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Dia Mundial do Leite: os desafios da cadeia

Brasil é o quarto maior produtor mundial mas setor vive de preços baixos e crises



Foto: Marcel Oliveira

1º de junho é o Dia Mundial do Leite. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) instituiu a data, em 2001, para incentivar o consumo do alimento em mais 85 países que comemoram a ocasião. “É importante oportunidade de valorizarmos o leite, o trabalho dos produtores e da indústria, e de levarmos informações ao consumidor, promovendo cada vez mais o consumo.”  - Rodrigo Alvim, vice-presidente do Sistema FAEMG.

O leite está presente na vida do brasileiro. O Brasil ocupa a 65ª posição no consumo mundial de produtos lácteos, com uma média anual de 169 litros por pessoa, valor abaixo do ideal estabelecido pelas Nações Unidas, que é de 200 a 220 litros por ano. É o quarto maior produtor mundial, com 34 bilhões de litros, sendo Minas Gerais, o maior produtor nacional.

PRODUÇÃO NO MUNDO (em bilhões de litros)

* (Dados FAO e USDA - 2019)

 1º lugar - EUA  - 91,3

2º lugar - Índia – 60,6

3º lugar - China – 35,7

4º lugar - Brasil – 34,3

 

 PRODUÇÃO NO BRASIL (Mil Litros)

 1º lugar - Minas Gerais (26,4%) – 8.939.159

2º lugar - Paraná (12,5%) – 4.375.422

3º lugar - Rio Grande do Sul (12,5%) – 4.242.293

4º lugar - Goiás (9,1%) – 3.084.080

5º lugar - Santa Catarina (8,8%) – 2.970.654

A história

O leite de origem animal começou a ser consumido pelos humanos há 11 mil anos, com a domesticação da vaca, no Oriente Médio. Até pouco tempo, o consumo era apenas fresco, devido às dificuldades de conservação. Com novas tecnologias, surgiram os derivados, como a manteiga e o queijo, e a produção de lácteos se diversificou. No entanto, somente após a descoberta da pasteurização, em 1864, o processamento do leite ficou mais higiênico, a conservação mais fácil e o consumo foi intensificado. Hoje, a produção de leite no mundo ultrapassa 513 bilhões de litros por ano. 

A bebida está na história do Brasil. Entre os anos de 1898 a 1902, os governadores de São Paulo e Minas Gerais faziam a “Política do café com leite”, impedindo que o principal cargo do Poder Executivo fosse ocupado por representante dos interesses de outros estados. São Paulo (produtor de café) e Minas Gerais (produtor de leite) eram os estados mais ricos e populosos no Brasil da República Velha.

Made in Minas Gerais

O leite e seus derivados são os principais fornecedores de cálcio, nutriente essencial para a formação dos ossos. Além de conter proteínas, carboidratos, sais minerais e vitaminas (A, B1, B12), o leite é um dos alimentos de origem animal com menos colesterol. Os tipos de leite mais comuns são: integral, semidesnatados, desnatado, enriquecido (com ferro e vitaminas) e sem lactose.
 
É do estado de Minas Gerais que vem a maior produção. No ano passado foram 8,9 bilhões de litros de leite.  O valor bruto da atividade (VBP) no estado ultrapassou R$ 9,5 bilhões. Uma das mais importantes e tradicionais cadeias do agro mineiro, a pecuária de leite está presente em todas as regiões de Minas. São mais de 3 milhões de vacas ordenhadas, em 225 mil propriedades rurais mineiras. 

PRODUÇÃO EM MINAS (Mil Litros)

 1º lugar - Sul de Minas – 1.580.017 (17,7%)

2º lugar - Alto Paranaíba –1.535.858 (17,2%)

3º lugar - Central Mineira – 1.280.617 (14,3%)

4º lugar - Centro Oeste – 1.055.506 (11,8%)

5º lugar - Triângulo – 777.208 (8,7%)

Maiores produtores de leite em Minas:

1º Patos de Minas

2º Patrocínio

3º Coromandel

4º Pompéu

5º Prata

A produtividade média do estado é de 2.840 litros por animal ao ano (ou 9,3 litros/vaca/dia). Esse indicador é um dos que mais tem avançado ao longo dos anos, revelando o investimento dos pecuaristas em melhoramento genético, nutrição animal e cuidados diversos com o rebanho.

As dificuldades

Com a pandemia os produtores passaram a enfrentar mais dificuldades. Com alto custo de produção e preço do leite em baixa, as mudanças de cenário têm sido diárias e os pecuaristas têm se esforçado para superar os obstáculos.
 
O analista de agronegócios do Sistema FAEMG, Wallisson Lara, lembra que, para os produtores, os primeiros dias da pandemia foram de muitas dificuldades no escoamento da produção (inclusive com estradas fechadas e descarte do leite); ao mesmo tempo em que os consumidores corriam às compras. Crescia a demanda, especialmente, por derivados lácteos de mais longa validade, como o leite em pó e o UHT, que rapidamente registraram preços mais altos no varejo. “E pouco, ou nenhum, acréscimo ao produtor”, lembra. “O mercado logo mostrou que o movimento foi um ‘voo de galinha’ e o consumo declinou. Não sabemos os efeitos que a crise vai gerar no setor leiteiro, e temos tido dificuldades no planejamento de custos e investimentos, por exemplo, pois as informações e o cenário mudam a cada instante.”
 
O fechamento do setor foodservice (bares, restaurantes e lanchonetes) ainda dificulta a comercialização da produção para alguns segmentos, como o de queijos. Associações de queijeiros artesanais têm, inclusive, pleiteado tarifas especiais para o envio, pelos correios, dos produtos vendidos on-line.
 
“Para completar, o cenário da pecuária leiteira hoje é de elevados custos de produção. A relação de troca (valor do leite produzido x custo com alimentação do rebanho) é bastante desfavorável ao produtor. Em abril, foram necessários 47,6 litros de leite para a aquisição de 60 kg de mistura (ração). Para se ter uma ideia, no mesmo mês de 2019, essa relação ficava em 32,7 litros”, diz Wallisson Lara.

Recentemente o  “Desafio do leite”, mobilizou as redes sociais com o objetivo de incentivar os pequenos produtores com o maior consumo de leite e derivados. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o presidente, Jair Bolsonaro, foram algumas das lideranças que beberam um copo de leite, evidenciando a importância da cadeia leiteira em tempos de Covid-19.

Tecnologia para melhorar

Já mostramos em uma reportagem que o USDA desenhou a vaca do futuro: animais menores, que produz grande quantidade de leite a pasto e emitindo menos gases. Você revê este vídeo no final da reportagem.

Outros fatores também estão envolvidos para melhorar a atividade leiteira. Uma delas é o melhoramento genético e cruzamentos entre raças que elevam o potencial produtivo. Aliado a isso nutrição de qualidade e manejos de bem-estar animal com instalações corretas. A pecuária de precisão já é uma realidade.

Pesquisas da Embrapa Gado de Leite apontam que um dos desafios da moderna gestão é manter a individualidade de cada animal. Já existem softwares e aplicativos que permitem fazer a coleta, armazenar e analisar dados como taxa de prenhez, cio, dados sobre o bezerro, produtividade, entre outros. Além disso a pesquisa e programas de melhoramento da Embrapa Gado de Leite, vem auxiliando nos ganhos. Um projeto com girolando, por exemplo, mostrou aumento de 60% na produção e o melhoramento com gir, um aumento de 52% na produção e 69% de diminuição na emissão de gases. “Com a nova ferramenta de avaliação genômica é usado o DNA de cada animal, o que faz com que a seleção seja mais rápida e efetiva”, destaca o pesquisador Marcos Vinícius Barbosa.

Em Minas Gerais o Senar faz a gestão do programa Balde Cheio. A missão é alcançar maior produtividade e redução de custos. “Os técnicos orientam os produtores para o uso de técnicas e inovação de baixo ou nenhum custo, combinando e otimizando fatores produtivos que já têm em suas propriedades. Há casos em que o aumento da produção superou 1.000”, diz Rodrigo Alvim, vice-presidente do Sistema FAEMG.

A  Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais/Instituto de Laticínios Cândido Tostes (Epamig/ILCT), desenvolve pesquisas aplicadas para produtos lácteos, melhoria de processos e inovações para a indústria de laticínios. Segundo o coordenador, Júnio César de Paula, as empresas estão buscando o desenvolvimento de tecnologias, produtos e processos para atender uma população cada vez mais exigente e preocupada com a qualidade de vida. “As pesquisas envolvem o desenvolvimento de produtos lácteos probióticos e de bebidas funcionais como o “Refrigerante do bem”, uma bebida láctea carbonatada, adicionada com um corante bioativo (luteína) que possui atividade antioxidante e efeito positivo na saúde ocular”, explica.

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