redemocratização do país, iniciada em março de 1985.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.