Muitas áreas de cerrado tem sido exploradas de forma extensiva, com base predominante de grandes propriedades utilizadas para a produção de grãos, sendo a soja considerada por muitos como a vilã dos cerrados. Ao contrário, a soja é uma leguminosa fixadora do Nitrogênio atmosférico, enriquecendo o teor deste nutriente no solo, além de produzir restos culturais que são importantes para manter a cobertura morta sobre o solo, protegendo contra as intempéries, e com degradação destes restos culturais há aumento de teor de matéria orgânica. A afirmação de que uma cultura agrícola deve ser considerada como causadora de malefícios não é correta. As pessoas devem obrigatoriamente visitar uma área produtora e conversar com os agricultores para obter alguns esclarecimentos, muitas vezes ignoradas por quem tem um posicionamento radical. Primeiro, deixando a soja de lado e observando qual a outra utilização da área, pode se observar que são plantadas principalmente as seguintes culturas: arroz, algodão, milho e cana-de-açúcar, esta última sabidamente grande extratora de nutrientes dos solos. O que isso significa? Se parássemos para pensar, deixando de lado a tendenciosidade, chegamos a conclusão lógica de que a soja não pode ser a única culpada pelos danos causados aos ecossistemas, mas sim todas as culturas utilizadas em alternância de cultivo, quando mal conduzidas pelos agricultores. Ficaria bem mais fácil se o Brasil parasse de plantar arroz, algodão, milho, cana-de-açúcar, soja e outras culturas para evitar danos ao meio ambiente e importasse o fubá, a canjica, o açúcar, os tecidos de algodão, o óleo comestível, as rações para animais, etc., ou seja toda a sua demanda interna. Consequentemente, com esta ação o Brasil estará mandando divisas e criando empregos em outros países, ficando totalmente dependente dos outros países produtores, este raciocínio normalmente é esquecido por grande parte das pessoas, devendo ser questionado e não apenas ser aceito. Deste modo deve-se parar e tentar entender o problema real em detrimento do que vem sido massivamente apresentado, no que se refere ao tamanho das áreas mecanizadas para a instalação dos plantios e à fiscalização realizada de maneira efetiva por parte dos órgãos competentes, a determinação da porcentagem da área que deverá ser mantida para conservação, e a adoção de políticas agrícolas adequadas e consistentes quanto ao uso da terra para cada ecossistema. Quando todas as regiões do país atingirem esta maturidade, nenhuma cultura agrícola apresentará danos aos ecossistemas.
As controvérsias tem sido até hoje causadas pela inexistência de uma política agrícola apropriada para cada ecossistema, de mecanismos de controle do uso da terra, que não estão atingindo os níveis adequados, e principalmente da falta da consciência da necessidade de manejo adequado do solo e das culturas por parte dos agricultores, e não exclusivamente por parte da cultura da soja como se tem observado em muitos artigos.
Gilberto Ken-Iti Yokomizo
Pesquisador Embrapa Amapá
Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas