Colheita, beneficiamento e armazenamento do sisal
Brasil é o maior produtor mundial da fibra, com uma produção anual de cerca de 140.000 toneladas.
Colheita
A primeira etapa do processo de colheita do sisal consiste no corte periódico de determinado número de folhas da planta, através de instrumentos adequados. No cultivo do sisal comum (A. sisalana), cujo ciclo varia entre 8 e 10 anos, o primeiro corte é realizado aproximadamente aos 36 meses após a data de plantio. Neste primeiro corte, podem ser colhidas de 50 a 60 folhas, das quais 30 a 40% são folhas curtas, impróprias para a cordoaria; nas colheitas subseqüentes, são retiradas cerca de 30 folhas. Para o sisal híbrido 11648, que tem ciclo de vida semelhante ao de A. sisalana, o primeiro corte é realizado aos 48 meses, podendo ser colhidas cerca de 110 folhas/planta; nas colheitas subseqüentes são retiradas aproximadamente 50 a 70 folhas/planta. Em condições normais de colheita recomenda-se, após o corte, deixar entre 7 a 9 folhas para o sisal comum (A.sisalana) e de 9 a 12 folhas para o híbrido 11648.
O transporte das folhas colhidas para o local de desfibramento deve ser realizado sempre na menor distância possível. Na região sisaleira do Nordeste brasileiro, esta operação é realizada, habitualmente, com auxílio de asnos e mulas, dispondo-se as folhas colhidas sobre cangalhas com cambitos (gancho tipo V, de madeira) em seu dorso. Um animal pode transportar em torno de 130 a 180kg.
Beneficiamento
O desfibramento consiste na eliminação da polpa das fibras mediante a raspagem mecânica da folha, através de rotores raspadores acionados por um motor diesel. A principal desfibradora dos campos de sisal do Nordeste brasileiro é a máquina denominada “motor de agave” ou “máquina Paraibana”, que tem baixa capacidade operacional. Esta máquina desfibra em torno de 150 a 200 kg de fibra seca em um turno de 10 horas de trabalho desperdiçando, em média, 20 a 30% da fibra; além disso, envolve um número elevado de pessoas para a sua operacionalização. A rusticidade da máquina exige grande esforço do operador (puxador) que poderá ser uma ou duas pessoas. Em operação normal desfibram-se, em média, 20 a 30 folhas por minuto, ou 1.200 a 1.800 folhas por hora. A fadiga, aliada à falta de segurança da máquina, expõe os operadores a constantes riscos de acidentes, o que constitui um dos principais problemas da máquina e da operação propriamente dita.
Atualmente, várias ações estão sendo realizadas com o apoio da iniciativa privada e governamental, para melhorar o desempenho da “máquina paraibana” e no desenvolvimento de novos protótipos com maior produtividade operacional.
As pessoas envolvidas no desfibramento com a máquina paraibana são:
Cortador: colhe as folhas das plantas, cortando-as com um instrumento apropriado denominado foice; o número de pessoas envolvidas nesta atividade pode variar de uma a três;
Enfeixador: amarra as folha em forma de feixes que serão transportados até a máquina de desfibramento;
Cambiteiro: recolhe os feixes e os transporta até a máquina, no dorso de asininos ou muares;
Puxador: é o responsável pela operacionalização da máquina; esta atividade envolve uma ou duas pessoas, dependendo da região produtora;
Fibreiro: responsável pelo abastecimento da máquina com as folhas e pela recepção das fibras, que são pesadas com umidade; esta atividade poderá ser realizada por uma ou duas pessoas;
Bagaceiro: retira da máquina os resíduos do desfibramento; esta atividade pode envolver uma ou duas pessoas;
Lavadeira: faz a lavagem, secagem e armazenamento da fibra.
Lavagem e Secagem da Fibra
Após o término da jornada diária do desfibramento, a fibra obtida é transportada para tanques com água, onde deverá permanecer imersa durante a noite (8 a 12 horas) para a sua limpeza, por meio do desprendimento dos resíduos da mucilagem péctica e da seiva clorofílica. Ao amanhecer, as fibras deverão ser levadas para a secagem, em estaleiros de arame de configuração triangular, permitindo ampla exposição da fibra ao sol e a livre circulação do ar pela parte inferior das mesmas. A exposição ao sol será durante o período de 8 a 10 horas.
Limpeza da Fibra
Após a secagem, as fibras são submetidas ao batimento ou penteamento em batedeiras, que são máquinas dotadas de um rotor com lâminas que removem o tecido parenquimatoso aderente aos feixes fibrosos, comumente denominado pó. Nesta operação são também removidas as fibras de pequeno comprimento, resultando em um produto limpo, brilhante, macio.
Seleção e Classificação da Fibra
Após o batimento, as fibras são selecionadas de acordo com os padrões de classificação vigentes no Brasil, segundo Portarias do Ministério de Agricultura e Abastecimento, tendo como base a classe (comprimento) e o tipo (qualidade) da fibra.
A fibra beneficiada de sisal é classificada, segundo a Portaria n°. 71, de 16 de março de 1993, quanto à classe em longa (comprimento acima de 0,90m), média (comprimento entre 0,71 e 0,90m) e curta (comprimento entre 0,60 e 0,70m), e quanto ao tipo em Tipo Superior, Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3, abaixo discriminados:
Tipo superior: Material constituído de fibras lavadas, secadas e bem batidas ou escovadas, de coloração creme-claro, em ótimo estado de maturação, com maciez, brilho e resistência bem acentuados, umidade máxima de 13,5%, bem soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, de substâncias pécticas, de entrançamentos e nós, fragmentos de folhas e cascas, e de quaisquer outros defeitos.
Tipo 1:Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de coloração creme-claro ou amarelada, em ótimo estado de maturação, com maciez, brilho e resistência normais, manchas com pequena variação em relação à cor, umidade máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, substâncias pécticas, entrançamentos e nós, fragmento de folhas e cascas, e de quaisquer outros defeitos.
Tipo 2: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de coloração amarelada ou pardacenta, com pequenas extensões esverdeadas, em bom estado de maturação, com brilho e resistência normais, ligeiramente ásperas, umidade máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, entrançamentos, nós e cascas.
Tipo 3: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de coloração amarelada, com parte de tonalidade esverdeada, pardacenta ou avermelhada, em bom estado de maturação, com brilho e resistência normais, ásperas, manchas com variação bem acentuadas em relação à cor, umidade máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, entrançamentos, nós e cascas.
A fibra bruta de sisal é classificada, segundo a Portaria n°. 211, de 21 de abril de 1975, em quatro classes: Extra longa – EL (comprimento acima de 1,10m), Longa – L (comprimento acima 0,90 até 1,10m), Média – M (comprimento acima de 0,70 até 0,90m) e Curta – C (comprimento de 0,60 até 0,70 m), e em dois tipos (A e B), abaixo discriminados:
TIPO A: Constituído de fibras com perfeito desfibramento, lavadas, brilho, natural, cor creme claro, uniforme, secas, com grau de umidade de 13,5%, com quantidades normais de fragmentos de polpa aderentes aos feixes fibrosos, rigorosamente selecionados quanto à classe e que, depois de submetidas ao processo de escovamento ou batimento, em condições normais (adequada armazenamento e tempo hábil), se enquadrem no Tipo Superior e/ou Tipo 1 das especificações aprovadas pela resolução do Concrex.
TIPO B: Constituído de fibras com perfeito desfibramento, brilho natural, cor creme-claro ou amarelada, secas, com grau de umidade que não exceda de 13,5%, com quantidades normais de fragmentos da polpa, aderentes aos feixes fibrosos, rigorosamente selecionadas quanto à classe e que, depois de submetidas ao processo de escovamento ou batimento, em condições normais (adequada armazenamento e tempo hábil), e enquadrem no Tipo 1 e/ou no Tipo 2 das especificações aprovadas pela resolução do Concrex.
Enfardamento
Depois de escovada e classificada, a fibra é acondicionada em fardos para o seu transporte até a indústria de fiação. Os fardos são preparados em prensas mecânicas ou hidráulicas, dotadas de caixões de dimensões médias de 150 x 50 x 70cm, podendo variar entre 200 e 250 kg. Na faixa de tecido, sobre o fardo, devem conter as seguintes informações, em caracteres perfeitamente legíveis: produto, safra, lote, número do fardo, nome da prensa, classe, tipo, peso bruto, local de prensagem, cidade, unidade federativa e data da prensagem.