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Produção de sementes de milho

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1. Introdução

Uma vez completada a fase vegetativa de uma planta, cujo período, em dias, pode variar bastante dentro de uma mesma cultivar, inicia-se a fase reprodutiva, cuja duração é praticamente constante. Essa é a razão de se ter épocas recomendadas de semeadura, em função de uma cultivar ser de maturidade precoce ou tardia. Quando iniciada a fase reprodutiva da planta, esta é irreversível e determina a perpetuação da espécie.

O desenvolvimento e a maturação das sementes são aspectos importantes a serem considerados na tecnologia de produção de sementes, pois entre os fatores que determinam a qualidade das sementes estão as condições de ambiente predominantes na fase de florescimento/frutificação e a colheita na época adequada. Portanto, o conhecimento, de como se processa a maturação das sementes e dos principais fatores envolvidos, é de fundamental importância para a orientação dos produtores de sementes, auxiliando no controle de qualidade, principalmente no que se refere ao planejamento e a definição da época ideal de colheita.

2. Cultivares de milho

As cultivares de milho podem ser subdivididas em dois tipos principais:

 I.    Híbridos:
 
Podem ser híbridos simples, triplos ou duplos. O híbrido simples é o resultado do cruzamento entre duas linhagens puras e é indicado para sistemas de produção que utilizam alta tecnologia, pois possui o maior potencial produtivo. São também os mais caros. O híbrido triplo é obtido a partir do cruzamento entre uma linha pura e um híbrido simples e é indicado para média a alta tecnologia, enquanto o híbrido duplo é o resultado do cruzamento entre dois híbridos simples, sendo indicado para média tecnologia (Figura 1).



Figura 1 - Esquema de obtenção de híbridos simples (A) e duplo (B)
 

Existem ainda no mercado os híbridos simples modificados (HSm) e os híbridos triplos modificados (HTm). Para obtenção de um HSm, é utilizado como progenitor feminino um híbrido entre duas linhagens irmãs e como progenitor masculino, uma outra linhagem não aparentada. No caso do HTm, o parental feminino é um híbrido simples e o parental masculino é um híbrido formado por duas linhagens afins.

Outros tipos de híbridos encontrados no mercado, mas em menor proporção, são os híbridos intervarietais (HIV), que são o resultado do cruzamento entre duas variedades, e os híbridos Top-crosses, que são produzidos pelo cruzamento de uma linhagem com uma variedade.
Os híbridos só têm alto vigor e produtividade na primeira geração (F1), sendo necessária a aquisição de sementes híbridas todos os anos. Se os grãos colhidos forem semeados, o que corresponde a uma segunda geração (F2), haverá redução, dependendo do tipo do híbrido, de 15 a 40% na produtividade, perda de vigor e grande variação entre plantas.

Em termos de produção de sementes de cada um dos híbridos, há algumas peculiaridades que merecem ser destacadas. Como a linha pura produz pouca semente (± 1,2 t/ha) a produção de milho híbrido simples é mais difícil, enquanto a obtenção de híbridos duplos é a mais fácil, pois na sua formação envolve híbrido simples os que potencialmente possuem as maiores produtividades. Sementes de milho híbrido simples custam mais por produzirem mais grãos em condições de alta tecnologia e por se obter menos sementes por área.

II.    Variedade:

Uma variedade de milho é um conjunto de plantas que apresentam certa variabilidade, mas com características genéticas comuns. Quando se considera a população, esse tipo de material é geneticamente estável e, por essa razão, com os devidos cuidados em sua multiplicação, as sementes podem ser reutilizadas por várias gerações em sucessivas safras, sem nenhuma perda de seu potencial produtivo.

As sementes das variedades melhoradas são de menor custo e de grande utilidade em regiões onde a utilização de milho híbrido torna-se inviável devido às condições econômico-sociais e de baixa tecnologia. As variedades são também muito importantes em sistemas de produção agroecológicos ou orgânicos. Embora estes sistemas de produção não restrinjam o uso de híbridos, a adoção de variedades permite ao produtor produzir sua própria semente a um preço bem menor e com menor utilização de recursos externos.
 
A maioria das empresas produz apenas híbridos, sendo que algumas produzem apenas híbridos triplos e simples. As variedades são produzidas principalmente por empresas públicas e por empresas licenciadas a partir de cultivares obtidas por programas públicos de pesquisa. Nos últimos anos, tem-se verificado um crescente aumento da disponibilidade de híbridos simples no mercado, sendo que desde a safra 2011/12 esse tipo de cultivar já representa mais de 60% das sementes disponíveis. Os híbridos triplos e simples somados representam 82,46% do mercado.
Várias informações são importantes para a produção de cada cultivar, especialmente àquelas referentes:

a) Semeadura

A razão de semeadura para produção de sementes vai depender da capacidade de polinização do macho. Entretanto, em geral, semeiam-se seis linhas da fêmea e duas do macho (Figura 2) . Isto significa, neste caso, que 25% da área não será utilizada para semente (referente a proporção do macho).
 


Figura 2 - Campo de produção de sementes de milho.
 

É essencial que haja sincronismo na maturação da flor feminina (boneca) com do macho (pendão) e para isso muitas vezes é necessário que um dos pais seja semeado mais tarde. Estima-se o tempo necessário em função dos graus dias necessários para florescer. Ainda sobre semeadura, deve-se marcar as linhas do macho com algum mecanismo (colocar junto semente de uma outra cultura) para que no momento do despendoamento saber em que linhas atuar.

b) Despendoamento

Atualmente utiliza-se despendoar (retirar o pendão) a fêmea para possibilitar a polinização cruzada e assim colher essas linhas para semente que serão F1 (Figura 3). O despendoamento é uma tarefa difícil que consiste em retirar o pendão antes que esteja liberando pólen sem danificar muito planta (quanto mais folhas saem junto com o pendão menos é a produção de sementes).
 


Figura 3 - Operação de despendoamento.
 

Como a emissão do pendão distribui-se no tempo é comum entrar-se na lavoura 3 a 4 vezes para o despendoamento. Costuma-se, para cada 4 pessoas que despendoam, ter uma para supervisionar. Estima-se que sejam necessárias 90 horas de trabalhos para despendoar um ha. Campos para produção de sementes que apresentarem mais de um por cento de seus pendões liberando pólen devem ser rejeitados.
O despendoamento é crítico e muitas vezes coincide com períodos chuvosos, requerendo do pessoal de campo muito boa vontade para trabalhar sob a chuva. Uma vez o pendão apontando entre as folhas, tem-se 48 horas para removê-lo.

c) Colheita

Começa-se pelas linhas do macho para minimizar os problemas de mistura. Algumas empresas cortam as linhas do macho assim que o período de polinização passou. Mesmo com todas precauções, é aconselhável realizar a seleção das espigas no momento da colheita. Em geral, há diferenças morfológicas entre as espigas do macho e da fêmea. Uma das razões para a  colheita das sementes em espiga é a possibilidade de realizar-se a seleção das mesmas. A outra é devido a qualidade fisiológica, pois as sementes de milho alcançam o ponto de maturidade fisiológica com 35% de umidade, percentual esse que praticamente impossibilita o degrane das sementes.

 

José Luis da Silva Nunes
Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia


Bibliografia consultada
PESKE, S.T.; ROSENTHAL, M.D.; ROTA, G.R.M. Sementes: Fundamentos científicos e tecnológicos. 3ª edição. Pelotas: Editora rua Pelotas, 2012. 573p.

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