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Milho: em sua essência, um alimento funcional

Milho: em sua essência, um alimento funcional

Pesquisas recentes sobre as potencialidades e os benefícios da utilização do milho na nutrição humana e sobre a aplicação dos seus derivados na indústria têm revelado um cenário onde o cereal deve ser considerado além de uma commoditie. Componentes funcionais que vêm sendo descobertos na composição do alimento, de grande importância para a dieta humana e capazes de atuar na prevenção de doenças cardiovasculares e degenerativas, como alguns tipos de câncer, começaram a ser identificados nos últimos cinco anos e pesquisadores estão empenhados na realização desses estudos.


Uma equipe composta pela cientista de alimentos Maria Cristina Dias Paes (foto), da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), tem se dedicado à identificação de carotenóides ligados à prevenção de doenças degenerativas da visão e ao combate a diversos tipos de câncer. Os carotenóides são essenciais para a prevenção de doenças degenerativas, além de estimularem o sistema imunológico e agirem como antioxidantes. “Os componentes funcionais do milho devem ser quantificados não apenas nas fontes de cruzamento, na fase de desenvolvimento da pesquisa, mas principalmente nos materiais comerciais já disponíveis no Brasil”, antecipa Maria Cristina.

Um exemplo que mostra o estágio do desenvolvimento das pesquisas foi a descoberta há dois anos do alto teor de óleo que o híbrido simples BRS 1001 possui. Lançado em 2002 pela Embrapa Milho e Sorgo, pesquisadores iniciaram avaliações da composição química em cultivares disponíveis no mercado e identificaram que o BRS 1001 possui 5,1% de óleo, sendo que a média é de 4%. O óleo de milho, segundo Maria Cristina, possui em sua composição ácidos graxos que atuam no combate ao colesterol sangüíneo elevado e na prevenção de doenças cardiovasculares.

Outro importante aspecto dos lipídeos no milho está relacionado à presença de tocoferóis, compostos biológicos que compõem o grupo da vitamina E, conhecida por suas propriedades antioxidantes. Além da maior concentração de óleo nos grãos do híbrido BRS 1001, a cultivar também se destaca pela composição de carotenóides totais, superior à média das principais cultivares de milho comercializadas pela Embrapa. Uma cultivar que ainda está em fase de desenvolvimento é mais promissora. “Este material que está sendo estudado apresentou teores oito vezes superiores de carotenóides pró-vitamina A”, revela Cristina. Segundo ela, este milho, que deve estar disponível no mercado dentro de cinco anos, provavelmente auxiliará nos programas de combate à deficiência de vitamina A, principal causa da cegueira em crianças no Brasil.

Mais benefícios à saúde

As cultivares destinadas a programas de melhoramento genético com concentrações superiores de pró-vitamina A possuem em geral duas vezes mais carotenóides do que a média nas cultivares amarelas comuns de milho. De acordo com a cientista de alimentos, estes materiais também são fontes de xantofilas – como a zeaxantina e a luteína, carotenóides presentes em maior concentração na região macular da retina, daí sua importância na prevenção da cegueira, além de serem considerados na literatura como importantes fatores de controle aos riscos de desenvolvimento de câncer e doenças cardiovasculares devido às suas atividades antioxidantes.


Outra linha de pesquisa que está sendo desenvolvida pela equipe de pesquisadores é a busca de cultivares com melhor teor e disponibilidade dos minerais ferro e zinco, ligados ao tratamento de doenças nutricionais. Segundo Maria Cristina, as propriedades funcionais do milho são reforçadas também pela presença de fitoquímicos com ação antioxidante, sendo os mais abundantes o ácido fenólico, o ácido ferúlico e os flavonóides. “O ácido ferúlico, que representa 3,1% do peso seco do farelo de milho, possui alta atividade antioxidante, estando associado à redução dos danos em células neuronais e à redução da lesão pré-cancerosa de câncer de cólon”, explica.

Ainda segundo ela, as fibras resultantes do processamento do milho por meio da moagem também possuem efeitos benéficos à saúde humana, já que influenciam no perfil das lipoproteínas – conjunto de proteínas e lipídeos que ajudam o transporte da gordura pelo plasma – e nos níveis de colesterol sanguíneo, conhecidos fatores de risco de doenças cardiovasculares. “Esses efeitos têm sido atribuídos pelo importante papel exercido pela fibra na redução do tempo de trânsito intestinal e pelos benefícios na própria flora intestinal, quanto à influência direta no metabolismo de ácidos biliares e na absorção de colesterol, triglicérides e outros lipídeos séricos no intestino”, explica Cristina.

Do campo às aplicações na indústria

Desconhecidas pela maior parte da população mundial, as possibilidades dos usos industriais a partir dos derivados do milho possuem alta importância tecnológica. “O milho não possui apenas aplicação alimentícia. Ao contrário, os usos dos seus derivados estendem-se às indústrias química, farmacêutica, de papéis, siderúrgica, têxtil, de embalagens, entre outras de aplicação ainda mais nobres”, afirma Maria Cristina. Ela explica que dois processos dão origem às matérias-primas utilizadas nos processos industriais: a moagem seca e a moagem úmida, sendo que nos Estados Unidos um terceiro processo é responsável pela geração do etanol combustível.

Segundo ela, usos nobres em diversas indústrias a partir de cultivares de milho estão direcionando novas demandas de pesquisa, como a identificação de milhos especiais que suportem a substituição de derivados de petróleo por biopolímeros na produção de embalagens biodegradáveis, das fibras da palha na fabricação de nanotubos e das proteínas como base de biofilmes e coberturas comestíveis. “Novos conceitos ‘tecnológicos’ de qualidade dos grãos de milho têm surgido, o que deve influenciar seu panorama de mercado. Esta nova conjuntura não mais permitirá a classificação do milho como sendo uma commoditie, dada a importância das suas aplicações e a existência de cultivares com propriedades distintas”, antecipa a cientista de alimentos.


Em relação ao custo destas cultivares com características consideradas especiais, Maria Cristina reforça que elas não podem ser comparadas ao milho comum. “São agregações de valor ao cereal que exigem um custo adicional no seu desenvolvimento. Dessa forma, precisam de um preço diferenciado no mercado”, defende. Em países da América do Norte e da Europa, por exemplo, cultivares biofortificadas representam ganhos de até quatro vezes para seus produtores. No Brasil, segundo a cientista, o Paraná já possui cultivos de milho específicos para a fabricação de salgadinhos extrusados e para as panquecas tradicionais da cozinha mexicana, as tortillas.

Abaixo, conheça alguns produtos derivados do milho ou que contêm seus componentes isolados ou transformados industrialmente:

Acetato de cálcio e magnésio
Adesivos (colas, pastas, mucilagens, gomas)
Álcoois etílico e butílico
Alimentos para bebê
Alimentos congelados
Alumínio
Amido e glucose (mais de 40 tipos)
Antibióticos (penicilina)
Asbestos para materiais de condicionamento térmico
Aspirina e outros medicamentos
Automóveis (volante, estofamento, cabeça do cilindro, pneus, acabamento de borrachas sintéticas)
Balas e confeitos
Batata chips
Baterias para veículos
Bebidas gasosas
Cafés e chás instantâneos
Carpetes, tapetes
Carreadores de cor em papéis, tecidos e tinta para impressão
Cereais matinais
Cerveja
Chiclete de goma
Coberturas em madeira, papel e metal
Combustível (etanol)
Copos e pratos de papel
Cosméticos
Couro acabado
Cremes de barbear
Dextrose (utilizada desde soluções intravenosas a coberturas para bolos)
Escurecedor de couro
Explosivos – fogos de artifício
Farinhas ou fubás de milho
Fibra de vidro
Filmes fotográficos
Fraldas descartáveis
Frutose seca e xaropes (usados em refrigerantes e misturas alimentícias)
Giz para quadro negro
Grits
Herbicida natural
Inseticidas
Iogurte
Ketchup
Lápis de cor e de cera
Licorice
Maioneses
Manteiga de amendoim
Manufatura de papéis
Margarinas
Molhos para saladas
Mostarda preparada
Óleo comestível
Pães e biscoitos
Papéis de parede
Papéis e papelões
Pasta de dentes
Pigmentos
Plásticos degradáveis
Polidor para sapatos
Pós para sobremesas
Produtos de chocolates
Produtos farmacêuticos
Produtos maltados
Queijos ou requeijões cremosos
Ração animal e alimentos para animais de estimação
Refrigerantes
Suplementos para alimentação animal (vitaminas e aminoácidos)
Salgadinhos tipo chips, tortillas e outros
Tecidos e gomas
Tinta látex
Tinta para máquinas de etiquetas de preço
Vegetais enlatados
Whisky
Xaropes
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