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Precisamos de uma Política de Estado para a Aviação Agrícola brasileira


Jeferson Luís Rezende
Preocupação recorrente de todos que labutam no meio agrícola, o uso de adequada Tecnologia de Aplicação tem sido motivo de discussão e até discórdia em alguns casos, por conta da necessidade do “acerto” no alvo.

Se no passado pouco, ou quase nenhuma atenção era dispensada para esta etapa do manejo no campo, hoje, boa parte dos profissionais está preocupada em adequar e usar a melhor técnica disponível.

Se não é possível usar a mesma receita para todos os tratamentos e culturas, já se sabe que é possível usar diferentes tecnologias: aéreas e terrestres para as diferentes aplicações.

Nos ensaios que participamos relacionados a Volumes de Vazões nas culturas de Soja, Milho e Batata, por exemplo, e, acompanhando lavouras comerciais, ficam evidentes que os Baixos Volumes são tão eficientes quanto os tradicionais; reafirmando a nossa ideia de que não é necessário desperdiçar água e tempo durante o tratamento.

Preconizamos Volumes menores: próximo dos 15 litros por hectare, porque acreditamos que estes volumes contemplam segurança operacional com eficiência técnica: reduzem o consumo de combustível - ampliam o rendimento operacional; possibilitam que o tratamento ocorra nas melhoras horas e momentos; e, melhoram o padrão de qualidade das gotas pulverizadas, dentre outros benefícios.

Em algumas regiões do Paraná mesmo, já existem Operadores Aeroagrícolas na Soja aplicando com V.V de 6 l/ha e até 12 l/ha, com eficiência.

Obviamente que para trabalhar com Vazões mais baixas, são necessários alguns cuidados: as aeronaves e os equipamentos devem estar devidamente ajustados (e revisados), e, o Piloto bem treinado, a fim de que a tratamento tenha o sucesso esperado. Detalhes estes possíveis de serem efetivados, já que são questões inexoráveis para um manejo moderno eficiente.

Para atingir as partes mais baixas das plantas: o baixeiro, por exemplo, precisamos produzir gotas com espectro adequados e uniformes. Gotas de até 250 um, no máximo. E isso só é possível quando trabalhamos com uma menor Vazão.

De qualquer modo, é imprescindível que o produtor discuta com o seu técnico, e com o Operador, e, encontre a solução apropriada para as suas necessidades e realidade.

Qualquer avanço possível neste sentido, sempre será um ganho importante para a rentabilidade da lavoura e, na outra ponta, do aplicador aéreo.

Não obstante a estas constatações técnicas, é oportuno ressaltar e lembrar que, infelizmente, no Brasil não temos uma “política de estado” adequada e eficiente para tratar dos assuntos relacionados à Aviação Agrícola.

Isso mesmo: nenhuma! Nem na ANAC, nem no MAPA. Deposita-se agora alguma esperança na nova Secretaria de Aviação Civil – SAC, que está chegando para solucionar os grandes e distintos gargalos de toda a aviação civil.

Todas estas questões técnicas pontuadas anteriormente são fruto do trabalho e empenho de alguns poucos obstinados, que desenvolvem experimentos independentes, a fim de oportunizar para o setor de agronegócios uma ferramenta de trabalho e apoio na medida exata. Não se tem de fato, tão pouco de direito, a “mão” do Estado incentivando, fomentando, financiando e viabilizando ações nesta área.

Ao contrário, o que mais se vê são entraves burocráticos homéricos, dificuldades de toda ordem para manter uma aeronave ou uma empresa aeroagrícola. Na contramão, por exemplo, do que acontece com o segmento terrestre, que recebe incentivos econômicos e outras facilidades para sobreviver e avançar no mercado.

Fazemos esta mistura de conteúdo: técnico e legislativo de maneira proposital, para que todos que estão lendo, compreendam, e/ou relembrem da importância econômica que a atividade aeroagrícola possui e, da necessidade de as Autoridades constituídas deixarem de lado o discurso barato de que estão trabalhando em prol de alguma coisa, para efetivamente realizarem algo em prol da aviação.

Enquanto observamos nos EUA a existência de Centros Técnicos de Formação e de Reciclagem de Mão de Obras para a Aviação Agrícola, como o da Universidade de Louisiana; não vemos avançar o velho Projeto do “Centro Nacional de Excelência em Aviação Agrícola”, criado pelo MAPA há alguns anos, envolvendo três Universidades: a ESALQ/Piracicaba, a UNESP/Botucatu e, a UNICENTRO/Guarapuava.

Como pode um País eminentemente agrícola como o nosso, que está prestes de se transformar no principal fornecedor de alimentos para o mundo, tratar uma atividade tão eminente, valorosa e imprescindível, como é a AVIAÇÃO AGRÍCOLA com o desdém que o faz.

Defendemos uma Política de Estado Aeroagrícola que contemple o setor com: facilidades burocráticas, redução de custos operacionais; e, com uma efetiva campanha desenvolvimentista descentralizada, que viabilize a retomada de Pesquisas e de Ensaios Tecnológicos pelas Universidades e, por Instituições de Pesquisas Públicas e Privadas, como a própria Embrapa – que pertence ao Governo, mas pouco ou quase nada tem feito neste segmento.

Se for obrigatório para a aviação possuir locais de descontaminação de equipamentos, entre outras exigências, deve ser também para o tratorizado. Se forem necessárias todas as exigências burocráticas por parte da ANAC e do MAPA, para ser proprietário de uma aeronave, ou de uma empresa aeroagrícola, deve ser para o dono de um trator, de um autopropelido, ou de uma empresa prestadora de serviços terrestres também. Hoje você adquire uma máquina terrestre e, pode montar uma empresa de serviços sem nenhum tipo de exigência afim. As Leis e os Regulamentos precisam e devem ser semelhantes, ou do contrário, estamos criando exceções e benefícios pontuais para um único setor, ou atividade.

É o caso de se rever alguns dos muitos e distorcidos Regulamentos Aeronáuticos pertinentes a Aviação Agrícola, como forma de desonerar a burocracia e facilitar o uso dos aviões pelo campo. Atualmente ser dono de avião é um martírio, sem dúvida alguma. O proprietário passa boa parte do ano se preocupando com papeis, inspeções...taxas...taxas...e, por ai vai.

Não estamos aqui pregando a baderna, ou a anarquia; mas, sim a equalização de duas atividades que atuam no mesmo mercado, como concorrentes, porém em condições desiguais. E isso é possível na medida em que as Autoridades “cobrem” a responsabilidade civil e criminal dos proprietários/operadores das aeronaves, ou seja: quem fizer errado, ou usar de má fé, comprometendo a segurança ambiental ou humana, será responsabilizado. Para que isso aconteça não são necessárias tantas exigências pontuais, tanta burocracia e gargalos.

Lembramos que com o advento dos tratamentos fúngicos na cultura do Milho, que deverão se tornar cada vez mais comuns e, em maior número, terá a aviação agrícola um papel ainda maior e de destaque no cenário agrícola nacional.

E, para que esta nobre atividade possa crescer na medida do necessário, atendendo as demandas do campo, precisaremos de Centros de Desenvolvimento Tecnológicos específicos, que poderão também contribuir para a formação e reciclagem de Pilotos e Agrônomos. Precisamos de linhas de financiamentos acessíveis. De recursos econômicos para Pesquisas. Precisaremos de uma POLÍTICA DE ESTADO PARA A AVIAÇÃO AGRÍCOLA BRASILEIRA.

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